"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

PARA MONTAR UM BOLO EMERGENTE



 
O mundo do trabalho precisa andar a passos mais largos, e a visão que a sociedade tem sobre a mão de obra também necessita ser revista. Apesar de ser assunto muito discutido no último século, a relação trabalho e capital ainda é um nó.

A visita do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil coloca uma máxima na pauta da discussão. Já virou verdade a história de que a mão de obra na China é muito barata – quase escrava. Essa seria a explicação para o baixo custo dos produtos chineses, que são espalhados por todo o mundo a preços sem concorrência. Obviamente, uma boa parte dessa história deve ser verdade mesmo.

Não gratuitamente, fabricantes de vários produtos e de todos os lugares do mundo estão escolhendo a China como o lugar para instalar suas fábricas. Mas a pergunta que se faz é: Somente o baixo custo da mão de obra é o responsável por tornar a China tão competitiva? Certamente, a resposta é não.

NEGÓCIOS

A China, apesar do seu sistema político, aprendeu a reconhecer mercados e negociar com os outros países de uma forma menos autoritária do que, normalmente, fazem os Estados Unidos e a Europa. O país asiático, até pelo tamanho de sua população, decidiu não economizar nas importações e, assim, garantiu que seus parceiros se tornassem também grandes consumidores.

E aí vale qualquer produto, o importante é fazer o mundo girar. A China compra minério de ferro do Brasil e produz aço para vender a uma montadora multinacional lá instalada, que vai produzir e fornecer carros para o mundo todo, inclusive o Brasil. E assim vai. Todo mundo tem direito a uma fatia pequena que seja. Quem conseguir juntar mais fatias, que monte seu bolo. A China montou o seu.

BANCO BRICS

Pensando dessa forma, os países em desenvolvimento (BRICS) pretendem agora criar um banco de fomento. A iniciativa, anunciada recentemente, recebe críticas e elogios ao mesmo tempo. Há quem diga que é uma tentativa louvável desse grupo de nações para se livrar das imposições do Fundo Monetário Internacional (FMI) e, portanto, é uma boa alternativa. Mas há também quem diga que a iniciativa tem caráter separatista e, em longo prazo, pode ter consequências maléficas até mesmo para o grupo que a concebeu.

Mas, independentemente do lado da análise, é preciso entender que esses países estão criando uma via de desenvolvimento e cooperação mútua que não enxerga a relação entre capital e trabalho apenas como uma forma de garantir lucro. É uma visão que entende a economia como uma ciência que deve contribuir para a melhoria da qualidade de vida do ser humano a partir de uma nova maneira de distribuir renda. Deslocando o eixo central do interesse econômico, entendendo o mundo do trabalho como capaz de consumo, surge uma nova lógica. Acertada? Talvez. Ousada? Certamente.

(transcrito de O Tempo)

25 de julho de 2014
Vicente Nunes
Correio Braziliense

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