Um colega postou esta semana numa rede social uma foto mostrando criancinhas (com, no máximo, 5 anos) levadas à escola em carroça puxada por um jumento. Sim, é claro que ainda há coisas absurdas assim - e essa, especificamente, foi registrada no interior pernambucano. Recentemente, fiz um tour nostálgico pelo Recife e me assustei com as palafitas à beira do Capibaribe. Achei que nem existissem mais... Porém, o que os olhos não veem o coração não sente, não é?
Quanto ao jegue como transporte escolar, não houve surpresa, mas a indignação voltou. Explico: programa criado no início da década de 1990 para garantir locomoção estudantil foi ganhando corpo e hoje atende a 2 milhões de alunos. Só nos últimos 10 anos, foram comprados 17 mil ônibus - e mais de 100 mil bicicletas e mil lanchas. Até o fim deste ano, quase R$ 1 bilhão serão gastos no Programa Caminho da Escola. Fora os outros tantos milhões gastos com prefeituras para a "terceirização" do serviço.
No geral, pelo menos 9 a 10 milhões de alunos usam o serviço público escolar (específico) para chegar aonde estudam. Obviamente que, num país do nosso tamanho, tanto físico quanto populacional, ainda há muitos adolescentes e crianças que não são atendidos. Mas essa cena, pelo amor de Deus, não pode mais se repetir - e em zona urbana! Essa é a prova de quanto somos estupidamente tolerantes com nossos prefeitos, vereadores, governadores...
Um amigo viu, há poucos dias, um daqueles ônibus amarelinhos (com placa de município a 450km do litoral) estacionado numa praia em Fortaleza. Numa cidadezinha perto de Garanhuns, vi dois veículos transportando feirantes - os demais ônibus, por sinal, estavam quebrados. Na Paraíba, o Ministério Público e o Detran realizaram uma fiscalização no início do ano e constataram: dos 1.289 ônibus vistoriados, 1.171 foram reprovados - 92% do total. No Maranhão, no começo de abril, oito jovens de 11 a 17 anos morreram num acidente. Estavam, com outros 20 coleguinhas, em cima de velha caminhonete - e o padre, o promotor e, principalmente, o prefeito, sabiam disso. Até a Controladoria-Geral da União tinha conhecimento. Em 2012, denunciou o fato. A Polícia Rodoviária Federal sabe dessas coisas. As demais polícias idem. Eu e você também. E não fazemos nada?
23 de julho de 2014
Renato Ferraz, Correio Braziliense
Quanto ao jegue como transporte escolar, não houve surpresa, mas a indignação voltou. Explico: programa criado no início da década de 1990 para garantir locomoção estudantil foi ganhando corpo e hoje atende a 2 milhões de alunos. Só nos últimos 10 anos, foram comprados 17 mil ônibus - e mais de 100 mil bicicletas e mil lanchas. Até o fim deste ano, quase R$ 1 bilhão serão gastos no Programa Caminho da Escola. Fora os outros tantos milhões gastos com prefeituras para a "terceirização" do serviço.
No geral, pelo menos 9 a 10 milhões de alunos usam o serviço público escolar (específico) para chegar aonde estudam. Obviamente que, num país do nosso tamanho, tanto físico quanto populacional, ainda há muitos adolescentes e crianças que não são atendidos. Mas essa cena, pelo amor de Deus, não pode mais se repetir - e em zona urbana! Essa é a prova de quanto somos estupidamente tolerantes com nossos prefeitos, vereadores, governadores...
Um amigo viu, há poucos dias, um daqueles ônibus amarelinhos (com placa de município a 450km do litoral) estacionado numa praia em Fortaleza. Numa cidadezinha perto de Garanhuns, vi dois veículos transportando feirantes - os demais ônibus, por sinal, estavam quebrados. Na Paraíba, o Ministério Público e o Detran realizaram uma fiscalização no início do ano e constataram: dos 1.289 ônibus vistoriados, 1.171 foram reprovados - 92% do total. No Maranhão, no começo de abril, oito jovens de 11 a 17 anos morreram num acidente. Estavam, com outros 20 coleguinhas, em cima de velha caminhonete - e o padre, o promotor e, principalmente, o prefeito, sabiam disso. Até a Controladoria-Geral da União tinha conhecimento. Em 2012, denunciou o fato. A Polícia Rodoviária Federal sabe dessas coisas. As demais polícias idem. Eu e você também. E não fazemos nada?
23 de julho de 2014
Renato Ferraz, Correio Braziliense
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