Num ano sofrível como 2014, em que o PIB evoluiu a uma taxa (0,1%) menor que a da população economicamente ativa (0,4%), a queda da produtividade do trabalho –definida como produto por empregado– é uma obviedade aritmética. Preocupante é constatar que esse recuo vem de longe e fez o Brasil retornar à década de 1950.
O retrocesso de 65 anos se manifesta na comparação entre a produtividade de trabalhadores americanos e brasileiros. Como noticiou esta Folha no último dia de maio, com dados do centro de estudos Conference Board (EUA), são necessários 4 empregados daqui para produzir a mesma quantidade de riqueza que 1 de lá.
Mais precisamente, a produtividade do brasileiro equivale a 24,1% da de um americano, mesmo nível de 1950 (24,3%). Há 35 anos, porém, estava em 38,9%.
Comparações com vários países não melhoram os escores nacionais: produzimos apenas 40% do que rende um sul-coreano, 51% de um chileno, 59% de um russo.
Nosso desempenho ainda está 20% acima do observado na China, mas isso não deve servir de consolo. Há 15 anos, a diferença era de 322% a favor do Brasil.
Muitos fatores, naturalmente, influenciam a eficiência do trabalho. Métodos gerenciais aperfeiçoados, treinamento frequente e máquinas mais modernas, por exemplo. Nosso principal calcanhar de aquiles, contudo, está na esfera da educação.
Em qualquer setor –agronegócio, indústria ou serviços–, cada vez mais o trabalho se realiza por intermédio de máquinas inteligentes, cuja operação requer capacidade cognitiva, mais do que física. Software e hardware passam por atualizações frequentes, o que exige flexibilidade intelectual.
Com sete anos de estudo, o trabalhador brasileiro está em franca desvantagem perante seus concorrentes globais. Americanos ficam mais de 12 anos na escola, ou seja, muitos chegam ao nível superior. Além disso, têm acesso a pelo menos 120 horas anuais de treinamento, o quádruplo do que recebe um empregado por aqui.
Isso para nada dizer da qualidade do ensino básico. No Brasil, onde as escolas públicas não raro têm o ano letivo truncado por greves que duram meses, as deficiências alcançam o clímax no nível secundário –justamente o mínimo exigido numa empresa moderna.
Pois é aí que a educação nacional naufraga. Apenas 60% dos jovens de 15 a 17 anos se acham matriculados no ensino médio. Sem eliminar tal gargalo, e por mais que se invista em ensino profissional, o país jamais dará o salto de produtividade necessário para se tornar mais eficiente e mais justo.
07 de junho de 2015
Folha de SP
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