"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O QUE DEVEMOS FAZER AGORA É REFLETIR SOBRE O FUTURO DO PAÍS


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O ideal seria pôr fim logo ao sofrimento que a Copa do Mundo nos propiciou, mas falta ainda uma simples observação. No início do mês, a presidente da República, Dilma Rousseff, fez esta infeliz analogia: “Meu governo é padrão Felipão”.
Dias depois, se deixou fotografar usando a mão direita como haste e o antebraço esquerdo como travessão, formando o “T” do “Tóis” – uma palavra mágica inventada pelo jogador Neymar, que, segundo minha neta, significa o mesmo que “Nóis” –, uma corruptela do pronome “nós” (primeira pessoa do plural de ambos os gêneros).

A presidente pode até ter resistido à tentação, mas, orientada pelo seu ministro marqueteiro, se decidiu, já no fim, pelo uso do futebol em favor da sua reeleição. E outra vez errou. Esqueceu-se de que o esporte não deve servir à política nem ser usado por ela.

Confesso que, antes do início da Copa, sonhava com o astral do povo brasileiro lá no alto. Imaginei o melhor dos mundos: uma final entre Brasil e Costa Rica. Se o Brasil vencesse, o bom astral continuaria alto; se o excelente time de Costa Rica fosse vitorioso, o bom astral não seria tão afetado.
Pessoalmente, eu até sentiria um pouco de orgulho pela seleção costa-riquenha, que, na dura luta contra a Holanda, ao contrário do que nos aconteceu, deixou honrosamente o gramado.

É preciso dizer, então, leitor, que a dor das pauladas que tomamos precisa de tempo para passar.
E, quando a ferida fechar, a cicatriz não desaparecerá, viverá meio século ou, talvez, um século inteiro. Ou – o mais provável – ficará “per omnia seacula seaculorum”…

Como disse certa vez o professor, escritor e ex-senador Edgard Godoy da Mata Machado, mas por motivos bem mais sérios do que uma simples derrota no futebol, “sofrer passa, o que não passa nunca é ter sofrido”. Somente o tempo, nada mais, saberá pensar a ferida que se abriu no coração do outrora alegre povo brasileiro.

COLAPSO NERVOSO

Li tudo, ou quase tudo, sobre a dura paulada que a Alemanha nos deu. Finalmente, na última quinta-feira, encontrei alguém também lúcido. Após afirmar (como tem dito o nosso Tostão, o melhor comentarista da Copa) que “o Brasil parou no tempo”, o ex-jogador Pierre Littbarski, vice-campeão mundial em 1990, analisou assim o desastre e soube ainda apontar sua maior causa: “A seleção brasileira sofreu um colapso nervoso e perdeu inteiramente o controle na partida contra a Alemanha”.

O craque, que hoje trabalha no Wolfsburg (clube do volante Luiz Gustavo), lamentou que o “jogo do século” terminasse como terminou: “Sem um meio de campo compacto, não recebeu uma orientação de emergência (do Felipão) para mudar a tática quando o placar chegou a 2 a 0”. Não sei se ele diria o mesmo após a paulada da Holanda. Lá se viu: o colapso não foi só da seleção, é do nosso futebol.

Logo após a primeira e terrível paulada (7 a 1), alguns políticos já se apresentaram com sugestões estapafúrdias. O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, por exemplo, querendo melhorar o que antes dissera a presidente Dilma Rousseff, abriu sua esfarrapada cartilha e sugeriu a intervenção do Estado no futebol. Menos, ministro. É preciso pensar bastante antes de falar. Ou o que o seu governo deseja é acabar com o nosso futebol?

O que devemos fazer agora, ministro, além de refletir sobre o futuro do nosso país, é reconhecer que, se não fosse o povo brasileiro, essa Copa teria sido um desastre ainda maior fora de campo! E queremos as contas, a partir do Itaquerão!

(transcrito de O Tempo)

25 de julho de 2014
Acílio Lara Resende

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