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Embora exista mérito em se preocupar com os psicopatas corporativos, há muito mais mérito em se preocupar com os psicopatas políticos, mesmo porque, o que são os políticos modernos senão charmosos manipuladores com uma mente calculista?
Em novembro de 2010, o periódico The Economist publicou um artigo sobre psicopatia. Nele, está sugerido indiretamente que, se existem psicopatas amontoados aos montes nas prisões, pode ser que eles também estejam aos montes nas salas de reuniões corporativas. Isso quer dizer, no final das contas, que os psicopatas presos são os psicopatas estúpidos.
Os espertos, que por sua vez são muito mais perigosos, galgam os degraus do mundo corporativo. Segundo o artigo, “a combinação de uma conduta propensa a correr riscos aliada à falta de sentimento de culpa e vergonha (as duas principais características da psicopatia) pode levar, de acordo com as circunstâncias, ou a uma carreira criminosa ou a uma carreira corporativa”.
Em um breve paper escrito por Clive R. Boddy intitulado As implicações dos psicopatas corporativos nos negócios e na sociedade, o psicopata corporativo é definido como “aquele sujeito que trabalha nas corporações e é interesseiro, oportunista, egocêntrico, cruel e desavergonhado, mas que também pode ser charmoso, manipulador e ambicioso”. Boddy afirma que os psicopatas “podem, teoricamente, estar presentes nas organizações nos altos cargos gerenciais em número muito maior que a média de 1% – que é a quantidade estimada deles na sociedade”.
Nesse paper também é dito que “os psicopatas corporativos são atraídos às corporações por elas serem fonte de poder, prestígio e dinheiro”.
Contudo, esses sujeitos são “uma ameaça ao desempenho e à longevidade dos negócios, visto que eles colocam seus próprios interesses à frente dos interesses da firma”.
Em outras palavras, os psicopatas procuram situações onde seus respectivos comportamentos tirânicos e suas habilidades exploratórias serão toleradas ou até mesmo admiradas sem que de fato haja uma preocupação acerca do sucesso ou fracasso dessas atitudes perante uma negociação.
Em um livro intitulado Working with monsters (NT.: Trabalhando com monstros), o psicólogo e acadêmico australiano John Clarke mostra que os psicopatas destrutivos estão também no mercado de trabalho.
Eles se apresentam como pessoas charmosas e eficientes, quando na realidade eles são irresponsáveis e interesseiros. Sempre em busca de uma vítima para escravizar, o psicopata prefere destruir em vez de construir, para que assim jamais seja dada autoridade aos outros.
No entanto, mais frequentemente do que estamos dispostos a admitir, essas pessoas adquirem posições de poder e exercem suas mesquinhas tiranias sobre os outros. Como escreveu Boddy em seu paper, “cruzar o caminho (dos psicopatas) nas empresas pode levar o funcionário a situações de assédio e humilhação”.
Em época de perdas financeiras colossais – de esquemas Ponzi nos níveis corporativo e federal – deve haver lá pelos altos cargos mais do que alguns psicopatas. O dano causado por tais pessoas pode ser incalculável. Pense na Crise da Poupança e dos Empréstimos no final da década de 1980 e começo da década de 1990. De 3234 empresas de empréstimo e poupança, 747 faliram, causando um prejuízo estimado de 370 bilhões de dólares.
Indivíduos cruéis sem senso de responsabilidade são altamente perigosos quando ocupam cargos de gerência em organizações de importância crucial como bancos, firmas de investimentos ou cargos governamentais.
Quanto a isso, as más notícias são piores do que as que gostaríamos de ouvir. O psicólogo organizacional Paul Babiak, autor de Snakes in Suits (NT.: Cobras de Terno), afirma que os psicopatas tendem a ascender rapidamente no mundo dos negócios graças ao charme e a facilidade em manipular os outros.
Por parecer perfeitamente normal na aparência, o psicopata pode parecer ser um líder ideal, mas na verdade ele fará de vítima de todos aqueles que se apoiarem nele.
De acordo com Boddy, os psicopatas corporativos podem parecer “seres racionais quase perfeitos, com a importante ressalva de que ao tomarem decisões racionais eles colocarão seus próprios interesses à frente da corporação a qual eles trabalham”. Ele cita o paper de 1989 de Hansen & Wernerfelt intitulado Determinants of Firm Performance: The Relative Importance of Economic and Organizational Factors (NT.:Determinantes da performance em uma empresa: A importância relativa dos fatores organizacionais e econômicos) para dizer que “a questão crucial no sucesso de uma firma é a construção de uma organização humana efetiva; a presença de um psicopata corporativo afetaria diretamente o desenvolvimento organizacional, pois eles tendem a ser prejudiciais àqueles em seu entorno, especialmente aos colegas mais novos da empresa”.
