A iniciativa de um grupo de empresas empreiteiras, que possuíam contratos superfaturados com a Petrobrás, de pagar indenização à empresa e, com isso, obterem perdão do governo, assim reabilitando-se para continuar executando obras públicas, representa, paralelamente, o esvaziamento total dos acusados que persistem na tese da negativa quanto ao recebimento de propinas e de participações ilegais no produto de tais contratos.
A matéria está muito bem exposta na reportagem de Julio Wiziack e de Natuza Nery, Folha de São Paulo, edição de sexta-feira 5 de junho.
A matéria está muito bem exposta na reportagem de Julio Wiziack e de Natuza Nery, Folha de São Paulo, edição de sexta-feira 5 de junho.
As empresas se dispõem até a indenizar a Petrobrás pelos prejuízos causados, desde que se livrem de qualquer culpa e dos respectivos processos judiciais e administrativos. Ora, se as empresas querem devolver montantes em dinheiro pelos assaltos praticados é porque eles se realizaram com a inclusão de uma série de pessoas. Não só os delatores premiados do esquema, mas também todos aqueles que participaram e usufruíram dos roubos produzidos, uma boa parte transferido para o exterior.
Como vários acusados de corrupção optaram pela tese da negativa, entre eles ex-dirigentes da Petrobrás, empresários e políticos, a partir de agora não poderão negar sua conivência, omissão e participação no que foi subtraído da economia brasileira. Isso porque os prejuízos da pilhagem não foram somente os que se referem a Petrobrás. Expandem-se a vários setores produtivos vinculados à indústria e à comercialização de petróleo.
FALTAM OS VALORES
Os dirigentes dessas empresas que se propõem a indenizar a estatal ainda não revelaram os valores que pretendem reembolsar, porém terão que fazê-lo, da mesma forma que apontar os intermediários e os destinatários finais da gigantesca corrupção praticada. Por isso, os acusados, cujos nomes terão que vir à tona por parte dos agentes ativos do dinheiro roubado, não poderão negar tais evidências e assim vão enfrentar as comprovações decorrentes dos recebimentos feitos para si.
Entretanto, os acordos de ressarcimento (ressarcimentos calculados pelas empreiteiras) ficariam na dependência de os respectivos processos existentes no plano administrativo sejam transferidos da CGU, Controladoria Geral da União, para a Advocacia Geral da União. Assim, acreditam os dirigentes das empreiteiras, ficariam elas livres da culpa que as impediria de permanecerem firmando contratos com o poder público. Alegam que o tipo de acordo proposto, pela lei, não pode ser feito pela CGU.
SEM DECISÃO
Julio Wiziack e Natuza Nery acrescentam, no entanto, que a presidente Dilma Rousseff ainda não decidiu que tal caminho seja adotado, antes do pronunciamento dos ministros Joaquim Levy, da Fazenda, e Carlos Gabas, da Previdência Social. No primeiro caso porque os processos em curso incluem sonegação de impostos, e, no segundo, importâncias não recolhidas ao INSS.
Além disso, existe um outro obstáculo este maior: o fato de o Ministério Público Federal, através de Rodrigo Janot, procurador geral da República, ter arguido a falta de idoneidade das empresas que hoje se prontificam a devolver parte dos roubos dos quais participaram ativamente. De qualquer forma, diante de tudo isso a tese da negativa adotada pela maioria dos acusados desaba totalmente. Ninguém vai devolver dinheiro sem que dele seja devedor. Não faz sentido.
SUPERMERCADOS CONTRA AUMENTO DE PREÇOS
Este entretítulo, além de incomum, é surpreendente. Mas, de acordo com reportagem de Marcelo Correa, Thais Lobo e Lino Rodrigues, O Globo de sexta-feira, é de fato verdade. Só que a reação é contra os fornecedores dos supermercados, os que fazem os produtos e comercializam. Ou seja, o protesto não é espontaneamente a favor dos consumidores.
É que os diversos fabricantes querem aumentar os preços em até 15% este mês, o que os proprietários dos supermercados consideram um exagero, o qual conduzirá a uma nova queda nas vendas. Estas foram de 1,2% no primeiro trimestre do ano e poderão aumentar se atingir o nível proposto pelas indústrias fornecedoras.
Mais uma prova da queda do consumo e da perspectiva de seu agravamento como destaca a própria Confederação Nacional do Comércio, em face da incapacidade de novos aumentos serem absorvidos a curto prazo pelos consumidores. De fato, o quadro da economia brasileira está voltado tanto para a impossibilidade quanto para a capacidade dos assalariados em manter os níveis de consumo do passado recente. Imagine-se a subida de preço, sem o aumento de salários, a que ponto do impasse poderá chegar.
07 de junho de 2015
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário