Já são sete as Copas do Mundo da era Blatter que, começando com a da França em 1998 e avançando até a do Qatar em 2022, estão sob suspeita de corrupção ou outro tipo de falcatrua.
Por enquanto, o Mundial no Brasil continua a ostentar ficha limpa pelo menos no quesito compra de votos, e por um motivo simples: diante da desistência da Colômbia e da dissolução da candidatura conjunta Argentina-Chile, o Brasil era candidato único na eleição de 2007, quando ainda vigorava o sistema de rodízio por continentes, hoje sepultado.
Ainda assim, é prematuro para os envolvidos se sentirem em zona de conforto. Segundo reportagem de Jamil Chade no jornal “O Estado de S. Paulo”, o FBI estaria passando a limpo todos os contratos da Copa de 2014 entre a Fifa, os fornecedores e os parceiros comerciais da empreitada.
O foco específico dessa investigação estaria nas estreitas relações de Ricardo Teixeira, que à época ocupava tanto o trono de presidente da CBF como a chefia do comitê organizador, com o sinuoso Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa e braço-direito e esquerdo de Sepp Blatter até ter o nome envolvido no escândalo global esta semana.
Na tarde de 30 outubro de 2007 em que 20 membros da Executiva da Fifa deram seu voto unânime ao Brasil, a figura espaçosa, algo bufa e gregária do americano Charles “Chuck” Blazer era uma das mais animadas no anfiteatro de Zurique. Sua capacidade de fazer amigos instantâneos, corromper pessoas e se deixar corromper ficou mais clara esta semana, com a publicação de partes do depoimento que vem prestando às autoridades dos Estados Unidos.
Blazer é o primeiro pavio aceso da implosão em curso na Fifa. Ele tem no currículo 11 anos como dirigente mais poderoso da Concacaf, a confederação que rege o futebol nas Américas do Norte, Central e no Caribe, período em que teria abiscoitado mais de U$ 20,6 milhões. Some-se a isso 16 anos como membro do poderoso Comitê Executivo da Fifa até sua expulsão e banimento do futebol em 2013, e tem-se um homem que sabe demais.
Com seus modos de aparente frivolidade, tapinha nas costas, excessos de comida, bebida, barriga e excentricidades (um macaquinho de nome Max e um gato com apartamento próprio na Trump Tower da Quinta Avenida, em Nova York, entre outros), ele ia abrindo portas.
Foi num glorioso dia de outono de 2011que sua carreira se interrompeu de forma brusca. Trafegava de moto por Manhattan rumo ao templo cult dos famosos da época, o hoje extinto restaurante Elaine’s, ao ser interceptado por dois agentes — um do FBI, outro da Receita Federal. Ouviu a frase-chave: “Podemos levá-lo daqui algemado ou você pode cooperar”. Optou pela delação premiada por saber que não tinha saída: era um sonegador de impostos, crime dos crimes nos Estados Unidos.
Declarou-se culpado de dez acusações na investigação federal que os americanos vinham fazendo há anos sobre corrupção no futebol e detalhou o leque de crimes relacionados a direitos de transmissão e outros contratos em torneios regionais. Durante as Olimpíadas de Londres, camuflou um microfone num chaveiro para gravar conversas com dirigentes e agregados da Fifa.
No dia da fulminante operação de captura a 14 indiciados, inclusive num hotel de Zurique, Chuck Blazer acompanhou os desdobramentos pela internet, de um quarto do hospital New York-Presbyterian. Aos 70 anos, abatido por um câncer e com dificuldade para falar, não é certo que consiga testemunhar no julgamento das pessoas que denunciou e que ainda precisam ser extraditadas.
Entre elas podem estar desde os brasileiros Ricardo Teixeira e José Maria Marin até o francês Jérôme Valcke, cujos advogados de defesa devem estar acompanhando de perto seu quadro médico — não necessariamente com votos de melhoras.
