"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 17 de setembro de 2016

AMEAÇAS DO SUBTERRÂNEO


BRASÍLIA - Sentindo-se abandonado pelo grupo que ajudou a alçar ao poder, Eduardo Cunha caiu atirando. Na primeira entrevista após a cassação, ele ameaçou abrir fogo contra o governo de Michel Temer e atacou o deputado Rodrigo Maia, que o substituiu no comando da Câmara.

O correntista suíço começou a dar recados na madrugada desta terça (13), antes mesmo de deixar o Congresso. Assim que saiu do plenário, ele reuniu jornalistas e avisou que pretende lançar um livro com revelações sobre a engenharia da derrubada do governo Dilma Rousseff.

"Vou contar tudo o que aconteceu no impeachment, com todos os personagens que participaram de diálogos comigo. Esses serão tornados públicos em toda a sua integralidade. Todos, todos, todos. Todo mundo que conversou comigo", prometeu o agora ex-deputado. Questionado se havia gravado as conversas, ele respondeu com um sorriso irônico: "Tenho boa memória".

Magoado, o peemedebista culpou o Planalto por sua desgraça. Seu primeiro alvo foi o ex-ministro Moreira Franco, a quem batizou de "eminência parda" por trás de Temer.

Poucas horas depois, ele voltou a mira contra o presidente do Senado, Renan Calheiros. "Espero que os ventos que nele chegam através de mais de uma dezena de delatores e inquéritos no STF, incluindo [o delator] Sérgio Machado, não se transformem em tempestade", provocou.

As ameaças do ex-presidente da Câmara viraram o principal assunto em Brasília depois da sua cassação. Ninguém sabe ao certo o que ele está disposto a contar e, principalmente, se o governo Temer seria capaz de resistir a uma possível delação.

Desde os tempos da Telerj, no governo Collor, Cunha cultiva a reputação de fabricar dossiês contra adversários. A diferença é que ele não pode mais usá-los para acumular poder ou ampliar os negócios. Agora as informações do subterrâneo da política se tornaram a sua última arma para tentar escapar da cadeia.



17 de setembro de 2016
Bernardo Mello Franco, Folha de SP

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