"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

PAIXÕES PERIGOSAS

Um dos aspectos mais relevantes em qualquer gestão --pública, privada ou esportiva-- é o processo de tomada de decisões. Os graves problemas enfrentados pela Argentina em consequência de seu calote, os prejuízos e multas bilionárias pagas por bancos americanos por erros na crise de 2008 e as espetaculares derrotas da seleção para a Alemanha e a Holanda têm dimensões, implicações e significados muito diversos. Mas, analisando os processos decisórios, concluímos que sucessos e desastres são gerados por sequência de decisões com características comuns.

As decisões bem-sucedidas têm, com frequência, duas características:

1) São tomadas com serenidade e análise rigorosa de dados e baseadas nos fatos e nas melhores evidências sobre o caminho a seguir.

2) O gestor monitora de perto o resultado das decisões e a evolução do cenário, sempre pronto para, a qualquer momento, mudar de curso ou revertê-lo se as medidas gerarem resultados negativos.

Um processo decisório tenderá ao fracasso quando o gestor tomar com frequência decisões passionais e egocêntricas, priorizando preferências pessoais, emocionais, ideológicas ou políticas. São fatores que contaminam a análise e causam perda de foco em relação aos dados da realidade.

Outro gerador de fracasso aparece quando o gestor adota postura de torcedor emocionado da própria decisão. Vemos isso na gestão de política econômica e de grandes instituições, que levam a crises nacionais de grande gravidade. O mesmo ocorre no esporte e em outros campos.

A recusa em reconhecer o fracasso e a necessidade de mudança caracterizam os processos decisórios baseados em ideias preconcebidas e posições ideológicas, que se sobrepõem à análise serena e realista dos fatos.

Na economia, por exemplo, temos hoje modelagens baseadas em extensas informações e séries históricas de dados, bem como pesquisas acadêmicas abundantes, que permitem decisões mais bem informadas. Muitos desses modelos já passaram por testes exaustivos.

Mas não existem verdades absolutas. As pesquisas trazem muitas vezes resultados diferentes e estão em revisão constante. Além disso, a realidade é complexa e mutante. Por isso, as decisões estão sempre sujeitas a erro e devem ter seus resultados monitorados continuamente, buscando reduzir aspectos passionais ao menor nível possível.

Cada um pode ser tão passional quanto desejar no seu processo de decisão somente quando o tomador da decisão arcar com as consequências. Mas é grave deixar decisões que influenciam grande número de pessoas serem tomadas de forma emocional, passional ou ideológica.

 
23 de julho de 2014
Henrique Meirelles, Folha de SP

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