A Copa foi um sucesso dentro e fora de campo. É consenso. As pesquisas de opinião realizadas com os turistas gringos, os números do governo federal, dos Estados e das prefeituras corroboram o êxito. O país fez uma grande festa, e a hospitalidade do brasileiro obteve o maior índice de aprovação em todos os levantamentos.]
Mas, e agora? Será feriado quando ocorrer quaisquer outros grandes eventos nas cidades? Teremos esquemas especiais de transporte para levar e buscar o trabalhador todos os dias? O reforço do policiamento será mantido para dar segurança aos moradores? E os aeroportos?
As companhias aéreas vão respeitar os horários e disponibilizar funcionários em todos os guichês como ocorreu durante o Mundial? E a cordialidade com os estrangeiros será mantida com o vizinho, com o motorista do carro ao lado? E dentro de campo também vamos conseguir manter o nível da Copa?
As companhias aéreas vão respeitar os horários e disponibilizar funcionários em todos os guichês como ocorreu durante o Mundial? E a cordialidade com os estrangeiros será mantida com o vizinho, com o motorista do carro ao lado? E dentro de campo também vamos conseguir manter o nível da Copa?
Infelizmente, o legado positivo do Mundial parece se esvair rapidamente com a volta da rotina e da mediocridade das administrações públicas enquanto heranças ruins do evento começam a ser naturalizadas como se sempre tivessem feito parte do cotidiano.
Os ingressos dos jogos de futebol, por exemplo, foram puxados para cima antes da Copa com a construção das arenas no lugar dos antigos estádios, chegaram ao ápice do absurdo durante o Mundial, sendo vendidos por R$ 300, R$ 500, R$ 1.000 – sem contar a inflação dos cambistas – e agora retornam a um elevado patamar de R$ 100 a R$ 200.
A elitização tão criticada nas partidas entre seleções veio para ficar no dia a dia das competições nacionais de clubes, com baixo nível técnico, mal-organizadas e sem grandes atrativos para o público. Ou seja, continuará pagando-se caro por um produto infinitamente inferior.
MANIFESTAÇÕESA elitização tão criticada nas partidas entre seleções veio para ficar no dia a dia das competições nacionais de clubes, com baixo nível técnico, mal-organizadas e sem grandes atrativos para o público. Ou seja, continuará pagando-se caro por um produto infinitamente inferior.
Também parece ter ficado como legado a se lamentar da Copa, como já foi dito na coluna anterior, a criminalização de manifestações. Contra protestos por moradia, de professores ou de qualquer outra classe de trabalhadores, a Polícia Militar destacou aparatos e estratégias típicas de guerra.
Ao analisar as percepções acerca do Mundial, chega-se à conclusão de uma bela festa. Com o fim do baile e a partida dos convidados, desmonta-se a estrutura, retiram-se os ornamentos, e tudo volta à realidade. Os problemas de antes persistem, mesmo momentaneamente encobertos por uma boa ressaca.
O país, de forma objetiva, sai do Mundial como entrou. Não há grandes mudanças no cenário econômico nem no político. Fica apenas aquele sentimento subjetivo de orgulho por ser considerado um povo alegre e acolhedor. O legado talvez seja o de tomar consciência de ser impossível operar transformações com alterações superficiais.
(transcrito de O Tempo)
(transcrito de O Tempo)
Murilo Rocha
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