Perplexos e assustados, deputados, senadores e juristas se indagavam ontem à noite em Brasília em diversas rodas de conversas: o que mais poderá acontecer depois da mais contundente e arrasadora denúncia jamais oferecida pelo Ministério Público Federal contra um político?
Referiam-se menos à denuncia por corrupção contra Lula, e mais, muito mais, aos termos empregados pelos procuradores da República no ato de apresentá-la. Estavam chocados. E propensos a acreditar que a Lava Jato atingiu seu cume.
Foi um espetáculo digno de ser encenado na Praça da Apoteose do Sambódromo, no Rio de Janeiro. Depois dele, por mais que a Lava Jato ainda possa durar, a tendência é de que ela se esgote. E que os procuradores de dispersem aos gritos de “já ganhou, já ganhou”.
INVESTIGADA – Talvez não seja assim. Falta alguém em Curitiba. E esse alguém pode ser a ex-presidente Dilma Rousseff. Ela já foi citada por delatores. E por mais que se diga honesta, honestíssima, e por mais que ninguém tenha ousado até aqui duvidar de sua honestidade, ela está sendo investigada.
Não só pelos procuradores acampados em Curitiba, mas também por aqueles que obedecem às ordens de Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República. Ela e Lula, por exemplo, foram denunciados por Janot por tentativa de obstrução da Justiça.
Segundo Janot, esse é o crime no qual eles incorreram quando Dilma, às pressas, nomeou Lula ministro-chefe da Casa Civil da presidência da República para livrá-lo de uma eventual prisão decretada por Moro. Na denúncia, Janot aponta Lula como o líder de uma organização criminosa.
DINHEIRO SUJO – De Dilma, na delação premiada que negociou, o marqueteiro João Santana disse que ela sabia, sim, que dinheiro desviado do saque à Petrobras pagara despesas de sua campanha à reeleição. Marcelo Odebrecht está disposto a confessar que pagou despesas de Dilma com dinheiro sujo.
O ex-senador Delcídio Amaral, então líder do governo no Senado, contou que advertira Dilma sobre o uso de dinheiro ilegal em sua campanha. E que a pedido dela, peitou um ministro do Superior Tribunal de Justiça para votar a favor da libertação de Odebrecht.
A compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, causou grave prejuízo à Petrobras, bem como a compra de plataformas para extrair petróleo do fundo do mar. Dilma era presidente do Conselho de Administração da Petrobras quando parte desses negócios foi feita.
ERA DESINFORMADA? – Ela de fato ignorava que esses e outros negócios serviram para irrigar os bolsos de diretores da empresa e de políticos, e os cofres de partidos? Ela era tão desinformada assim, logo ela dada a minúcias e a meter-se com tudo, que simplesmente não sabia o que se passava ao seu redor?
Foi Lula que nomeou os diretores da Petrobras personagens do petrolão. Dilma não sabia a quem eles serviam, e para o quê? O cortejo da Lava-Jato ainda está distante da Praça da Apoteose. (artigo enviado pelo comentarista Mário Assis Causanilhas)
17 de setembro de 2016
Ricardo Noblat
O Globo
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