O TSE deixa para 2017 o julgamento das contas da chapa Dilma-Temer. A mudança não é apenas jurídica: é uma revolução no discurso do PT.
O TSE, Tribunal Superior Eleitoral tem novidades para a foratemerosfera: o processo de cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal fica para 2017, o que elimina as chances de eleições diretas caso não apenas Dilma sofra impeachment, como as contas de sua eleição sejam rejeitadas (a primeira decisão do Tribunal foi histórica, com nove votos unânimes contra Dilma).
Portanto, o grito “Fora Temer” (sem vírgula), roboticamente repetido pela militância do partido, terá uma sobrevida: tal como o “Fora Cunha” (também sem vírgula), é um mantra psicológico para que a militância não se sinta errada, crendo que defendeu o lado ruim da história sem perceber. Não é, por exemplo, um grito de apoio ao TSE: o único órgão que pode mesmo fazer algo para Michel Temer ficar de “fora”.
Joga-se todo o problema em um bode expiatório, como se Michel Temer e Eduardo Cunha, com seus erros somados, valessem algo como 0,000001% do problema das pedaladas, dos decretos, de Pasadena, da proximidade com um rol de presidiários etc.
Contudo, é um grito que só funciona se não for concretizado: assim que Cunha cai, cai também a narrativa de que o impeachment seria um “golpe” que fora “arquitetado” Eduardo por Cunha ele próprio (que rejeitou mais de 30 peças de impeachment) e o PT fica sem o que dizer.
Da mesma forma, a grita petista “Fora Temer”, repercutida sempre sem vírgula, só funciona caso Michel Temer continue no poder: caso Michel Temer saia via TSE, a litania sobre “golpe” e “impostor” fica ainda mais esvaziada de sentido do que agora, e a esquerda, sempre em um monobloco uníssono, terá novamente de mudar o bordão ao qual se resume todo o seu pensamento.
Afinal, na prática, a forma mais rápida de Michel Temer ficar “fora” do governo, não sendo acusado pessoalmente de nada (“citação” na Lava-Jato envolve até a tia do café que passou na sala de reunião), é pela cassação da chapa de Dilma pelo TSE – a mesma chapa que o elegeu democraticamente como presidente legítimo do Brasil com 54,5 milhões de votos (noves fora urnas eletrônicas, propina etc).
O PT passou o ano passado inteiro repetindo como um fetiche a expressão “respeitem as urnas”, como se as urnas vigiadas pelo ex-advogado do PT fossem respeitáveis. Assim que se iniciou o processo do TSE, mesmo que não seja um pensamento formalmente colocado na forma de silogismo para o povão, o bordão teve de ser abolido. Nenhum petista em 2016 repete o cacoete.
Sem “respeitem as urnas”, sem “Fora Cunha”, o PT tem até 2017 para gritar “Fora Temer”. Depois do julgamento do TSE, independentemente do resultado da cassação da chapa, ao que tudo indica eleita com contas espúrias, o PT ficará completamente sem ter o que dizer. A lobotomia massiva na população não terá apenas grades para separá-la do povo.
17 de setembro de 2016
flavio morgenstern
senso incomum
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