A estratégia da presidente Dilma de só revelar a política econômica após as eleições cria a situação estranha de haver uma candidatura com programa secreto. É complicado para quem está no governo, num momento difícil da economia, dizer como vai corrigir os erros sem fazer críticas a si mesmo. A inflação está alta, o país não cresce, o setor elétrico está em situação precária.
A informação publicada pelo editor-executivo do “Valor”, Cristiano Romero, é a de que a presidente Dilma vai se reunir com os empresários depois das eleições, se reeleita, para então definir a política econômica do segundo mandato. A estratégia revela a incapacidade da governante de responder agora como pretende ajustar o que a sua política econômica desajustou.
Quem disputa reeleição ou se engaja na eleição do sucessor tem a vantagem do uso do cargo para que atos de governo virem atos de campanha. Até sexta-feira, Dilma teve toda a máquina governamental aberta. Inaugurou, lançou programas e fez promessas com tom de campanha o que foi apresentado como suas funções de governante. Agora, a lei eleitoral vai inibir um pouco.
Para o ex-presidente Lula, foi muito fácil fazer campanha para Dilma em 2010 porque o país crescia vigorosamente depois da queda do PIB em 2009. A coleção de números bons de atividade econômica e a inflação baixa facilitaram o discurso da continuidade. Em 2006, o então presidente Lula enfrentou um constrangimento político porque no ano anterior havia estourado o escândalo do mensalão. Mas a economia ajudou.
Na economia, a de 2014 é a eleição mais difícil para o PT. Há muito número mostrando a deterioração da conjuntura. O governo usou instrumentos, para manter o crescimento, que perderam a eficácia, como os sucessivos pacotes de redução de IPI para o setor automobilístico. A indústria afundou e vai encolher este ano. O mais do mesmo não é suficiente para um país que vai crescer apenas 1% em 2014.
Na inflação, a continuidade da política é perigosa. A taxa passou quatro anos muito perto do teto da meta. Somando-se os meses em que ficou acima do permitido, dá quase um ano. Não há resposta fácil para a dúvida a respeito de como serão corrigidos os preços represados. A presidente da Petrobras disse que para subir o preço da gasolina bastam dois elefonemas. Ela já fez inúmeros telefonemas, sem sucesso. Os preços reprimidos têm alimentado a expectativa de mais inflação no futuro.
As empresas do setor de energia estão com sérios desequilíbrios. Está sendo negociado com bancos outro empréstimo para as distribuidoras através do mesmo canal, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. O governo está dando socorro às empresas através de um ente privado, a CCEE, para não reduzir o superávit primário. É uma artimanha. Mais uma.
Uma das grandes questões para 2015 é como desatar o nó elétrico. Há um desequilíbrio financeiro grave em todos os elos do sistema provocado pela MP 579, que reduziu os preços da energia, antecipando o fim dos contratos. E nesse caso ficou claro outro problema criado pelo estilo de gestão Dilma: a falta de diálogo com os empresários.
Existe defesa de lobby que é apresentada como diálogo, como o que acontece com o setor automobilístico. Mas não foi esse tipo de conversa que faltou ao setor de energia. O governo não quis ouvir as ponderações técnicas das empresas. Elas tentaram alertar para as distorções que seriam criadas pela imposição apressada e eleitoreira da medida.
Há necessidade de correção do modelo que o governo usa para determinar o nível de risco do sistema. Agora, por exemplo, o preço da energia no mercado spot havia caído para R$ 368,5 e neste começo de julho voltou a subir para R$ 547,7.O modelo está indicando um nível baixo de risco, de 2,68%. O volume de água nos reservatórios permanece pouco acima dos 30%. Alguma coisa está errada com o modelo, porque se há pouca água, a indicação do risco deveria ser maior; e se o risco é tão baixo, por que ONS mantém todas as termelétricas ligadas encarecendo o custo?
