Acompanhando o noticiário político, fica até parecendo que 2014 é um ano eleitoral atípico. Atípica, diria eu, é a facilidade com que partidos e candidatos assumem em público o que já praticavam havia muito por debaixo dos panos. E o preço que cobram (ou pagam) por isso: míseros ou substanciosos tempos de campanha no rádio e, sobretudo, na TV; ministérios e diretorias de estatais antecipadamente prometidos; derrama de recursos para a feitura de material de propaganda; promessas de milagres na educação, saúde, mobilidade urbana, com números fantásticos para agradar ao eleitorado – (quase sempre) carente de tudo.
Aos olhos dos inexperientes, o que não aparecem são os carguinhos mequetrefes que os grandes chefes desse verdadeiro cangaço cobram pelo apoio a esse ou aquele candidato: são lugares de meras “batedeiras de cheques” – como foi lembrado da excelsa tribuna do Supremo Tribunal Federal por um ilustre advogado, defendendo sua constituinte no mensalão petista – ou o cargo de elaboradores de editais de licitação, que embolsam, eles próprios, miseráveis quantias (os “petequeiros”, como os denominou Roberto Jefferson) para colocar nesses editais certos requisitos capazes de dar aos beneficiados verdadeiras fortunas… Isso só é visível pelos que militam na máquina pública e dela saem envoltos em escândalos, e voltam como deputados eleitos, membros de órgãos de cúpula, gente graúda, enfim. Tudo nos conformes.
MINA DE OURO
Tomei conhecimento de parte dessa malandragem quando fui eleita deputada estadual em 1986/1987. Um prócer do antigo PDS lera cuidadosamente o primeiro estatuto do antigo PT e lá, segundo ele, descobrira a mina de ouro para se ver livre dos pedidos sem conta que recebia do eleitorado.
Naquela época, o PT se orgulhava de organizar-se em “núcleos de base”, pequenos agrupamentos de militantes de uma mesma categoria ou de um mesmo local de moradia. Cada núcleo escolhia um coordenador e um tesoureiro. Àquele cabia convocar reuniões, zelar pela ordem dos trabalhos, determinar tarefas.
O tesoureiro deveria recolher a contribuição de cada militante, sempre um percentual proporcional ao nível de renda e que todos deviam ao partido, com a exceção (comprovada) dos que estavam desempregados.
“TESOUREIRO”
Pois bem, o deputado, de 400 costados de famosa família mineira, adotou os núcleos e a eles repassava o que conseguia em emendas orçamentárias e outros penduricalhos agregados ao contracheque. Como não era ele o responsável por destinar a grana, mas o “tesoureiro”, via-se livre de qualquer queixa dos não agraciados.
Macetes como esses vão sendo sempre aperfeiçoados. Recentemente, na Câmara dos Deputados, em Brasília, descobriu-se outra maracutaia. Promove-se o servidor não concursado para um salário muito maior; depois, se faz sua exoneração, e, passados os três meses regulamentares na Casa, ele é recontratado, com o salário anterior – para, com a sobra, se contratar mais um… futuro cabo eleitoral! Haja imaginação para a pilantropia!
(transcrito de O Tempo)
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