No uso original do termo, psicopata referia-se a qualquer um com um problema mental.
O termo podia ser aplicado a todos os indivíduos perturbados ou desordenados psicologicamente. Mais recentemente, o termo adquiriu um significado mais preciso; no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM) ele é descrito como alguém que tem Transtorno de Personalidade Antissocial.
O Robert Hare’s Psychopathy Checklist, Revised (PCL-R) é uma ferramenta frequentemente usada para diagnósticos psicopáticos nos dias de hoje. O canadense que dá nome à lista é pesquisador na área de psicologia criminal. Ele ofereceu a seguinte lista de características:
(1) Interpessoal / afetivo - (a) eloquência / charme superficial, (b) senso grandioso de autoestima, (c) mentiroso patológico, (d) astuto / manipulador, (e) inexistência de remorso ou culpa, (f) afetividade superficial, (g) insensibilidade, falta de empatia, (h) falha em tomar a responsabilidade pelas próprias ações;
(2) Estilo de vida / Antissocial - (a) necessidade de estímulo / tendência ao tédio, (b) modo de vida parasitário, (c) carência de objetivos de longo prazo, (d) impulsividade, (e) irresponsabilidade, (f) delinquência juvenil, (g) problemas comportamentais desde cedo, (h) revogação da liberdade condicional e (i) versatilidade criminal.
Na edição do dia 26 de outubro do Chronicle Review, Kevin Dutton perguntou a Robert Hare se a sociedade moderna “está se tornando mais psicopata”. Hare afirmou que sim, dizendo que “há coisas acontecendo hoje em dia que não teríamos visto há 20 ou até mesmo 10 anos atrás”. Para reforçar o que disse, Hare referiu-se ao “recente crescimento da criminalidade feminina” e à situação de Wall Street.
Como disse Dutton sucintamente, “o novo milênio inaugurou uma nova onda de criminalidade corporativa como nunca antes se viu. Investimentos fraudulentos, conflitos de interesse, lapsos de julgamento e o bom e velho truque da fraude e desvio de fundos levado a cabo pela classe empresarial...”
Entretanto, os psicopatas corporativos podem não ser o maior dos perigos do nosso tempo. Indiscutivelmente, os psicopatas mais perigosos estão fora do mundo dos negócios e estão determinados a destruir o capitalismo a partir de posições que ocupam no governo e na mídia.
Na palestra intitulada America’s Persecuted Minority: Big Business (NT.: A minoria perseguida da América: O grande negócio) Ayn Rand alertou que as falas em tom negativo sobre os empresários devem ser vistas com suspeita nos dias atuais. “Todo movimento que pretende escravizar um país”, diz Rand, “toda ditadura ou potencial ditadura, precisa de algum grupo minoritário como bode expiatório para colocá-los como causa dos problemas do país e usar isso como justificativa para que sejam atendidas suas demandas de poder ditatorial.
Na União Soviética o bode expiatório era a burguesia; na Alemanha nazista eram os judeus; na América são os empresários”.
Embora exista mérito em se preocupar com os psicopatas corporativos, há muito mais mérito em se preocupar com os psicopatas políticos, mesmo porque, o que são os políticos modernos senão charmosos manipuladores com uma mente calculista? O que pode ser feito da falta de responsabilidade que encontramos nos políticos de hoje ou da maneira simplista em que eles se desviam de perguntas e críticas? O que oferece com mais plenitude o poder que a política? Se um psicopata busca poder nos negócios ele ainda pode ser impedido pela contabilidade necessária a toda empresa. Se entrar na política, ele precisa apenas repetir a grande mentira enquanto direciona seu carisma à mídia.
Com efeito, os psicopatas políticos fizeram mais vítimas que os psicopatas corporativos. E enquanto lermos sobre a ganância corporativa ou o desvio de fundos no noticiário, fiquemos tranquilos, pois o gulag soviético, os campos de trabalho chineses e os crimes dos nazis não foram obra dos capitalistas, mas sim dos inimigos do capitalismo.
27 de agosto de 2013
Jeffrey Nyquist
Publicado no Financial Sense.
Tradução: Leonildo Trombela Júnior
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