O Brasil vai sediar no próximo ano uma conferência das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre segurança no trânsito. A instituição, com o comprometimento formal de vários países, tem como meta reduzir em 50% a quantidade de acidentes até 2020. É um sonho bem ousado: cerca de 1,3 milhão de pessoas morrem por ano nas estradas e ruas do planeta, em situações muitas vezes evitáveis. É a nona causa de mortes. Outros milhões ficam mutilados, incapazes. O problema é que o próprio Brasil, a depender dos resultados até agora, não vai ajudar muito. A taxa de mortandade por aqui é assustadora, na faixa de 22 por 100 mil habitantes, ou 2,5 vezes mais do que a dos EUA e quase quatro vezes a da União Europeia.
Continuamos a ver o trânsito como um caminho para faturar - e tudo aumenta, não só a já imensa quantidade de mortos e feridos: frota, quilometragem de asfalto, número de viadutos, preço de seguro, quantidade de hospitais privados... O governo é leniente. O legislador, omisso. Os partidos políticos, covardes. O cidadão, passivo. E aí entram os espertos. As eleições, por exemplo, estão à nossa porta - e não vejo nenhum candidato (tanto na esfera local quanto na nacional) trazer à tona o assunto. Os pardais proliferam, enchendo os cofres de Detrans - instituições que hoje parecem se importar apenas com formas de arrecadar.
Enquanto no Distrito Federal se festeja o flagrante de uns 100 motoristas em um fim de semana, um número espetacularmente ridículo, lobistas mobilizam o Estado (há quase 10 anos) para impor a obrigatoriedade de rastreadores em veículos, empurrando mais um custo ao contribuinte e violando a privacidade dele. Na pior das hipóteses, o Estado reconhece que é incompetente no combate ao crime. Enquanto isso, como lembra o colunista Fernando Calmon, o país continua a oferecer carros sem pelo menos dois cintos retráteis e dois apoios de cabeça no banco traseiro como equipamentos de série. Sem falar que o automóvel brasileiro é dos mais caros do planeta - e não apenas em função dos impostos, vale ressaltar.
P.S.: Nosso Detran, por sinal, deveria se chamar Conetran. Uma amiga lembra que Brasília é conhecida por não ter indústrias, mas hoje pode-se dizer que tem: a de cones. Os fabricantes devem estar felizes...
06 de julho de 2014
Renato Ferraz, Correio Braziliense
Continuamos a ver o trânsito como um caminho para faturar - e tudo aumenta, não só a já imensa quantidade de mortos e feridos: frota, quilometragem de asfalto, número de viadutos, preço de seguro, quantidade de hospitais privados... O governo é leniente. O legislador, omisso. Os partidos políticos, covardes. O cidadão, passivo. E aí entram os espertos. As eleições, por exemplo, estão à nossa porta - e não vejo nenhum candidato (tanto na esfera local quanto na nacional) trazer à tona o assunto. Os pardais proliferam, enchendo os cofres de Detrans - instituições que hoje parecem se importar apenas com formas de arrecadar.
Enquanto no Distrito Federal se festeja o flagrante de uns 100 motoristas em um fim de semana, um número espetacularmente ridículo, lobistas mobilizam o Estado (há quase 10 anos) para impor a obrigatoriedade de rastreadores em veículos, empurrando mais um custo ao contribuinte e violando a privacidade dele. Na pior das hipóteses, o Estado reconhece que é incompetente no combate ao crime. Enquanto isso, como lembra o colunista Fernando Calmon, o país continua a oferecer carros sem pelo menos dois cintos retráteis e dois apoios de cabeça no banco traseiro como equipamentos de série. Sem falar que o automóvel brasileiro é dos mais caros do planeta - e não apenas em função dos impostos, vale ressaltar.
P.S.: Nosso Detran, por sinal, deveria se chamar Conetran. Uma amiga lembra que Brasília é conhecida por não ter indústrias, mas hoje pode-se dizer que tem: a de cones. Os fabricantes devem estar felizes...
06 de julho de 2014
Renato Ferraz, Correio Braziliense
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