O setor da construção civil está sentindo todo o impacto da paralisia da economia brasileira. A situação é tão crítica que, para não perderem os clientes, as empresas estão abrindo mão da correção mensal das prestações pelo INCC durante o período de obras dos imóveis, quadro sem precedentes nos últimos 20 anos.
Com a inflação corroendo a renda e o excesso de dívidas, vários mutuários não conseguem manter as mensalidades em dia, diante do repasse do custo da construção, que tem variado entre 7% e 8% ao ano.
Conforme relatos de construtores, o desconto do INCC se dá, principalmente, na hora do pagamento das parcelas intermediárias, a cada seis meses, e durante o acerto das chaves. Muitos compradores preferem recorrer ao distrato (devolverem os imóveis) e perderem 30% do que já pagaram, a terem de honrar as correções. Acreditam que podem encontrar oportunidades melhores na rua ao lado. Para não aumentarem ainda mais os estoques de empreendimentos, as empresas preferem dar os abatimentos.
Os construtores contam que, não bastasse o elevado nível de imóveis estocados, as incorporadoras estão sofrendo com a concorrência dos flippers, como são chamados os investidores que compraram empreendimentos na planta para vender assim que conseguissem uma valorização adequada. Como as expectativas de ganho não se confirmaram, estão desovando os ágios a qualquer preço. “Vivemos, ao mesmo tempo, um problema de demanda e uma crise de oferta. Uma minibolha que está estourando”, relata um incorporador.
REDUZIR ESTOQUES
Como não há perspectivas de melhora da economia neste e no próximo ano, as construtoras acreditam que pouca coisa mudará, até que os estoques de imóveis sejam reduzidos. Por isso, não se deve esperar por grandes lançamentos de empreendimentos tão cedo. Em Brasília, por exemplo, foram apenas 27 ofertas em 2013, praticamente nada ante o histórico recente da capital do país. “As empresas estão trabalhando com 50% do volume de obras registradas em 2012”, destaca um construtor.
Esse esfriamento da construção civil vai pesar na hora de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fechar as contas do segundo trimestre do ano. O setor tem peso importante tanto para o desempenho da indústria quanto para o de investimentos. Por isso, engrossam as estimativas do mercado financeiro de que o Produto Interno Bruto (PIB) será negativo entre abril e junho.
Também o emprego sente o baque. No Distrito Federal, nos 12 meses terminados em maio, foram fechadas 3 ,1 mil vagas na construção civil. Não há, no entender dos empresários, mais nenhum sinal da escassez de mão de obra que perturbou as empresas até bem pouco tempo. Agora, as companhias já conseguem escolher os melhores profissionais disponíveis. A sobra de trabalhadores, acreditam os construtores, tenderá a ser cada vez maior daqui por diante.
BRIGA POR REFORMAS
nas grandes capitais, onde o mercado imobiliário está em estado de letargia, várias construtoras estão recorrendo a restauração de lojas, casas e restaurantes para irrigar o caixa. Nos locais em que há obras públicas, a disputa é ferrenha. Mas nada disso está garantindo a manutenção do faturamento das empresas em níveis considerados satisfatórios.
Há construtoras que estão sofrendo mais com o momento de baixa do mercado imobiliário: aquelas com empreendimentos muito grandes, com mais de mil unidades. Descobriu-se, agora, com a renda das famílias solapada pela inflação e pelo excesso de endividamento, que as avaliações de crédito dos mutuários não foram feitas de forma adequada.
25 de julho de 2014
Vicente Nunes
Correio Braziliense
Correio Braziliense
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