"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

ISRAEL CHAMA ESTE BANHO DE SANGUE EM GAZA DE OPERAÇÃO PILARES DA DEFESA.


 Pilares da Hipocrisia seria mais adequado   
 


Terror, terror, terror, terror, terror. Aqui vamos nós outra vez. Israel vai “extirpar o terrorismo palestino” – coisa que afirma fazer, sem sucesso, há 64 anos –, enquanto o Hamas, a mais recente das “milícias mórbidas” da Palestina, anuncia que Israel “abriu as portas do inferno”, assassinando seu líder militar Ahmed al-Jabari.

O Hezbollah várias vezes anunciou que Israel “abriu os portões do inferno” para atacar o Líbano. Yasser Arafat, que era um super-terrorista, em seguida um super-estadista – depois de adentrar o gramado da Casa Branca – e, em seguida, tornou-se um super-terrorista novamente quando percebeu que tinha sido enganado nas negociações de paz em Camp David, ele também falou das “portas do inferno” em 1982.

E nós, os jornalistas, estamos escrevendo como ursos malabaristas de circo, repetindo todos os clichês dos últimos 40 anos. A morte de Jabari era um “ataque direcionado”, um “ataque aéreo cirúrgico” – como os que mataram quase 17 mil civis no Líbano, em 1982, os 1,2 mil libaneses, a maioria civis, em 2006 , ou os 1,3 mil palestinos, a maioria civis, em Gaza, em 2008-9, ou a mulher grávida e o bebê que foram mortos pelos “ataques aéreos cirúrgicos” na Faixa de Gaza, na semana passada. Pelo menos o Hamas, com seus foguetes Godzilla, não reivindica nada “cirúrgico”. Eles são destinados a matar israelenses – quaisquer israelenses, mulher, homem ou criança. Como, na verdade, também são os ataques israelenses em Gaza.

NAZISTA ANTISSEMITA

Mas diga isso e você vai ser um nazista antissemita, quase tão mau e diabólico como o movimento Hamas, com o qual Israel negociou nos anos 80, quando incentivou esse bando de mafiosos a tomar o poder na Faixa de Gaza e, assim, eliminar o exilado super-terrorista Arafat. A nova taxa de câmbio em Gaza por mortes de palestinos e israelenses atingiu 16:1. Ele vai subir, é claro. A taxa de câmbio em 2008-9 foi de 100:1.

E estamos criando mitos também. Jabari era o “líder das sombras número 1″ do Hamas, de acordo com a Associated Press. Mas como poderia, quando sabemos sua data de nascimento, dados da família, seus anos de prisão por Israel, durante os quais ele mudou de lado, do Fatah para o Hamas? Aqueles anos de prisão não converteram Jabari ao pacifismo, não é? Bem, sem lágrimas, ele era um homem que vivia pela espada e morreu pela espada, um destino que, naturalmente, não vai afligir os guerreiros de Israel como os civis em Gaza.

Washington apoia o “direito de defesa” de Israel e reivindica uma neutralidade espúria – como se as bombas em Gaza não viessem dos Estados Unidos e como seguramente os foguetes Fajr-5 vêm do Irã. Enquanto isso, o secretário de relações exteriores da Inglaterra William Hague considera o Hamas o “principal responsável” pela última guerra. Mas não há nenhuma evidência disso.

Segundo a revista The Atlantic Monthly, o assassinato por Israel de um “deficiente mental” palestino, que foi parar na fronteira, pode ter sido o estopim. Outros suspeitam que foi a morte de um menino palestino pelos israelenses, quando um grupo armado tentou atravessar a fronteira e foi confrontado por tanques. Caso em que militantes palestinos – não o Hamas – podem ter dado o pontapé inicial do jogo.

NADA A FAZER?

Mas não há nada capaz de impedir esse absurdo, esse lixo de guerra? Centenas de foguetes caem sobre Israel. Verdade. Milhares de hectares de terra são roubados de árabes por Israel para os judeus, e somente os judeus, na Cisjordânia. Não há sequer terra suficiente agora para um Estado palestino. O problema, curiosamente, é que as ações de Israel na Cisjordânia e seu cerco de Gaza estão trazendo para mais perto o evento que as trombetas de Israel temem anunciar a cada dia: que Israel enfrenta a destruição.

Na batalha de foguetes – inclusive os Fajr-5 do Irã e os drones do Hezbollah – uma nova fronteira está sendo cruzada por ambos os lados. Não se trata mais dos tanques israelenses cruzando a fronteira com o Líbano ou a fronteira de Gaza. Trata-se dos foguetes teleguiados, os drones e os hackers de computador – e a escória humana pelo caminho será ainda menos relevante do que tem sido ao longo dos últimos dias.

A Primavera Árabe agora trilhará seu próprio caminho: seus líderes vão ter de seguir o humor de seu público. Assim, eu suspeito, será com o pobre e velho rei Abdullah, da Jordânia. E se Benjamin Netanyahu acredita que o ataque dos primeiros foguetes iranianos exige o Big Bang do Irã, e depois o Irã dispara de volta – e talvez os americanos também e depois o Hezbollah – e Obama é engolido por outra guerra entre o Ocidente e o Islã, o que acontece então?

Bem, Israel irá pedir um cessar-fogo, como faz rotineiramente contra o Hezbollah. Vai pedir de novo o apoio eterno do Ocidente em sua luta contra o Mal, Irã incluído.

E por que não elogiar o assassinato de Jabari? Por favor, esqueça que os israelenses negociaram com Jabari, através do serviço secreto alemão, menos de 12 meses atrás. Você não pode negociar com “terroristas”, certo? Israel chama este banho de sangue de Operação Pilares da Defesa. Pilares da Hipocrisia seria mais adequado.

25 de julho de 2014
Robert Fisk
The Independent (UK)

*Robert Fisk, 68 anos, é um premiado jornalista inglês, correspondente no Oriente Médio do jornal britânico The Independent. Fisk vive em Beirute há mais de 25 anos.

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