Se Blazer sempre chamou atenção entre os membros do Comitê Executivo pelo físico de Papai Noel, o uruguaio Eugenio Figueiredo, vice-presidente da Fifa e um dos sete da quadrilha de detidos por conspiração, fraude e lavagem de dinheiro, tem singularidade diversa.
Ele fraudou o pedido de naturalização americana feito em 2005 declarando ter sido vendedor de pedras de decoração mas não ter exercido qualquer trabalho nos cinco anos anteriores por sofrer de “demência severa”. Ainda assim, o presidente da Associação Uruguaia de Futebol e posterior presidente da Conmebol obteve o cobiçado passaporte dos Estados Unidos. A falsa demência pode lhe custar caro agora — o sistema carcerário dos Estados Unidos não dá refresco para idosos —; Figueiredo está com 83 anos.
Difícil também é avaliar a coerência do melodramático discurso televisivo feito esta semana por Jack Warner, dirigido ao povo de Trinidad Tobago. Warner, outro ex-vice-presidente da Fifa cujo nome voltara a ser incriminado por prática de corrupção, extorsão e falcatruas, falou por sete estranhos minutos.
Por enquanto, o Mundial no Brasil continua a ostentar ficha limpa pelo menos no quesito compra de votos, e por um motivo simples: diante da desistência da Colômbia e da dissolução da candidatura conjunta Argentina-Chile, o Brasil era candidato único na eleição de 2007, quando ainda vigorava o sistema de rodízio por continentes, hoje sepultado.
Ainda assim, é prematuro para os envolvidos se sentirem em zona de conforto. Segundo reportagem de Jamil Chade no jornal “O Estado de S. Paulo”, o FBI estaria passando a limpo todos os contratos da Copa de 2014 entre a Fifa, os fornecedores e os parceiros comerciais da empreitada.
O foco específico dessa investigação estaria nas estreitas relações de Ricardo Teixeira, que à época ocupava tanto o trono de presidente da CBF como a chefia do comitê organizador, com o sinuoso Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa e braço-direito e esquerdo de Sepp Blatter até ter o nome envolvido no escândalo global esta semana.
Na tarde de 30 outubro de 2007 em que 20 membros da Executiva da Fifa deram seu voto unânime ao Brasil, a figura espaçosa, algo bufa e gregária do americano Charles “Chuck” Blazer era uma das mais animadas no anfiteatro de Zurique. Sua capacidade de fazer amigos instantâneos, corromper pessoas e se deixar corromper ficou mais clara esta semana, com a publicação de partes do depoimento que vem prestando às autoridades dos Estados Unidos.
Blazer é o primeiro pavio aceso da implosão em curso na Fifa. Ele tem no currículo 11 anos como dirigente mais poderoso da Concacaf, a confederação que rege o futebol nas Américas do Norte, Central e no Caribe, período em que teria abiscoitado mais de U$ 20,6 milhões. Some-se a isso 16 anos como membro do poderoso Comitê Executivo da Fifa até sua expulsão e banimento do futebol em 2013, e tem-se um homem que sabe demais.
Com seus modos de aparente frivolidade, tapinha nas costas, excessos de comida, bebida, barriga e excentricidades (um macaquinho de nome Max e um gato com apartamento próprio na Trump Tower da Quinta Avenida, em Nova York, entre outros), ele ia abrindo portas.
Foi num glorioso dia de outono de 2011que sua carreira se interrompeu de forma brusca. Trafegava de moto por Manhattan rumo ao templo cult dos famosos da época, o hoje extinto restaurante Elaine’s, ao ser interceptado por dois agentes — um do FBI, outro da Receita Federal. Ouviu a frase-chave: “Podemos levá-lo daqui algemado ou você pode cooperar”. Optou pela delação premiada por saber que não tinha saída: era um sonegador de impostos, crime dos crimes nos Estados Unidos.
Declarou-se culpado de dez acusações na investigação federal que os americanos vinham fazendo há anos sobre corrupção no futebol e detalhou o leque de crimes relacionados a direitos de transmissão e outros contratos em torneios regionais. Durante as Olimpíadas de Londres, camuflou um microfone num chaveiro para gravar conversas com dirigentes e agregados da Fifa.
