O futebol brasileiro não consegue se inserir no fenomenal negócio global que é o esporte
Começo por onde terminou mestre Tostão a sua coluna desta quarta-feira (2): "Duro será assistir ao Brasileirão".
Pois é, Tostão, ainda faltam os quatro jogos decisivos do Mundial, incluindo a sempre desprezada disputa pelo terceiro lugar, e já sinto os primeiros sinais da síndrome de abstinência. Fica combinado que é de matar trocar o bom nível técnico da primeira fase da Copa e a alta dose de emoção, inerente ao sistema mata-mata, pela espantosa mediocridade do Campeonato Brasileiro.
O futebol brasileiro reproduz, desgraçadamente, o modelo comercial do país: exporta matéria-prima (no caso, jogadores de futebol) e importa produtos acabados (e bem acabados, como são os torneios nacionais europeus, transmitidos em massa pela televisão brasileira).
Pelo menos na TV a cabo, hoje é possível ver mais partidas europeias do que brasileiras. Até o campeonato russo é transmitido, meu Deus do céu. É mais ou menos o que acontece com o café: o Brasil exporta o grão e a Alemanha, que não planta nem um miserável pé de café, exporta o solúvel.
Ou, como diz Marcos Troyjo, colunista desta Folha: "No mundo todo, nossos jogadores são mais conhecidos --e queridos-- do que nossas empresas".
Bingo. Vale para a vida, vale para o futebol: Neymar dos Santos Júnior é uma marca espetacular, que fatura € 20 milhões anuais (R$ 60,17 milhões), mas a "fábrica" que o produziu, o Santos Futebol Clube, é muito menos conhecido --e, por extensão, muito menos valorizado.
Chega a ser inacreditável que o chamado "país do futebol" despreze um esporte que é, já faz algum tempo, muito mais negócio que esporte propriamente dito.
Os números do futebol são impressionantes: em termos de fornecimento anual de materiais e equipamentos esportivos, são cerca de 9 milhões de chuteiras para futebol e futsal, 6 milhões de bolas e 32 milhões de camisas. São também 300 mil empregos diretos; 30 milhões de praticantes (formais e não formais); 580 mil participantes em 13 mil times que participam de jogos organizados (esporte formal).
Para não falar de 580 estádios com capacidade para abrigar mais de 5,5 milhões de torcedores.
É preciso levar em conta também que o mundo da bola é maior que o mundo. Afinal, os países-membros da Fifa são 208, 15 a mais do que os integrantes da ONU.
Ou, posto em termos de negócios, é um mercado superior até ao que a globalização pôs ao alcance dos países que sabem explorá-la.
Pena que o Brasil, elite mundial na produção de jogadores, não o seja na exploração das potencialidades do negócio. Quem compra o Brasileirão no exterior? Para que, aliás, se todo os titulares habituais, menos Fred, jogam na Europa?
Pena ainda maior porque se trata de um negócio que incorpora plenamente o espírito da "pátria de chuteiras", como se vê em lendária frase do ex-jogador e ex-técnico escocês Bill Shankly, ídolo do Liverpool: "Algumas pessoas acreditam que futebol é uma questão de vida e morte. Posso assegurar-lhes que é muito, mas muito mais importante que isso".
Começo por onde terminou mestre Tostão a sua coluna desta quarta-feira (2): "Duro será assistir ao Brasileirão".
Pois é, Tostão, ainda faltam os quatro jogos decisivos do Mundial, incluindo a sempre desprezada disputa pelo terceiro lugar, e já sinto os primeiros sinais da síndrome de abstinência. Fica combinado que é de matar trocar o bom nível técnico da primeira fase da Copa e a alta dose de emoção, inerente ao sistema mata-mata, pela espantosa mediocridade do Campeonato Brasileiro.
O futebol brasileiro reproduz, desgraçadamente, o modelo comercial do país: exporta matéria-prima (no caso, jogadores de futebol) e importa produtos acabados (e bem acabados, como são os torneios nacionais europeus, transmitidos em massa pela televisão brasileira).
Pelo menos na TV a cabo, hoje é possível ver mais partidas europeias do que brasileiras. Até o campeonato russo é transmitido, meu Deus do céu. É mais ou menos o que acontece com o café: o Brasil exporta o grão e a Alemanha, que não planta nem um miserável pé de café, exporta o solúvel.
Ou, como diz Marcos Troyjo, colunista desta Folha: "No mundo todo, nossos jogadores são mais conhecidos --e queridos-- do que nossas empresas".
Bingo. Vale para a vida, vale para o futebol: Neymar dos Santos Júnior é uma marca espetacular, que fatura € 20 milhões anuais (R$ 60,17 milhões), mas a "fábrica" que o produziu, o Santos Futebol Clube, é muito menos conhecido --e, por extensão, muito menos valorizado.
Chega a ser inacreditável que o chamado "país do futebol" despreze um esporte que é, já faz algum tempo, muito mais negócio que esporte propriamente dito.
Os números do futebol são impressionantes: em termos de fornecimento anual de materiais e equipamentos esportivos, são cerca de 9 milhões de chuteiras para futebol e futsal, 6 milhões de bolas e 32 milhões de camisas. São também 300 mil empregos diretos; 30 milhões de praticantes (formais e não formais); 580 mil participantes em 13 mil times que participam de jogos organizados (esporte formal).
Para não falar de 580 estádios com capacidade para abrigar mais de 5,5 milhões de torcedores.
É preciso levar em conta também que o mundo da bola é maior que o mundo. Afinal, os países-membros da Fifa são 208, 15 a mais do que os integrantes da ONU.
Ou, posto em termos de negócios, é um mercado superior até ao que a globalização pôs ao alcance dos países que sabem explorá-la.
Pena que o Brasil, elite mundial na produção de jogadores, não o seja na exploração das potencialidades do negócio. Quem compra o Brasileirão no exterior? Para que, aliás, se todo os titulares habituais, menos Fred, jogam na Europa?
Pena ainda maior porque se trata de um negócio que incorpora plenamente o espírito da "pátria de chuteiras", como se vê em lendária frase do ex-jogador e ex-técnico escocês Bill Shankly, ídolo do Liverpool: "Algumas pessoas acreditam que futebol é uma questão de vida e morte. Posso assegurar-lhes que é muito, mas muito mais importante que isso".
06 de julho de 2014
Clóvis Rossi, Folha de SP
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