Diante do êxito da política de Segurança, concorrentes ao Palácio Guanabara desejam ampliá-la; mas, com isso, podem desestabilizar a própria política
Até pelo seu peso na própria história da segurança pública do Rio de Janeiro, embora ainda não tenha uma existência longa, a política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) teria grande destaque nos debates na campanha eleitoral para o governo do estado. Com início em 2008, quando a primeira UPP foi instalada, no morro Dona Marta, em Botafogo — escolhido por ser uma favela pequena — acumula grande saldo positivo (o que não significa que não haja impasses, retrocessos, necessidade de aperfeiçoamentos). Entre outros, as UPPs têm o mérito de ter acabado com o sobe e desce, o entra e sai da polícia nas chamadas comunidades, operações sempre muito arriscadas, principalmente para os moradores. Veio daí o uso recorrente do termo “bala perdida” para explicar a morte de inocentes.
A decisão da Secretaria de Segurança, sob o comando de José Mariano Beltrame, de entrar e ficar pode ser comparado ao “ovo de Colombo”. Era óbvio, mas ninguém fez. Hoje, são quase 40 UPPs, sob a proteção direta das quais está uma população superior a 700 mil pessoas — se considerarmos a proteção indireta, o número mais que dobra. Os índices de criminalidade caíram, e algumas regiões da cidade gozam de uma tranquilidade não usufruída há muito tempo.
No início da semana, O GLOBO ouviu os principais candidatos sobre o tema: Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB), Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Lindbergh Farias (PT)Até por terem sido curtos, os textos com a posição de cada trazem a sua essência, e nela tem-se uma notícia boa e outra ruim. A boa é que ninguém contesta mais as UPPs. A ruim está na visível ânsia de todos de explorar ao máximo o que dá certo, e isto é arriscado.
Garotinho deseja instituir o Batalhão de Defesa Social, para suprir deficiências das UPPs na atuação direta junto ao morador. A ideia não é nova, e basta fazer uma boa coordenação de todos os órgãos do poder público que atuam nesta direção nas comunidades. Crivella, Pezão e Lindbergh querem ampliar bastante a área de cobertura da polícia. É acertado, mas como? Os três tocam em aspectos essenciais: melhor formação do policial, impedir que a UPP vire coisa de “Zona Sul” (já não é, pois dos mais de 700 mil moradores de comunidades beneficiados ‘diretamente, menos de 120 mil são da Zona Sul) e que se acabe com o desguarnecimento de batalhões na Região Metropolitana, incapazes de enfrentar a migração da violência para a Baixada. O candidato petista frisa que “só ocupação policial não resolve”.
Está tudo certo, mas como implementar as corretas propostas com escassez de recursos e baixa qualificação, em geral, de quem se candidata a soldado da PM? Mesmo numa favela-vitrine, a Rocinha, PMs da UPP desapareceram com Amarildo. Os candidatos precisam fazer propostas realistas, para que, numa ampliação voluntariosa, as UPPs não caiam em descrédito. Seria ruinoso
Até pelo seu peso na própria história da segurança pública do Rio de Janeiro, embora ainda não tenha uma existência longa, a política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) teria grande destaque nos debates na campanha eleitoral para o governo do estado. Com início em 2008, quando a primeira UPP foi instalada, no morro Dona Marta, em Botafogo — escolhido por ser uma favela pequena — acumula grande saldo positivo (o que não significa que não haja impasses, retrocessos, necessidade de aperfeiçoamentos). Entre outros, as UPPs têm o mérito de ter acabado com o sobe e desce, o entra e sai da polícia nas chamadas comunidades, operações sempre muito arriscadas, principalmente para os moradores. Veio daí o uso recorrente do termo “bala perdida” para explicar a morte de inocentes.
A decisão da Secretaria de Segurança, sob o comando de José Mariano Beltrame, de entrar e ficar pode ser comparado ao “ovo de Colombo”. Era óbvio, mas ninguém fez. Hoje, são quase 40 UPPs, sob a proteção direta das quais está uma população superior a 700 mil pessoas — se considerarmos a proteção indireta, o número mais que dobra. Os índices de criminalidade caíram, e algumas regiões da cidade gozam de uma tranquilidade não usufruída há muito tempo.
No início da semana, O GLOBO ouviu os principais candidatos sobre o tema: Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB), Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Lindbergh Farias (PT)Até por terem sido curtos, os textos com a posição de cada trazem a sua essência, e nela tem-se uma notícia boa e outra ruim. A boa é que ninguém contesta mais as UPPs. A ruim está na visível ânsia de todos de explorar ao máximo o que dá certo, e isto é arriscado.
Garotinho deseja instituir o Batalhão de Defesa Social, para suprir deficiências das UPPs na atuação direta junto ao morador. A ideia não é nova, e basta fazer uma boa coordenação de todos os órgãos do poder público que atuam nesta direção nas comunidades. Crivella, Pezão e Lindbergh querem ampliar bastante a área de cobertura da polícia. É acertado, mas como? Os três tocam em aspectos essenciais: melhor formação do policial, impedir que a UPP vire coisa de “Zona Sul” (já não é, pois dos mais de 700 mil moradores de comunidades beneficiados ‘diretamente, menos de 120 mil são da Zona Sul) e que se acabe com o desguarnecimento de batalhões na Região Metropolitana, incapazes de enfrentar a migração da violência para a Baixada. O candidato petista frisa que “só ocupação policial não resolve”.
Está tudo certo, mas como implementar as corretas propostas com escassez de recursos e baixa qualificação, em geral, de quem se candidata a soldado da PM? Mesmo numa favela-vitrine, a Rocinha, PMs da UPP desapareceram com Amarildo. Os candidatos precisam fazer propostas realistas, para que, numa ampliação voluntariosa, as UPPs não caiam em descrédito. Seria ruinoso
23 de julho de 2014
Editorial O Globo
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