"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

CAVALO ENCILHADO NÃO PASSA DUAS VEZES

Há alguns anos, quando o assassinato do prefeito Celso Daniel ainda era assunto do dia, ouvi em São Paulo uma surpreendente versão dos fatos. Dizia-se que certa altíssima personalidade tucana havia interferido para que as investigações do Ministério Público se esvaziassem e o inquérito policial fosse acochambrado. O motivo: se a cúpula do petê fosse envolvida, o partido implodiria e o vácuo político resultante seria ocupado pela “extrema Direita”. Nunca soube se essa história era falsa ou verdadeira, mas cismei com a conclusão: por que tanto medo da – atenção para as aspas – “extrema Direita”? Pois a pobre “extrema Direita” não passava de pequenos grupos de contestadores dispersos e ignorados que se reuniam nas catacumbas, pregavam no vazio e mal conseguiam conciliar-se entre si. Os únicos pontos fortes da Direita eram a fé no Brasil, o sentimento de honra e a convicção de que a verdade um dia haveria de prevalecer.

Os anos se passaram. O petê tomou o poder em 2002 e chegou ao apogeu em 2010. Se o esquema do pré-sal desse certo, se a conjuntura econômica mundial continuasse a ajudar, se a Copa resultasse no Hexa, se o petê encaixasse o plebiscito tipo Venezuela, hoje estaríamos a caminho da dissolução do Brasil na URCAL - a União das Repúblicas Cucarachas da América Latina. Infelizmente, porém, como dizia o saudoso General Moraes Coelho, infelizmente para eles, a maionese desandou. O pré-sal gorou, a conjuntura mudou, a Alemanha ganhou de 7 a 1, o plebiscito não colou, e ainda por cima, vieram a Lava Jato e as crescentes manifestações de protesto. O repúdio e a revolta da melhor parte do povo brasileiro finalmente chegaram às ruas, e não pretendem se recolher.

Percebendo que as coisas estão chegando a ponto perigoso (lembrai-vos de Março de 64!), a oligarquia resolveu liquidar o petê, que se transformou em estorvo aos seus negócios. Mas, como dissemos no último artigo, essa liquidação terá de ser feita com muito jeito para não estragar o esquema. Querem descartar Inácio e dissolver o petê, mas querem também herdar, intactos, seus currais eleitorais e suas bocas-ricas. A intenção é mudar tudo, para que tudo permaneça como está.

Analisando a situação do Brasil treze anos após o assassinato de Celso Daniel, confesso que só agora entendi a preocupação do corifeu tucano com a então insignificante “extrema Direita”. Ele tinha razão. A implosão do petê coincide com o recrudescimento dos protestos e do repúdio nas pesquisas de opinião e os protestos cada vez mais ecoam o que a oposição – a oposição de verdade, que insistem em chamar de “extrema Direita” – vem pregando há mais de vinte anos.

A coisa tem sua lógica. Sem o petê, os tucanos tentam ganhar terreno à esquerda, ou seja, nos arraiais da bolsa-família. Mas ao mesmo tempo, cada vez mais são identificados como falsa oposição. Cai a máscara. Os tucanos nunca foram adversários do petê. São concorrentes que brigam para dominar o mesmo negócio. Com isso, os tucanos perdem espaço junto aos eleitores que estudam, trabalham, produzem e pagam impostos. Essa classe de eleitores tem muito peso em épocas de crise institucional, quando o sistema político perde a credibilidade, porque é formadora de opinião e pode arrastar consigo grande parte do eleitorado que tradicionalmente tem votado na Esquerda. Sem saída, ignorada e excluída da política, sentindo-se sem representação no Congresso, essa poderosa categoria social de repente presta atenção na tão difamada e exorcismada “extrema Direita” e verifica, surpresa, que esta, sim, representa os seus interesses.

Não tenho a menor ilusão quanto à possibilidade de restabelecer o Brasil dentro da constituição de 1988. Mas como é esse o teatro de operações disponível, há que virar o jogo dentro das regras do jogo.

Já se fala em lançar candidaturas de oposição de verdade nas próximas eleições presidenciais. Por enquanto, há dois nomes em destaque: o Deputado Jair Bolsonaro e o Senador Ronaldo Caiado. Ambos excelentes. Se houver possibilidade de composição, tanto melhor. O cenário político é excepcionalmente favorável. A crise vai se aprofundar. Com ou sem o petê, o regime continuará a se deteriorar, e a melhor parte do eleitorado, farta de ser enganada pela falsa oposição, certamente vai apostar nessa nova perspectiva de esperança.

Quais as possibilidades? Não tenho ideia, mas qualquer resultado poderá ser considerado como vitória. Ainda se perder, a oposição terá vencido, porque seu impacto abrirá profunda brecha na linha de frente da oligarquia, polarizará e consolidará suas hostes ainda dispersas e ocupará posições permanentes no tabuleiro político.

Mas se a oposição ganhar, será apenas o começo duma revolução de verdade.

29 de junho de 2015
A.C,Portinari Greggio

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