A restrição à presença de jornalistas no plenário da Câmara voltou à pauta. Após a invasão do plenário por manifestantes, durante a primeira votação do novo rito de apreciação de vetos presidenciais, pelo Congresso Nacional, requentados argumentos de líderes reapareceram na tentativa de cercear o trabalho dos repórteres.
Ansiosos por abrandar as insatisfações populares, intensificadas pela precariedade dos serviços públicos e pelos rumos da política e da economia, alguns líderes atacaram a imprensa.
Querem, no fundo, esconder malfeitos. É o surrado hábito de escolher uma vítima, deixando-a ao relento, como faziam os antigos sacerdotes quando caçavam um animal que encarnaria os pecados da humanidade, o imolado “bode expiatório”. Exemplos não faltam para compor a extensa ladainha dos alvos errados!
Notável, por exemplo, é o caso recente do jornalista britânico Glenn Greenwald, do jornal The Guardian. Desde 5 de junho, o repórter tem publicado uma série de informações sobre ações de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), a partir de documentos vazados pelo ex-funcionário da Agência de Inteligência Norte-Americana (CIA), Edward Snowden, exilado na Rússia.
Com base em rasa justificativa, o brasileiro David Miranda, companheiro de Greenwald, ficou detido por aproximadamente nove horas no aeroporto Heathrow, em Londres. Equipamentos eletrônicos foram confiscados quando Miranda tentava embarcar de volta ao Rio de Janeiro.
Na tentativa de explicar o injustificável, as autoridades britânicas se apoiaram na lei de combate ao terrorismo. A ação da Scotland Yard teve como alvo o trabalho da imprensa.
Tudo que incomoda, como resultado da visibilidade dada pela mídia, provoca reação. Nesse contexto, não raro, a apuração responsável dos fatos pelos repórteres tropeça em barreiras intransponíveis. Sempre que a mídia expõe os malfeitos de pessoas ou grupos, se torna alvo da crítica, da ira e até da violência.
Uma das líderes do anarquista Black Blocs atacou a Revista Veja por ter desnudado as táticas empregadas pelo bando nos protestos. De novo, o alvo errado. Nos vizinhos latino-americanos, governantes que não suportam a crítica amordaçam, impiedosamente, os meios de comunicação, principalmente na Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina.
Não seria surpresa, portanto, se o sanguinário ditador sírio Bashar Al-Assad atribuísse à imprensa a responsabilidade pelas fotos chocantes do massacre de civis, vítimas de suas armas químicas. Em vez de assumir os próprios erros, dando novo rumo aos fatos, preferem mirar e atacar o alvo errado.
Nosso Parlamento continua surdo às vozes estridentes das ruas. Em vez de atitudes propositivas e protagonismo na adoção de boas e saudáveis práticas legislativas, alguns líderes erram o alvo, transferindo à mídia uma culpa que é deles.
A invasão do plenário da Câmara recomenda a adoção de medidas que preservem a segurança e a integridade institucionais do Legislativo, sem, entretanto, cercear o trabalho da mídia. O livre acesso à informação é direito da sociedade.
“A Constituição é a nossa Bíblia e a liberdade de expressão, a nossa fé”, traduziu, sabiamente, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Britto.
Não é culpando a imprensa ou restringindo o acesso dos repórteres na cobertura dos “badernaços” que encontraremos soluções para nossas mazelas.
27 de agosto de 2013
Ana Amélia, 68, jornalista, Senadora pelo PP-RS e presidente da Fundação Milton Campos.
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