"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 17 de setembro de 2016

RESPIRANDO POR APARELHO, CUNHA VAI ACIONAR SUA METRALHADORA

Brasília - O Cunha não morreu. Ainda respira por aparelho. Sua morte política só deverá ocorrer se ele for condenado ou se submeter ao vexame da delação premiada. 

Muitos metidos a durão, como o Marcelo Odebrecht, não resistiram a solidão da prisão e abriram o bico. 
O Cunha é a caixa preta do PMDB. Se resolver falar não fica pedra sobre pedra. Ele já mandou recado e ensaiou do que é capaz ao culpar o partido pela sua cassação e a eleição de Rodrigo Maia para presidir a Câmara. 

Durante o seu processo de cassação, Cunha mostrou que é um cara abnegado, determinado e resistente a pancadas. 
Já anunciou que vai lutar com todas as armas para evitar a prisão da sua mulher envolvida no rolo do dinheiro no exterior e para isso não pretende poupar ninguém quando acionar a sua metralhadora giratória.

Cada fala dele é um recado de hoje por diante. Além de Temer já apontou seus mísseis para Renan, Rodrigo Maia e Moreira Franco, a quem considera “eminência parda” do governo. 
Os dois últimos, ele quer detonar rapidamente porque são da sua base eleitoral, portanto, prováveis candidatos a governador no caso do sucesso do Temer à frente do país. 

Quanto ao Renan, é um velho rival que ele sempre tentou acertar, sem êxito. Cunha sabe tudo. Fazia parte do seleto grupo de Temer, de frequentadores antigos do falecido Piantella, palco de conspiração política dos últimos trinta anos em Brasília.

Se Cunha decidir falar, a casa cai. Ele é detentor de segredos impublicáveis da república nos últimos quinze anos. 
A história mostra agora que de esperto, na verdade, ele não tem nada. Vestiu-se de um personagem que agora sai de cena. 
Enquanto outros políticos envolvidos na Lava Jato preocupavam-se em tratar com zelo, respeito e elegância os procuradores que investigam a operação, Cunha, do alto da sua arrogância, sempre desafiou o procurador-geral Rodrigo Janot. 

Agora, sem mandato e, portanto, sem foro privilegiado, começa a falar fino. Diz-se arrependido do bate-boca e manda recado de que exagerou nas críticas ao procurador.

Cunha estranhou os 400 votos contra ele na cassação. Não deveria estar surpreso porque conhece como ninguém o parlamento que administrou durante quase dois anos à frente da presidência. 
Chegou até lá, porque, segundo se sabe, comprou a metade da Casa. A outra metade, que o elegeu, veio por gravidade. Aproximou-se dele por puro interesse fisiológico na máquina do governo. 

Mas agora que está fora do poder e isolado politicamente, Cunha ameaça botar a boca no trombone e jogar no ventilador todos os compromissos que fechou para dirigir a Câmara dos Deputados.

Ameaça escrever um livro, desde já fadado ao fracasso. Aliás, escrever livro é a prática dos que se sentem injustiçados e que pensam em se redimir dos seus malfeitos no poder revelando seus segredos. 
Se o tempo ocioso transformasse as pessoas em escritores, os presídios estariam abarrotados de autores. 

Se cometer esse atentado, Cunha não terá êxito ao contar os seus relatos porque não se propõe a revelar o que todos os brasileiros querem saber: como o PMDB e o PT conseguiram montar a mais bem estruturada organização criminoso do país.

Cunha, na verdade, é um fanfarrão. Foi alçado ao poder na escassez de líderes políticos no país. 

Nos últimos trinta anos, líderes – se é que podemos chamá-los assim – giraram em torno de nomes como Lula, Serra, Maluf (!), Aécio, Marina, Alckmin, Itamar, Collor e outros menos cotados. 

Cunha chegou ao poder pelo método mais tradicional de fazer política, o fisiológico, e do franciscano “é dando que se recebe”. Em pouco tempo, virou um popstar até lembrado como candidato a presidente da república. 
Quis o destino – e obviamente – os escândalos da Lava Jato retirá-lo de cena. Cunha, porém, não vai se retirar do palco sozinho nem esperar que as cortinas do espetáculo fechem à sua frente no último ato. Ele vai carregar todo o elenco com ele.

Cunha ainda quer voltar ao palco com outra peça. Dessa vez, seus personagens estarão vestidos com roupas listadas com todo tempo do mundo para ensaiar o próximo drama.



17 de setembro de 2016
Jorge Oliveira

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