Dilma vai tentar empurrar para depois os temas incômodos, como a inflação, o PIB, o nó elétrico, porque sabe que tratar deles agora seria admitir os erros que sua administração cometeu.
A informação publicada pelo editor-executivo do “Valor”, Cristiano Romero, é a de que a presidente Dilma vai se reunir com os empresários depois das eleições, se reeleita, para então definir a política econômica do segundo mandato. A estratégia revela a incapacidade da governante de responder agora como pretende ajustar o que a sua política econômica desajustou.
Quem disputa reeleição ou se engaja na eleição do sucessor tem a vantagem do uso do cargo para que atos de governo virem atos de campanha. Até sexta-feira, Dilma teve toda a máquina governamental aberta. Inaugurou, lançou programas e fez promessas com tom de campanha o que foi apresentado como suas funções de governante. Agora, a lei eleitoral vai inibir um pouco.
Para o ex-presidente Lula, foi muito fácil fazer campanha para Dilma em 2010 porque o país crescia vigorosamente depois da queda do PIB em 2009. A coleção de números bons de atividade econômica e a inflação baixa facilitaram o discurso da continuidade. Em 2006, o então presidente Lula enfrentou um constrangimento político porque no ano anterior havia estourado o escândalo do mensalão. Mas a economia ajudou.
Na economia, a de 2014 é a eleição mais difícil para o PT. Há muito número mostrando a deterioração da conjuntura. O governo usou instrumentos, para manter o crescimento, que perderam a eficácia, como os sucessivos pacotes de redução de IPI para o setor automobilístico. A indústria afundou e vai encolher este ano. O mais do mesmo não é suficiente para um país que vai crescer apenas 1% em 2014.
Na inflação, a continuidade da política é perigosa. A taxa passou quatro anos muito perto do teto da meta. Somando-se os meses em que ficou acima do permitido, dá quase um ano. Não há resposta fácil para a dúvida a respeito de como serão corrigidos os preços represados. A presidente da Petrobras disse que para subir o preço da gasolina bastam dois elefonemas. Ela já fez inúmeros telefonemas, sem sucesso. Os preços reprimidos têm alimentado a expectativa de mais inflação no futuro.
As empresas do setor de energia estão com sérios desequilíbrios. Está sendo negociado com bancos outro empréstimo para as distribuidoras através do mesmo canal, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. O governo está dando socorro às empresas através de um ente privado, a CCEE, para não reduzir o superávit primário. É uma artimanha. Mais uma.
Uma das grandes questões para 2015 é como desatar o nó elétrico. Há um desequilíbrio financeiro grave em todos os elos do sistema provocado pela MP 579, que reduziu os preços da energia, antecipando o fim dos contratos. E nesse caso ficou claro outro problema criado pelo estilo de gestão Dilma: a falta de diálogo com os empresários.
Existe defesa de lobby que é apresentada como diálogo, como o que acontece com o setor automobilístico. Mas não foi esse tipo de conversa que faltou ao setor de energia. O governo não quis ouvir as ponderações técnicas das empresas. Elas tentaram alertar para as distorções que seriam criadas pela imposição apressada e eleitoreira da medida.
Há necessidade de correção do modelo que o governo usa para determinar o nível de risco do sistema. Agora, por exemplo, o preço da energia no mercado spot havia caído para R$ 368,5 e neste começo de julho voltou a subir para R$ 547,7.O modelo está indicando um nível baixo de risco, de 2,68%. O volume de água nos reservatórios permanece pouco acima dos 30%. Alguma coisa está errada com o modelo, porque se há pouca água, a indicação do risco deveria ser maior; e se o risco é tão baixo, por que ONS mantém todas as termelétricas ligadas encarecendo o custo?
Dilma vai tentar empurrar para depois os temas incômodos, como a inflação, o PIB, o nó elétrico, porque sabe que tratar deles agora seria admitir os erros que sua administração cometeu.
06 de julho de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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