O líder máximo da China, Xi Jinping, pinçou uma frase de Confúcio para comentar os 40 anos de relações bilaterais entre seu país e o Brasil. Nessa idade, segundo disse o sábio chinês, "a pessoa se livra da perplexidade". É difícil sustentar, contudo, que o enunciado se aplique igualmente às duas nações.
A visita de Xi Jinping a Brasília ontem deixou como legado a assinatura de 32 acordos, entre os quais se destacam a retirada do embargo à carne bovina brasileira e a compra de 60 jatos da Embraer, numa transação de US$ 2,9 bilhões (para comparação, o Brasil demorou 15 anos para adquirir 36 caças suecos por US$ 4,5 bilhões).
Brasil e China, no entanto, nem sempre conviveram em meio a cifras suntuosas. Em 1978, quatro anos após a formalização dos laços diplomáticos (ocorrida em 15 de agosto de 1974), o saldo da balança comercial era de US$ 133 milhões.
No ano passado, esse montante era alcançado em cerca de 15 horas; a soma das exportações e importações entre os dois países atingiu US$ 83,3 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento.
Esse crescimento se deu sobretudo neste século, graças à disparada da economia chinesa. A partir de 2009, a China superou os EUA para se tornar nosso primeiro parceiro comercial; o Brasil está em nono lugar na lista de Pequim.
Por baixo dos números grandiosos, porém, há um aspecto preocupante: até o início dos anos 1990, o Brasil exportava principalmente manufaturados; hoje, predomina a venda de matéria-prima, e vários setores da indústria perdem mercado para os chineses.
No campo político, divergências ideológicas jamais se converteram em obstáculo intransponível nesses 40 anos. Primeiro como ditadura militar alinhada aos EUA, depois como democracia, o Brasil foi se aproximando cada vez mais do país dirigido com mão de ferro sempre pelo Partido Comunista.
O pragmatismo de ambos os lados e a ausência de pendências históricas fizeram com que prevalecessem as afinidades de países continentais em desenvolvimento.
São continentais, contudo, também as diferenças econômicas e demográficas. Enquanto a China ostentou, no ano passado, PIB de US$ 9,2 trilhões e mais de 1,3 bilhão de habitantes, o Brasil apresentou PIB de US$ 2,3 trilhões e 201 milhões de habitantes.
Com crescimento pífio nos últimos anos e tendo sua indústria estagnada, o Brasil se acomoda como coadjuvante e assiste, decerto com perplexidade, ao avanço do gigante asiático, cada vez mais confortável no papel de potência global.
23 de julho de 2014
Editorial Folha de SP
A visita de Xi Jinping a Brasília ontem deixou como legado a assinatura de 32 acordos, entre os quais se destacam a retirada do embargo à carne bovina brasileira e a compra de 60 jatos da Embraer, numa transação de US$ 2,9 bilhões (para comparação, o Brasil demorou 15 anos para adquirir 36 caças suecos por US$ 4,5 bilhões).
Brasil e China, no entanto, nem sempre conviveram em meio a cifras suntuosas. Em 1978, quatro anos após a formalização dos laços diplomáticos (ocorrida em 15 de agosto de 1974), o saldo da balança comercial era de US$ 133 milhões.
No ano passado, esse montante era alcançado em cerca de 15 horas; a soma das exportações e importações entre os dois países atingiu US$ 83,3 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento.
Esse crescimento se deu sobretudo neste século, graças à disparada da economia chinesa. A partir de 2009, a China superou os EUA para se tornar nosso primeiro parceiro comercial; o Brasil está em nono lugar na lista de Pequim.
Por baixo dos números grandiosos, porém, há um aspecto preocupante: até o início dos anos 1990, o Brasil exportava principalmente manufaturados; hoje, predomina a venda de matéria-prima, e vários setores da indústria perdem mercado para os chineses.
No campo político, divergências ideológicas jamais se converteram em obstáculo intransponível nesses 40 anos. Primeiro como ditadura militar alinhada aos EUA, depois como democracia, o Brasil foi se aproximando cada vez mais do país dirigido com mão de ferro sempre pelo Partido Comunista.
O pragmatismo de ambos os lados e a ausência de pendências históricas fizeram com que prevalecessem as afinidades de países continentais em desenvolvimento.
São continentais, contudo, também as diferenças econômicas e demográficas. Enquanto a China ostentou, no ano passado, PIB de US$ 9,2 trilhões e mais de 1,3 bilhão de habitantes, o Brasil apresentou PIB de US$ 2,3 trilhões e 201 milhões de habitantes.
Com crescimento pífio nos últimos anos e tendo sua indústria estagnada, o Brasil se acomoda como coadjuvante e assiste, decerto com perplexidade, ao avanço do gigante asiático, cada vez mais confortável no papel de potência global.
23 de julho de 2014
Editorial Folha de SP
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