"Foi o mais genial e criativo invento de nossa história econômica." A definição do ex-ministro da Fazenda Mario Henrique Simonsen para a Unidade Real de Valor (URV) foi repetida e prestigiada no Brasil e mundo afora em universidades, por professores, acadêmicos e quem mais estudasse ciência econômica na época.
Moeda escritural que durou quatro meses, até se transformar no real em 1/7/1994, a URV foi arquitetada por dois economistas brasileiros (André Lara Resende e Pérsio Arida) e seu sucesso foi fundamental para o sucesso do Plano Real.
Derrubar a inflação sem os desacreditados congelamentos de preço de sete fracassados planos anteriores foi a primeira e indispensável condição para estabilizar a economia e dar a partida para os 20 anos do mais extraordinário avanço social e econômico na história do Brasil.
Colocar um plano na rua sem nunca ter sido experimentado e em pleno ano eleitoral foi uma jogada arriscada assumida pelo candidato (e ministro da Fazenda na época) Fernando Henrique Cardoso e pelo ex-presidente da República Itamar Franco, a quem coube assinar leis e decretos que deram vida ao Real.
Se o plano naufragasse, levaria junto o candidato, o adversário Lula venceria a eleição e não haveria Real.
FHC explicou os riscos à cúpula do PSDB e avisou:
"Preciso do apoio total e incondicional de vocês".
Os ex-governadores Mario Covas, Tasso Jereissati e Ciro Gomes concordaram. José Serra vacilou, mas acabou convencido.
Para arrancar o apoio de Itamar Franco, FHC levou o economista Edmar Bacha, mineiro, como o presidente, e com maior traquejo político.
Após ouvir atento como a URV derrubaria a inflação, Itamar retrucou:
"Mas onde entra o congelamento de preços?".
Felizmente, o risco foi vencido, o plano, bem-sucedido, e a população brasileira deu seu entusiástico apoio nas urnas e nas ruas.
Contra o Real ficaram dois importantes protagonistas: o Fundo Monetário Internacional (FMI), que negou aval aos credores da dívida externa; e Lula e o PT, adversários de FHC na eleição de 1994.
Eleito presidente nove anos depois, Lula encontrou a economia estabilizada, o País organizado e tirou proveito dos benefícios do Real em sua gestão.
O plano não se limitava a derrubar a inflação e consolidar o real como nova moeda corrente. O País precisava ser virado pelo avesso para se modernizar, construir pilares para atrair investimentos e voltar a crescer com estabilidade.
Reformas estruturais (política, tributária, trabalhista, sindical e previdenciária), privatizações, reestruturação das dívidas dos Estados e municípios, criação das agências reguladoras, Lei de Responsabilidade Fiscal, extinção ou flexibilização de monopólios estatais, construção de uma nova democracia - tudo, para se tornar lei, era arrancado a fórceps do Congresso. Muita coisa ficou pela metade, outras nem começaram, como as reformas política e fiscal, e novos desafios surgiram.
Depois de 20 anos, o Real é um plano incompleto, que precisa avançar, concluir o que começou, mas também se reinventar.
Por mais que se contabilizem atrasos prejudiciais ao País (as reformas, por exemplo), construir um plano econômico ambicioso e abrangente é tarefa para mais de uma geração, mais de um presidente.
Em seu primeiro mandato, Lula e o ex-ministro Antônio Palocci tentaram dar seguimento às bases do Real, inclusive às reformas politicamente mais difíceis, como a previdenciária, a fiscal e a trabalhista.
Mas o mensalão atrapalhou, Lula e o PT se perderam e o toma lá dá cá foi consolidado no Congresso e estendido às estatais. Até as reformas microeconômicas, que nasceram com Palocci na Fazenda, foram abandonadas.
A presidente Dilma chegou com menos disposição do que Lula.
Sem programa de governo, passou quatro anos apagando incêndios cotidianos. O bom legado dos 12 anos de Lula e Dilma se concentra no progresso social e na melhor distribuição de renda.
