"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O CONTO DO LIVRE COMÉRCIO EM QUE SEMPRE CAÍMOS





Se há um “conto do vigário” recorrente, no qual temos caído, sempre, historicamente, ele é o do “livre” comércio. A tradição de negociar com os de fora em condição de inferioridade, como se fosse tremenda vantagem, é uma marca cultural brasileira, que deve ter se inaugurado quando, na areia, contemplando as primeiras caravelas, os nativos destas terras entregaram aos portugueses confessáveis e inconfessáveis riquezas, em troca de espelhinhos e miçangas.
A presidente Dilma Roussef retornou, há poucos dias, da Cúpula entre a CELAC – Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe, e a União Europeia, realizada na semana passada, em Bruxelas.
Na Bélgica, ela tinha também a expectativa de fazer avançar as negociações em torno do acordo de comércio entre o Mercosul e a União Europeia, mas voltou de mãos abanando.
Na linha do “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”, os europeus, como fazem há anos, depois de acusar o Mercosul e o Brasil de protecionismo e de estar atrasando as negociações, pediram para transferir a próxima reunião para outubro.
ABRIR O MERCOSUL
Muito mais fechados do que querem fazer parecer em jornais brasileiros que divulgam – e muitas vezes defendem, abertamente – suas posições, os europeus não buscam um acordo equilibrado e tem suas próprias dificuldades para chegar a um consenso.
O que a UE quer é abrir o mercado do Mercosul, com um PIB de 3 trilhões de dólares (2.3 trilhões do Brasil) às suas exportações de máquinas e serviços, sem levantar suas barreiras às exportações do Mercosul, mesmo que estas em sua maioria sejam de commodities agrícolas de baixo valor agregado.
Ao contrário da nossa, a agricultura europeia é altamente subsidiada, não apenas em seus principais países, mas também em pequenas nações que entraram para a UE e a OTAN recentemente, em troca de seu afastamento da órbita russa.
UMA BALELA
O “livre” comércio de europeus e norte-americanos é uma balela.
Uns e outros defendem seus interesses, tanto é que o propalado acordo transcontinental entre a Europa e os Estados Unidos está enfrentando cada vez mais resistências dos dois lados do Atlântico.
E fazem o mesmo com relação ao Brasil, como pode ser visto, com dois exemplos, entre muitos outros:
Para vender aos EUA aviões – que já contam com muitas peças Made in USA – a Embraer teve que, primeiro, montar uma fábrica na Flórida, e associar-se de forma minoritária com uma empresa norte-americana.
E, agora, o empreendedor brasileiro-norte-americano David Nelleman, da AZUL, teve de associar-se também minoritariamente ao português Humberto Pedrosa para disputar e ganhar a privatização da TAP – Transportes Aéreos Portugueses (nascidos em outro continente não podem controlar companhias de aviação europeias).
Enquanto isso, por aqui, esquemas acionários mirabolantes permitem, de fato, o controle externo de companhias aéreas nacionais, e parlamentares defendem, ferrenhamente, no Congresso, o fim das restrições à venda de terras para empresas e cidadãos estrangeiros.

29 de junho de 2015
Mauro Santayana
(Hoje em Dia)

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