Está decidido que, até o fim do primeiro turno das eleições deste ano, Senado e Câmara dos Deputados simplesmente fingirão que trabalham
Tudo bem — ou, melhor dizendo, tudo mal —, a Copa acabou e está na hora de o Brasil voltar ao batente. Na área dos poderes da República, isso significa tocar para frente este país que todos acreditamos ser maravilhoso e promissor; ou seja, ele tem ao mesmo tempo um belo futuro pela frente e não está ainda, digamos assim, inteiramente pronto.
É óbvio e indispensável que a decisão de arregaçar as mangas e mergulhar no tal batente seja visível e, digamos assim, realmente honesta. Assim deve ser — mas, lamentavelmente, não é o que nos contam as notícias de Brasília. Acabamos de ficar sabendo que as duas Casas do Congresso — pelo visto exaustas com os dias de patriótico esforço na torcida pela vitória que não tivemos no gramado — decidiram entrar num tal de recesso branco. A expressão, para quem ainda não sabe, tem lamentável significado: não se trabalha, mas, para efeito público, finge-se que há trabalho.
Talvez fosse mais honesto rotular o recesso branco com outra cor: talvez, chamá-lo de vermelho, que é a cor da vergonha. Está decidido que, até o fim do primeiro turno das eleições deste ano, Senado e Câmara dos Deputados simplesmente fingirão que trabalham. Fica a triste impressão de que os nossos ilustres representantes estão convencidos que este nosso país já está, digamos assim, pronto e descansado.
Só isso justificaria o que foi decidido: nos 80 dias que nos separam das eleições, os senadores trabalharão exaustivos dois, em agosto. Os deputados terão maior sacrifício, com dois dias em agosto e mais dois em setembro. Mas os eleitores não precisam se preocupar com o bem-estar daqueles em quem votaram: seus representantes não perderão um só tostão de seus vencimentos. Para quem não sabe, são R$ 26.700 por mês pelos seus patrióticos esforços.
O tal recesso branco seria aceitável, pelas normas do Legislativo, caso senadores e deputados tivessem votado a indispensável Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano que vem. Mas nem isso aconteceu. Em defesa do que foi decidido pelos nossos exaustos parlamentares, o presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (do PMDB de Alagoas) teve uma admirável explicação: não se trata de recesso branco, mas de “compatibilização entre as atividades do Legislativo e as eleições”. Ele reconheceu que não haverá ordem do dia, mas “sessões de discussão”. Ou seja, uma oportunidade para discursos de eminentes representantes do chamado baixo clero, que não perdem a oportunidade de soltar o verbo para plenários vazios ou, simplesmente, desinteressados.
Tudo bem — ou, melhor dizendo, tudo mal —, a Copa acabou e está na hora de o Brasil voltar ao batente. Na área dos poderes da República, isso significa tocar para frente este país que todos acreditamos ser maravilhoso e promissor; ou seja, ele tem ao mesmo tempo um belo futuro pela frente e não está ainda, digamos assim, inteiramente pronto.
É óbvio e indispensável que a decisão de arregaçar as mangas e mergulhar no tal batente seja visível e, digamos assim, realmente honesta. Assim deve ser — mas, lamentavelmente, não é o que nos contam as notícias de Brasília. Acabamos de ficar sabendo que as duas Casas do Congresso — pelo visto exaustas com os dias de patriótico esforço na torcida pela vitória que não tivemos no gramado — decidiram entrar num tal de recesso branco. A expressão, para quem ainda não sabe, tem lamentável significado: não se trabalha, mas, para efeito público, finge-se que há trabalho.
Talvez fosse mais honesto rotular o recesso branco com outra cor: talvez, chamá-lo de vermelho, que é a cor da vergonha. Está decidido que, até o fim do primeiro turno das eleições deste ano, Senado e Câmara dos Deputados simplesmente fingirão que trabalham. Fica a triste impressão de que os nossos ilustres representantes estão convencidos que este nosso país já está, digamos assim, pronto e descansado.
Só isso justificaria o que foi decidido: nos 80 dias que nos separam das eleições, os senadores trabalharão exaustivos dois, em agosto. Os deputados terão maior sacrifício, com dois dias em agosto e mais dois em setembro. Mas os eleitores não precisam se preocupar com o bem-estar daqueles em quem votaram: seus representantes não perderão um só tostão de seus vencimentos. Para quem não sabe, são R$ 26.700 por mês pelos seus patrióticos esforços.
O tal recesso branco seria aceitável, pelas normas do Legislativo, caso senadores e deputados tivessem votado a indispensável Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano que vem. Mas nem isso aconteceu. Em defesa do que foi decidido pelos nossos exaustos parlamentares, o presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (do PMDB de Alagoas) teve uma admirável explicação: não se trata de recesso branco, mas de “compatibilização entre as atividades do Legislativo e as eleições”. Ele reconheceu que não haverá ordem do dia, mas “sessões de discussão”. Ou seja, uma oportunidade para discursos de eminentes representantes do chamado baixo clero, que não perdem a oportunidade de soltar o verbo para plenários vazios ou, simplesmente, desinteressados.
23 de julho de 2014
Luiz Garcia, O Globo
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