Continuar o Real, as reformas, atrair investimentos, reduzir o custo Brasil e retomar o crescimento ficaram para o próximo presidente.
Moeda escritural que durou quatro meses, até se transformar no real em 1/7/1994, a URV foi arquitetada por dois economistas brasileiros (André Lara Resende e Pérsio Arida) e seu sucesso foi fundamental para o sucesso do Plano Real.
Derrubar a inflação sem os desacreditados congelamentos de preço de sete fracassados planos anteriores foi a primeira e indispensável condição para estabilizar a economia e dar a partida para os 20 anos do mais extraordinário avanço social e econômico na história do Brasil.
Colocar um plano na rua sem nunca ter sido experimentado e em pleno ano eleitoral foi uma jogada arriscada assumida pelo candidato (e ministro da Fazenda na época) Fernando Henrique Cardoso e pelo ex-presidente da República Itamar Franco, a quem coube assinar leis e decretos que deram vida ao Real.
Se o plano naufragasse, levaria junto o candidato, o adversário Lula venceria a eleição e não haveria Real.
FHC explicou os riscos à cúpula do PSDB e avisou:
"Preciso do apoio total e incondicional de vocês".
Os ex-governadores Mario Covas, Tasso Jereissati e Ciro Gomes concordaram. José Serra vacilou, mas acabou convencido.
Para arrancar o apoio de Itamar Franco, FHC levou o economista Edmar Bacha, mineiro, como o presidente, e com maior traquejo político.
Após ouvir atento como a URV derrubaria a inflação, Itamar retrucou:
"Mas onde entra o congelamento de preços?".
Felizmente, o risco foi vencido, o plano, bem-sucedido, e a população brasileira deu seu entusiástico apoio nas urnas e nas ruas.
Contra o Real ficaram dois importantes protagonistas: o Fundo Monetário Internacional (FMI), que negou aval aos credores da dívida externa; e Lula e o PT, adversários de FHC na eleição de 1994.
Eleito presidente nove anos depois, Lula encontrou a economia estabilizada, o País organizado e tirou proveito dos benefícios do Real em sua gestão.
O plano não se limitava a derrubar a inflação e consolidar o real como nova moeda corrente. O País precisava ser virado pelo avesso para se modernizar, construir pilares para atrair investimentos e voltar a crescer com estabilidade.
Reformas estruturais (política, tributária, trabalhista, sindical e previdenciária), privatizações, reestruturação das dívidas dos Estados e municípios, criação das agências reguladoras, Lei de Responsabilidade Fiscal, extinção ou flexibilização de monopólios estatais, construção de uma nova democracia - tudo, para se tornar lei, era arrancado a fórceps do Congresso. Muita coisa ficou pela metade, outras nem começaram, como as reformas política e fiscal, e novos desafios surgiram.
Depois de 20 anos, o Real é um plano incompleto, que precisa avançar, concluir o que começou, mas também se reinventar.
Por mais que se contabilizem atrasos prejudiciais ao País (as reformas, por exemplo), construir um plano econômico ambicioso e abrangente é tarefa para mais de uma geração, mais de um presidente.
Em seu primeiro mandato, Lula e o ex-ministro Antônio Palocci tentaram dar seguimento às bases do Real, inclusive às reformas politicamente mais difíceis, como a previdenciária, a fiscal e a trabalhista.
Mas o mensalão atrapalhou, Lula e o PT se perderam e o toma lá dá cá foi consolidado no Congresso e estendido às estatais. Até as reformas microeconômicas, que nasceram com Palocci na Fazenda, foram abandonadas.
A presidente Dilma chegou com menos disposição do que Lula.
Sem programa de governo, passou quatro anos apagando incêndios cotidianos. O bom legado dos 12 anos de Lula e Dilma se concentra no progresso social e na melhor distribuição de renda.
Continuar o Real, as reformas, atrair investimentos, reduzir o custo Brasil e retomar o crescimento ficaram para o próximo presidente.
06 de julho de 2014
Suely Caldas, O Estado de S.Paulo
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