O primeiro capítulo da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, focalizado em monumental reportagem de Robson Bonin, decretou praticamente a demissão do ministro Edinho Silva e detonou publicamente o esquema de corrupção montado pelo PT. A reportagem encontra-se numa sequencia de páginas da Revista Veja que circulou sábado e está nas bancas. Quando me referi ao primeiro capítulo foi por considerar que a delação premiada vai prosseguir e será dividida em várias etapas. Porque ninguém detentor de tantos segredos, como Ricardo Pessoa, vai divulgar o que sabe de uma só vez.
A importância da matéria publicada é tão grande que a revista Veja a colocou em seu site na Internet, sexta-feira, possibilitando assim que O Globo, a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo também a publicassem no sábado. Uma bomba, como se diz no jornalismo, tão forte que levou a presidente Dilma a retardar seu voo para os EUA, a fim de buscar esclarecimentos por parte de alguns acusados de receber sombrias doações por parte do Clube das Empreiteiras, presidido pelo dono da UTC Engenharia.
Ficou péssima a imagem de Edinho Silva, porque ao procurar Ricardo Pessoa, segundo este dirigiu ameaça frontal ao empresário, condicionando a continuidade dos seus contratos com a Petrobrás a recursos financeiros destinados ao universo da legenda partidária, mas cujo destino real não parece ter sido somente este.
LEGAIS E ILEGAIS
Há doações e doações. É preciso separar as legais daquelas ilegais. E estas aconteceram, tanto assim que os que as receberam procuraram ocultar as provas dos fatos, mas esqueceram-se das imagens gravadas pelos aparelhos instalados nas salas e provavelmente também em restaurantes onde encontros aconteceram.
Caso, por exemplo, de João Vaccari Neto, que picotava as importâncias exigidas escritas em pedaços de papel para evitar gravações sonoras. Rabiscava os papeis e os picotava, jogando-os em latas de lixo diversas. Não adiantou o esforço de blindagem, as câmeras da UTC captaram e arquivaram suas imagens que conduzem seu autor ao campo da ilegalidade praticada e de sua confissão explícita.
As explicações fornecidas por Edinho Silva, Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardoso (reportagem de Cristiane Jungblat, O Globo de domingo) não convencem a pessoa alguma no que diz respeito a sua inocência. Principalmente a versão de Edinho Silva, que não nega o fato, preferindo enveredar pelo caminho do que ele chamou de vazamento seletivo voltado para a luta política.
LUTA POLÍTICA
Qual luta política? Em primeiro lugar, não se trata desse tipo de embate, mas sim de um processo de sórdida corrupção, praticada a base da vantagem direta feita sob a capa de ameaça explícita. O caso de Edinho Silva é muito mais grave que o de Aloizio Mercadante, pois este foi apontado como tendo recebido do Clube das Empreiteiras uma doação de 500 mil reais. Mas o caso de Edinho Silva é muitas vezes mais amplo do que este.
E o que dizer de João Vaccari Neto aplaudido de pé no encontro do PT em Salvador? O ex-senador Gim Argelo, num torpe episódio é acusado por Pessoa de ter recebido 5 milhões de reais para sepultar a primeira CPI da Petrobrás no Congresso Nacional. Além disso, Ricardo Pessoa aponta José Dirceu como personagem de falsa consultoria, fórmula usada para encobrir propinas por sua influência no governo, embora já se encontrasse condenado pelo Supremo Tribunal Federal.
COMPERJ
O episódio da construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, orçado em 2006 em 6,1 bilhões de dólares, já passa hoje de 30 bilhões de dólares e ainda não foi concluído ao longo de nove anos. Nesse Complexo Industrial a UTC integrava o grupo construtor ao lado da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Ricardo Pessoa revelou que os subornos iniciais chegaram a 15 milhões de reais, tendo ele sido encarregado de pagar a parte destinada ao PT, nela não incluídas parcelas posteriores destinadas a outros partidos e seus representantes. Quer dizer: um assalto avassalador, com partidos e políticos investidos no papel de assaltantes.
E assim conclui-se a primeira parte da história da delação premiada do dono da UTC, solução aprovada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Produziu fortes reflexos no governo Dilma Rousseff e certamente, produzirá outros talvez ainda mais intensos. Afinal de contas, a queda inevitável do ministro Edinho Silva deverá estar entre eles.
Pode não ser demitido pela presidente da República, porém deverá demitir-se, já que sua presença no Executivo tornará o Palácio do Planalto cada vez mais vulnerável aos ataques da oposição, que não é liderada pelo PSDB ou por ninguém em especial mas sim pela rejeição destacada na reação da própria população brasileira de forma maciça como as pesquisas do Datafolha estão apontando. Se Dilma Rousseff já se encontrava mal no último levantamento, agora sua posição só pode ser pior, e agravada, se for o caso, pela presença no ministério de um personagem tão indesejado quanto indesejável como o titular da Comunicação Social.
29 de junho de 2015
Pedro do Coutto
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