As investigações do escândalo da Fifa prosseguem e o Ministério Público da Suíça vai interrogar o presidente renunciante da Fifa, Joseph Blatter, sobre a de compra de votos para escolher as sedes das Copas de 2018 e 2022, que serão realizadas na Rússia e no Catar.
Na semana passada, o MP em Berna mandou uma equipe para a sede da Fifa em operação que resultou no confisco de dezenas de documentos e computadores. Blatter se diz inocente e insiste em proclamar que está colaborando com as apurações, alegando que elas haviam começado justamente depois de uma denúncia feita pela própria entidade em novembro de 2014.
Na verdade, há muitos anos a imprensa européia (especialmente a inglesa) já vinha denunciando os descalabros na Federação. Em 2002, por exemplo, o jornal britânico Daily Mail denunciou compra de votos para Blatter a se eleger na Fifa, vencendo Lennart Johansson por 111 a 80 votos. Mas foi a partir de 2010 que as denúncias de corrupção começaram a ser investigadas mais a fundo. E também a envolver dirigentes brasileiros.
ACORDO JUDICIAL
Ricardo Teixeira, então presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e membro do Comitê Executivo da Fifa, foi diretamente envolvido em novembro de 2010, dias antes da reunião da Fifa que decidiria as sedes dos Mundiais de 2018 e 2022, quando a agência britânica de comunicação BBC exibiu documentos da empresa de marketing esportivo ISL comprovando pagamento de propina ao cartola brasileiro.
Os documentos fizeram parte de uma investigação da promotoria da Suíça, que também envolveu o mentor de Teixeira e homem forte da Fifa desde 1974, João Havelange. Presidente da entidade máxima do futebol até 1998, Havelange também teria recebido suborno da ISL, de 1992 a 2000. Os dois juntos teriam embolsado R$ 45 milhões.
A investigação confirmou as irregularidades dos dirigentes, mas terminou com um acordo judicial – a Fifa aceitou devolver o dinheiro à ISL, que já havia decretado falência na época.
OS INOCENTES DE SEMPRE
No escândalo atual, em que não houve acordo judicial, a situação é ainda mais grave. Joseph Blaterr e sua entourage querem que acreditemos que não têm nada a ver com a corrupção. Isso chega a ser patético. É a mesma coisa que aceitar a tese de que no Brasil a culpa toda é do ex-presidente José Maria Marin, sem que seu antecessor Ricardo Teixeira também estivesse envolvido em corrupção e enriquecimento ilícito. Quem acreditaria nisso?
Da mesma forma, não se pode aceitar que a TV Globo esteja fora do esquema para controlar os direitos de transmissão das Copas e dos principais torneios organizados pela Fifa. É de uma ingenuidade constrangedora acreditar que o responsável por tudo é o ex-repórter J. Hawilla, que fez fortuna à sombra da Organização Globo, controlando a maioria das afiliadas da emissora no Estado de São Paulo.
Mas o noticiário dos últimos dias não deixa margem a dúvidas. A grande mídia brasileira acredita mesmo na inocência da TV Globo. Parece que já não se fazem mais jornalistas como antigamente.
07 de junho de 2015
Carlos Newton
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