O governo vem se esforçando para mostrar que a inflação, nas palavras da presidente Dilma Rousseff, está "completamente sob controle". A vida real dos brasileiros, porém, revela uma situação bem menos segura. Conforme mostrou o Estado no domingo passado, a classe média já começa a refazer as contas para lidar com a atual escalada inflacionária e, principalmente, para enfrentar a futura alta dos chamados preços administrados, represados em razão do calendário eleitoral.
Os consumidores consultados na reportagem demonstram um comportamento-padrão ante as perspectivas sombrias. A maioria diz que reduziu as idas ao supermercado e que passou a evitar compras a prazo. Despesas foram cortadas e viagens foram adiadas. Precavidos, alguns entrevistados revelam que começaram a guardar dinheiro por medo do que acontecerá depois das eleições. "Decidi economizar porque achei que o governo está escondendo muita coisa", disse uma administradora de 36 anos, para quem os preços "vão subir bastante" assim que a eleição passar.
Esse tipo de reação indica que o discurso otimista do governo sobre a saúde da economia nacional, sempre pontuado pelas alardeadas conquistas da classe média, perdeu força ante as evidências cotidianas de que o poder de compra dessa mesma classe vem se deteriorando mês a mês.
Para um país que acordou apenas muito recentemente do pesadelo da inflação galopante, qualquer sinal de descontrole é logo visto com apreensão. É claro que não se vive a mesma situação daqueles tempos, em que a alta dos preços era diária, mas a atual administração parece empenhada em aumentar a desconfiança em sua capacidade de enfrentar o problema.
Não passa dia sem que se revele mais alguma manobra do governo para dar às contas públicas uma aparência de normalidade. Além disso, o discurso oficial fez do teto da meta de inflação a meta em si, para alegar que a alta dos preços está "dentro da meta". Esse é o mais claro indicativo da indisposição do governo de conter de fato a inflação, pois, como se sabe, o teto da meta é apenas uma margem de tolerância para enfrentar um choque de alguns preços derivado de situações temporárias, como quebra de safra. O que deveria ser excepcional se tornou normal, mostrando uma clara leniência com a inflação.
Assim, a classe média, sobre cujos ombros costumam recair as consequências dos erros do governo, parece já ter se dado conta de que está sozinha na luta contra a inflação. "Agora é o momento de segurar as despesas. É uma poupança forçada", disse a este jornal um gerente de compras de 68 anos.
Essa precaução se reflete na temperatura do comércio. Números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o consumo das famílias no primeiro trimestre deste ano foi 0,1% inferior ao do trimestre anterior. Em abril, as vendas no varejo recuaram 0,4% ante março, descontados os efeitos sazonais.
Os consumidores demonstram igual indisposição para gastar no terceiro trimestre. A Pesquisa Trimestral de Intenção de Compras, da Fundação Instituto de Administração, mostra que apenas 46,6% dos pesquisados pretendem comprar algum bem durável ou semidurável entre julho e setembro. É o menor porcentual para o período em 12 anos.
Esse comportamento ressabiado é plenamente justificado ante as expectativas de que a economia cresça menos de 1% neste ano e ante a necessidade urgente de majorar os preços dos combustíveis, das passagens de ônibus e da energia elétrica, entre outros preços administrados que foram congelados para atender a interesses eleitoreiros.
A combinação de inflação alta com crescimento baixo tende a prejudicar a geração de empregos, algo que a classe média já percebeu. "Tenho medo do desemprego", disse outra entrevistada pelo Estado, resumindo o humor desses brasileiros que começam a se dar conta de que o paraíso prometido pelo governo não é tão bonito quanto na propaganda.
Os consumidores consultados na reportagem demonstram um comportamento-padrão ante as perspectivas sombrias. A maioria diz que reduziu as idas ao supermercado e que passou a evitar compras a prazo. Despesas foram cortadas e viagens foram adiadas. Precavidos, alguns entrevistados revelam que começaram a guardar dinheiro por medo do que acontecerá depois das eleições. "Decidi economizar porque achei que o governo está escondendo muita coisa", disse uma administradora de 36 anos, para quem os preços "vão subir bastante" assim que a eleição passar.
Esse tipo de reação indica que o discurso otimista do governo sobre a saúde da economia nacional, sempre pontuado pelas alardeadas conquistas da classe média, perdeu força ante as evidências cotidianas de que o poder de compra dessa mesma classe vem se deteriorando mês a mês.
Para um país que acordou apenas muito recentemente do pesadelo da inflação galopante, qualquer sinal de descontrole é logo visto com apreensão. É claro que não se vive a mesma situação daqueles tempos, em que a alta dos preços era diária, mas a atual administração parece empenhada em aumentar a desconfiança em sua capacidade de enfrentar o problema.
Não passa dia sem que se revele mais alguma manobra do governo para dar às contas públicas uma aparência de normalidade. Além disso, o discurso oficial fez do teto da meta de inflação a meta em si, para alegar que a alta dos preços está "dentro da meta". Esse é o mais claro indicativo da indisposição do governo de conter de fato a inflação, pois, como se sabe, o teto da meta é apenas uma margem de tolerância para enfrentar um choque de alguns preços derivado de situações temporárias, como quebra de safra. O que deveria ser excepcional se tornou normal, mostrando uma clara leniência com a inflação.
Assim, a classe média, sobre cujos ombros costumam recair as consequências dos erros do governo, parece já ter se dado conta de que está sozinha na luta contra a inflação. "Agora é o momento de segurar as despesas. É uma poupança forçada", disse a este jornal um gerente de compras de 68 anos.
Essa precaução se reflete na temperatura do comércio. Números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o consumo das famílias no primeiro trimestre deste ano foi 0,1% inferior ao do trimestre anterior. Em abril, as vendas no varejo recuaram 0,4% ante março, descontados os efeitos sazonais.
Os consumidores demonstram igual indisposição para gastar no terceiro trimestre. A Pesquisa Trimestral de Intenção de Compras, da Fundação Instituto de Administração, mostra que apenas 46,6% dos pesquisados pretendem comprar algum bem durável ou semidurável entre julho e setembro. É o menor porcentual para o período em 12 anos.
Esse comportamento ressabiado é plenamente justificado ante as expectativas de que a economia cresça menos de 1% neste ano e ante a necessidade urgente de majorar os preços dos combustíveis, das passagens de ônibus e da energia elétrica, entre outros preços administrados que foram congelados para atender a interesses eleitoreiros.
A combinação de inflação alta com crescimento baixo tende a prejudicar a geração de empregos, algo que a classe média já percebeu. "Tenho medo do desemprego", disse outra entrevistada pelo Estado, resumindo o humor desses brasileiros que começam a se dar conta de que o paraíso prometido pelo governo não é tão bonito quanto na propaganda.
23 de julho de 2014
Editorial O Estadão
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