"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 6 de julho de 2014

O MÉDICO E O MONSTRO NA SUCESSÃO

          

 

A partir deste fim de semana, Dilma e seus ministros precisarão tomar cuidado. Viagens, inaugurações, distribuição de casas e tratores e demais bondades a que o governo acostumou-se, senão proibidas, estão limitadas pela lei eleitoral. Torna-se mais difícil misturar a administração federal com a reeleição.
O olho do Tribunal Superior Eleitoral, irrigado pelo colírio dos partidos de oposição, estará atento para que não se misture a campanha pelo segundo mandato com as obrigações de quem mantém os controles da ação administrativa federal.

Trata-se de uma contradição criada pela malandragem de Fernando Henrique Cardoso, quando arrancou do Congresso a emenda da reeleição de presidentes da República, governadores e prefeitos, sem a necessária desincompatibilização dos titulares seis meses antes das eleições.
De lá para cá puderam os personagens confundir duas situações conflitantes: de executivos com a caneta e o diário oficial na mão com a cômoda busca de votos junto ao eleitorado.

Uma mistura indigesta para a consolidação das instituições democráticas, mas um expediente canhestro para beneficiar o abuso dos detentores do poder. Prática que anda longe de ser revogada pela ética e pelo bom senso, pois se um dia beneficiou os tucanos, agora favorece os companheiros e amanhã, com certeza, quantos venham a ser bafejados pela sorte nas urnas.

A reeleição tornou-se a pedra de toque da distorção dos princípios democráticos criados depois dos tempos bicudos da ditadura e, pelo jeito, veio para ficar. Um cidadão é eleito por quatro anos, julga-se no direito de ficar oito, valendo-se dos benefícios do exercício do poder.
Uma usurpação, tanto quanto uma malandragem. Tanto assim que a justiça eleitoral veio em socorro do bom senso e da ética, estabelecendo limites que começam a valer a partir de amanhã, ainda que incompletos e frágeis.
Para pedir votos, Dilma não poderá valer-se do avião presidencial, muito menos permitir que a assessoria de imprensa palaciana divulgue sua agenda de candidata. Só que seu partido, o PT, alugará quantos jatinhos se tornem necessários para suas viagens eleitorais, bem como sofisticados escritórios e grupos de comunicação muito melhor aparelhados eletronicamente do que os mecanismos oficiais.

Esta semana, em função das novas regras, o secretário-geral da presidência da República, Gilberto Carvalho, desligou-se de suas funções palacianas para assumir a direção geral da campanha de Dilma.

Serão duas personalidades diferentes? Dr. Jeckill e Mr. Hide, importando menos saber quem é o médico e quem é o monstro? A experiência adquirida nos últimos quatro anos da atual presidente, e os oito do período Lula, precisarão ser esquecidos e anulados por Gilberto Carvalho, quando ele tomar decisões específicas para melhorar os índices de popularidade da candidata?

Vivemos uma farsa estendida aos governos estaduais e, em outro calendário, às prefeituras. Nem se fala no relacionamento dos altos funcionários do governo com as empreiteiras e demais beneficiados de seu relacionamento permanente, agora transformados em doadores da campanha desenvolvida pelos mesmos personagens, apenas com roupa diferente, mas só nos fins de semana.

Em suma, uma pantomima que ninguém pretende encerrar, muito menos os candidatos da oposição. Porque, um dia, eles imaginam valer-se das mesmas facilidades para estender seus mandatos.

06 de julho de 2014
Carlos Chagas

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