"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

DE VOLTA À REALIDADE


 
 


 
A Copa foi um sucesso dentro e fora de campo. É consenso. As pesquisas de opinião realizadas com os turistas gringos, os números do governo federal, dos Estados e das prefeituras corroboram o êxito. O país fez uma grande festa, e a hospitalidade do brasileiro obteve o maior índice de aprovação em todos os levantamentos.]

Mas, e agora? Será feriado quando ocorrer quaisquer outros grandes eventos nas cidades? Teremos esquemas especiais de transporte para levar e buscar o trabalhador todos os dias? O reforço do policiamento será mantido para dar segurança aos moradores? E os aeroportos?
As companhias aéreas vão respeitar os horários e disponibilizar funcionários em todos os guichês como ocorreu durante o Mundial? E a cordialidade com os estrangeiros será mantida com o vizinho, com o motorista do carro ao lado? E dentro de campo também vamos conseguir manter o nível da Copa?
 
Infelizmente, o legado positivo do Mundial parece se esvair rapidamente com a volta da rotina e da mediocridade das administrações públicas enquanto heranças ruins do evento começam a ser naturalizadas como se sempre tivessem feito parte do cotidiano.
 
Os ingressos dos jogos de futebol, por exemplo, foram puxados para cima antes da Copa com a construção das arenas no lugar dos antigos estádios, chegaram ao ápice do absurdo durante o Mundial, sendo vendidos por R$ 300, R$ 500, R$ 1.000 – sem contar a inflação dos cambistas – e agora retornam a um elevado patamar de R$ 100 a R$ 200.
A elitização tão criticada nas partidas entre seleções veio para ficar no dia a dia das competições nacionais de clubes, com baixo nível técnico, mal-organizadas e sem grandes atrativos para o público. Ou seja, continuará pagando-se caro por um produto infinitamente inferior.
 
MANIFESTAÇÕES

Também parece ter ficado como legado a se lamentar da Copa, como já foi dito na coluna anterior, a criminalização de manifestações. Contra protestos por moradia, de professores ou de qualquer outra classe de trabalhadores, a Polícia Militar destacou aparatos e estratégias típicas de guerra.

Ao analisar as percepções acerca do Mundial, chega-se à conclusão de uma bela festa. Com o fim do baile e a partida dos convidados, desmonta-se a estrutura, retiram-se os ornamentos, e tudo volta à realidade. Os problemas de antes persistem, mesmo momentaneamente encobertos por uma boa ressaca.
 
O país, de forma objetiva, sai do Mundial como entrou. Não há grandes mudanças no cenário econômico nem no político. Fica apenas aquele sentimento subjetivo de orgulho por ser considerado um povo alegre e acolhedor. O legado talvez seja o de tomar consciência de ser impossível operar transformações com alterações superficiais.

(transcrito de O Tempo)
25 de julho de 2014
Murilo Rocha

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