A economia brasileira aguarda, com um calcanhar de Aquiles, uma mudança importante no fluxo de capitais no mundo. Quando os juros americanos começarem a subir, os Estados Unidos atrairão mais dólares, e o Brasil está com 3,6% de déficit externo. Claro, temos o nosso colchão para amortecer eventuais choques, os US$ 380 bilhões de reservas, mas é bom se preparar para o inverno.
Os números não ajudam a atrair capitais de longo prazo. O PIB está em desaceleração e a inflação, alta demais. A conta-corrente, cálculo que engloba várias transações com o exterior além do comércio, tinha um superávit de 1,2% do PIB em 2006 e agora está com o déficit de 3,6%. Isso faz o Brasil ser mais vulnerável à mudança na política monetária americana. Ela está cada vez mais próxima. Já está avançada a fase de retirada dos estímulos monetários.
A presidente do Fed, Janet Yellen, foi duas vezes na semana passada ao Congresso americano. Sua fala deixou o mercado financeiro internacional dividido. Alguns economistas entenderam que o aumento dos juros só acontecerá no final de 2015, outros avaliaram que pode ser antes, já no primeiro semestre do ano que vem.
Na verdade, o que ela disse é o que os economistas adoram dizer: “depende”. Segundo Yellen, há bons indicadores econômicos, mas não há certeza de recuperação. O desemprego caiu, mas para ela não é 6,5% o alvo, e sim algo entre 5% e 5,5%. Admitiu que a dívida dos estudantes universitários é muito alta e um problema. Negou que haja sinais de bolha, apesar de o S&P 500 estar 30% acima do pico de 2007.
Os juros americanos estão zerados desde 2008, quando começou a crise internacional. Isso e as compras de títulos (Quantitative Easing) inundaram de dólares a economia mundial e facilitou a vida de alguns países, entre eles, o Brasil. Passamos a absorver mais poupança externa e o dólar mais barato ajudou a inflação.
A tendência é a moeda americana subir no ano que vem e o contexto brasileiro é de inflação acima da meta e preços represados. A boa notícia é que a diminuição do déficit em conta-corrente fica mais fácil com a desvalorização do real, porque o real mais fraco desestimula as importações e favorece as exportações. Entram mais dólares; saem menos. O problema é o efeito colateral na inflação. Quando o dólar sobe, os preços das commodities também se elevam.
Durante todo o depoimento no Senado, Janet Yellen demonstrou uma mistura de cautela com otimismo. Afirmou que acredita na recuperação da economia americana, mas lembrou que em vários momentos nos últimos anos o ritmo ficou abaixo do esperado. Explicou que o Fed não olha para apenas um indicador, como a taxa de desemprego, mas para um conjunto de números, que vão do mercado de trabalho, crescimento da renda, do PIB, mercado imobiliário, investimentos, balança comercial. Ou seja, quer ter absoluta certeza de que o crescimento é forte e sustentável, antes de começar a subir os juros. Sobre o tombo de 3% do PIB no primeiro trimestre, Yellen também atribuiu ao inverno rigoroso, que diminuiu as vendas do comércio e interrompeu a produção.
No mercado, há duas incertezas. Quando o Fed começará a subir a taxa de juros e qual será esse ritmo. O mais provável é ser gradual. O economista-chefe da Modal Asset, Alexandre de Ázara, acredita que o Fed vai adiar o quanto pode a alta, para então fazer uma mudança repentina.
— Não há consenso sobre isso, mas, na minha visão, a estratégia será adiar ao máximo o aumento, para ter certeza de que a recuperação está firme, para então provocar uma subida mais rápida dos juros — disse.
Ázara explicou que muitas previsões para a economia americana apontam para um crescimento entre 3% e 4% por um período de 18 meses. Um ritmo forte para um PIB de US$ 17,5 trilhões, quase oito vezes o tamanho da economia brasileira. Isso empurraria a inflação para acima da meta americana, que é de 2% e já está em 1,8%, e aumentaria o risco de bolhas.