No dia da fulminante operação de captura a 14 indiciados, inclusive num hotel de Zurique, Chuck Blazer acompanhou os desdobramentos pela internet, de um quarto do hospital New York-Presbyterian. Aos 70 anos, abatido por um câncer e com dificuldade para falar, não é certo que consiga testemunhar no julgamento das pessoas que denunciou e que ainda precisam ser extraditadas.
Entre elas podem estar desde os brasileiros Ricardo Teixeira e José Maria Marin até o francês Jérôme Valcke, cujos advogados de defesa devem estar acompanhando de perto seu quadro médico — não necessariamente com votos de melhoras.
Se Blazer sempre chamou atenção entre os membros do Comitê Executivo pelo físico de Papai Noel, o uruguaio Eugenio Figueiredo, vice-presidente da Fifa e um dos sete da quadrilha de detidos por conspiração, fraude e lavagem de dinheiro, tem singularidade diversa.
Ele fraudou o pedido de naturalização americana feito em 2005 declarando ter sido vendedor de pedras de decoração mas não ter exercido qualquer trabalho nos cinco anos anteriores por sofrer de “demência severa”. Ainda assim, o presidente da Associação Uruguaia de Futebol e posterior presidente da Conmebol obteve o cobiçado passaporte dos Estados Unidos. A falsa demência pode lhe custar caro agora — o sistema carcerário dos Estados Unidos não dá refresco para idosos —; Figueiredo está com 83 anos.
Difícil também é avaliar a coerência do melodramático discurso televisivo feito esta semana por Jack Warner, dirigido ao povo de Trinidad Tobago. Warner, outro ex-vice-presidente da Fifa cujo nome voltara a ser incriminado por prática de corrupção, extorsão e falcatruas, falou por sete estranhos minutos.
Ameaçou fazer revelações estarrecedoras, denunciou que sua vida corria perigo, citou Mahatma Gandhi e declarou fidelidade a seu país natal, do qual foi ministro de Segurança Nacional.
Warner já estava afastado da Fifa e do futebol há quatro anos por envolvimento anterior em corrupção. Ele tem agora um mandado de prisão expedido pela Interpol como parte do arrastão atual. Seus dois filhos aderiram ao programa de delação premiada das autoridades americanas, assim como o brasileiro José Hawilla.
Warner já estava afastado da Fifa e do futebol há quatro anos por envolvimento anterior em corrupção. Ele tem agora um mandado de prisão expedido pela Interpol como parte do arrastão atual. Seus dois filhos aderiram ao programa de delação premiada das autoridades americanas, assim como o brasileiro José Hawilla.
Dono da fabricante de material esportivo Traffic, Hawilla achou prudente tornar-se réu confesso no tentacular inquérito, é informante do FBI desde 2013 e já admitiu ter praticado malfeitos.
A Fifa terá saudade do resultado do seu ultimo ciclo de quatro anos, quando seus cofres foram acarinhados por uma receita de US$ 5,7 bilhões — US$ 2,5 bilhões, o filão maior, vieram dos direitos de transmissão e US$ 1,6 bilhão dos patrocinadores.
A Fifa terá saudade do resultado do seu ultimo ciclo de quatro anos, quando seus cofres foram acarinhados por uma receita de US$ 5,7 bilhões — US$ 2,5 bilhões, o filão maior, vieram dos direitos de transmissão e US$ 1,6 bilhão dos patrocinadores.
Uma miríade de parceiros menores, fornecedores e intermediários também contam. Valcke e Teixeira, por exemplo, teriam assinado perto de mil contratos.
Nesse dominó, quando uma peça cai, há o risco de ela arrastar a fileira toda.
07 de junho de 2015
Dorrit Harazim
Nesse dominó, quando uma peça cai, há o risco de ela arrastar a fileira toda.
07 de junho de 2015
Dorrit Harazim
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