SÃO PAULO - Os otomanos sitiam Constantinopla, mas a imperatriz bizantina sorri e relaxa. É intrigante a ligeireza de espírito de Dilma Rousseff em meio à mais dramática enrascada política vivida por um presidente desde Fernando Collor. Escapismo, confusão mental ou deliberada sabedoria?
Talvez a presidente venha articulando um plano secreto para virar o jogo. Talvez confie na intervenção divina ou, materialista, na imposição inexorável da História.
Como de nada sabemos, ficamos a observar o governo esfarelar-se entre uma pedalada e outra. Tentamos decifrar, como os leitores de Dan Brown, que simbolismos estariam escondidos em referências herméticas acerca do papel da bola indígena e da mandioca na civilização. Prevalece a fumaça do mistério.
É tempo de metáforas. O ministro Joaquim Levy relembra a escola de construção de navios, onde se fez engenheiro, e nos diz que a economia está de ressaca. Não a ressaca dos homens após a bebedeira, mas a dos mares depois da tempestade. Isso passa, garante.
O chefe da Fazenda também gosta de comparar a tarefa do governo à do marujo incumbido de desfazer a bagunça do convés e deixá-lo limpo para quando o navio desencalhar e puder cruzar oceanos. É uma alegoria liberal sobre o papel do Estado, de mero regulador de uma atividade que deveria ser praticada por empresários, trabalhadores e investidores.
Já os puritanos rejeitam metáforas. Eduardo Cunha, na Câmara, e Sergio Moro, no Judiciário, parecem predestinados de Calvino. Cunha colocou a Casa num transe de votações definidoras cujo confuso resultado ameaça a estabilidade institucional e o equilíbrio fiscal. Moro e os procuradores intocáveis na vampírica Curitiba agem como cruzados que creem estar passando 500 anos de corrupção na lâmina de suas espadas.
Tenho pensado em me mudar para o Paraguai. No sentido metafórico.
29 de junho de 2015
Vinicius Mota
Talvez a presidente venha articulando um plano secreto para virar o jogo. Talvez confie na intervenção divina ou, materialista, na imposição inexorável da História.
Como de nada sabemos, ficamos a observar o governo esfarelar-se entre uma pedalada e outra. Tentamos decifrar, como os leitores de Dan Brown, que simbolismos estariam escondidos em referências herméticas acerca do papel da bola indígena e da mandioca na civilização. Prevalece a fumaça do mistério.
É tempo de metáforas. O ministro Joaquim Levy relembra a escola de construção de navios, onde se fez engenheiro, e nos diz que a economia está de ressaca. Não a ressaca dos homens após a bebedeira, mas a dos mares depois da tempestade. Isso passa, garante.
O chefe da Fazenda também gosta de comparar a tarefa do governo à do marujo incumbido de desfazer a bagunça do convés e deixá-lo limpo para quando o navio desencalhar e puder cruzar oceanos. É uma alegoria liberal sobre o papel do Estado, de mero regulador de uma atividade que deveria ser praticada por empresários, trabalhadores e investidores.
Já os puritanos rejeitam metáforas. Eduardo Cunha, na Câmara, e Sergio Moro, no Judiciário, parecem predestinados de Calvino. Cunha colocou a Casa num transe de votações definidoras cujo confuso resultado ameaça a estabilidade institucional e o equilíbrio fiscal. Moro e os procuradores intocáveis na vampírica Curitiba agem como cruzados que creem estar passando 500 anos de corrupção na lâmina de suas espadas.
Tenho pensado em me mudar para o Paraguai. No sentido metafórico.
29 de junho de 2015
Vinicius Mota
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