“O inverno está chegando” é a frase que o mercado gosta de repetir prenunciando os riscos do futuro e parodiando uma famosa série de TV. Para a economia mundial, isso representa o aumento de juros por parte do Banco Central americano. O Brasil precisa se preparar para essa mudança de temperatura.
Os números não ajudam a atrair capitais de longo prazo. O PIB está em desaceleração e a inflação, alta demais. A conta-corrente, cálculo que engloba várias transações com o exterior além do comércio, tinha um superávit de 1,2% do PIB em 2006 e agora está com o déficit de 3,6%. Isso faz o Brasil ser mais vulnerável à mudança na política monetária americana. Ela está cada vez mais próxima. Já está avançada a fase de retirada dos estímulos monetários.
A presidente do Fed, Janet Yellen, foi duas vezes na semana passada ao Congresso americano. Sua fala deixou o mercado financeiro internacional dividido. Alguns economistas entenderam que o aumento dos juros só acontecerá no final de 2015, outros avaliaram que pode ser antes, já no primeiro semestre do ano que vem.
Na verdade, o que ela disse é o que os economistas adoram dizer: “depende”. Segundo Yellen, há bons indicadores econômicos, mas não há certeza de recuperação. O desemprego caiu, mas para ela não é 6,5% o alvo, e sim algo entre 5% e 5,5%. Admitiu que a dívida dos estudantes universitários é muito alta e um problema. Negou que haja sinais de bolha, apesar de o S&P 500 estar 30% acima do pico de 2007.
Os juros americanos estão zerados desde 2008, quando começou a crise internacional. Isso e as compras de títulos (Quantitative Easing) inundaram de dólares a economia mundial e facilitou a vida de alguns países, entre eles, o Brasil. Passamos a absorver mais poupança externa e o dólar mais barato ajudou a inflação.
A tendência é a moeda americana subir no ano que vem e o contexto brasileiro é de inflação acima da meta e preços represados. A boa notícia é que a diminuição do déficit em conta-corrente fica mais fácil com a desvalorização do real, porque o real mais fraco desestimula as importações e favorece as exportações. Entram mais dólares; saem menos. O problema é o efeito colateral na inflação. Quando o dólar sobe, os preços das commodities também se elevam.
Durante todo o depoimento no Senado, Janet Yellen demonstrou uma mistura de cautela com otimismo. Afirmou que acredita na recuperação da economia americana, mas lembrou que em vários momentos nos últimos anos o ritmo ficou abaixo do esperado. Explicou que o Fed não olha para apenas um indicador, como a taxa de desemprego, mas para um conjunto de números, que vão do mercado de trabalho, crescimento da renda, do PIB, mercado imobiliário, investimentos, balança comercial. Ou seja, quer ter absoluta certeza de que o crescimento é forte e sustentável, antes de começar a subir os juros. Sobre o tombo de 3% do PIB no primeiro trimestre, Yellen também atribuiu ao inverno rigoroso, que diminuiu as vendas do comércio e interrompeu a produção.
No mercado, há duas incertezas. Quando o Fed começará a subir a taxa de juros e qual será esse ritmo. O mais provável é ser gradual. O economista-chefe da Modal Asset, Alexandre de Ázara, acredita que o Fed vai adiar o quanto pode a alta, para então fazer uma mudança repentina.
— Não há consenso sobre isso, mas, na minha visão, a estratégia será adiar ao máximo o aumento, para ter certeza de que a recuperação está firme, para então provocar uma subida mais rápida dos juros — disse.
Ázara explicou que muitas previsões para a economia americana apontam para um crescimento entre 3% e 4% por um período de 18 meses. Um ritmo forte para um PIB de US$ 17,5 trilhões, quase oito vezes o tamanho da economia brasileira. Isso empurraria a inflação para acima da meta americana, que é de 2% e já está em 1,8%, e aumentaria o risco de bolhas.
“O inverno está chegando” é a frase que o mercado gosta de repetir prenunciando os riscos do futuro e parodiando uma famosa série de TV. Para a economia mundial, isso representa o aumento de juros por parte do Banco Central americano. O Brasil precisa se preparar para essa mudança de temperatura.
23 de julho de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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