Economia esfria aos poucos, mas empresas falam mais sobre o "clima" ruim do que de "crise"
FINAL DA TARDE de ontem em São Paulo, fim de entrevista com dois empresários. Um deles olha no celular as notícias do dia, mais preocupado em saber do trânsito de um dia de greve de motoristas de ônibus e passeata de professores municipais em greve.
"A PF fez uma limpa no governo de Mato Grosso, esse juiz [ministro do Supremo] não se decide com essa história de doleiros, esta cidade está uma baderna, cadê o prefeito? Não diz aqui se vai ter essa greve da polícia", recita um empresário, uns 60 anos. "Quem se anima com esse país? Vai ser difícil vender e fazer negócio com essa bagunça e esses feriados da Copa. O clima tá' ruim", diz o empresário.
Depois de quase uma semana e meia de conversa com empresários e executivos de setores variados, não aparece nenhum denominador comum novo nas explicações sobre o desânimo crescente na categoria e sobre o esfriamento dos negócios desde o começo do ano.
Há queixas genéricas e habituais contra o governo federal, "custo Brasil", "burocracia para fazer qualquer coisa, licença que atrasa" na agência reguladora "x" ou "y". Nenhum relato de situação crítica ou colapso. Ao contrário, aliás. Apesar da "macroeconomia ruim" (crítica à política econômica), não é raro ouvir que no médio prazo o país "tem tudo para melhorar", devido ao mercado "grande e crescente".
No mais, de mais recorrente, uma insatisfação "difusa", como se dizia da "pauta" das manifestações maiores de junho do ano passado.
Uma queixa meio vaga e pantanosa de que o "ambiente não está bom".
Se a conversa é com a indústria, muita gente volta a reclamar sem muita ênfase do "câmbio". A situação "tinha melhorado", com o dólar mais caro, "mas voltou a ficar barato e varia demais, a gente não sabe a que preço vai fechar negócio". Mais dinheiro do BNDES, a taxa de juros abaixo de zero, "também estava ajudando".
Na verdade, não houve grande mudança em relação a câmbio ou dinheiro farto e barato do BNDES. Mas o "ambiente não está bom" e teria piorado desde março.
Empresários de setores diversos citam as ameaças de desemprego na indústria automobilística, setores que apanham das importações, dos "esqueletos dos shoppings", como um deles se refere aos centros comerciais novos que não conseguem alugar suas lojas.
"A construção [empreendimentos imobiliários comerciais] deve tomar um tombo este ano. Está sobrando espaço [escritórios, lojas, galpões]. O pessoal se animou demais coisa de dois anos atrás", diz alguém do ramo, mas residencial.
Mas é raro ouvir de alguém que a empresa ou o setor deles vai demitir em breve: "Estamos nos mantendo. Nem sobe nem desce. A dúvida é saber o quanto dura essa situação. O salário está alto, apareceu estoque de novo [produção que não foi vendida]", diz outro.
Os indicadores econômicos do ano confirmam o esfriamento do clima, em ritmo no entanto lento e gradual, na média dos setores: alguma estagnação do emprego (queda na indústria), setor de serviços esfriando, vendas de material de construção também.
Mas o desemprego é baixo e o consumo de varejo cresce a 4,5%. O ambiente, porém, não está bom.
FINAL DA TARDE de ontem em São Paulo, fim de entrevista com dois empresários. Um deles olha no celular as notícias do dia, mais preocupado em saber do trânsito de um dia de greve de motoristas de ônibus e passeata de professores municipais em greve.
"A PF fez uma limpa no governo de Mato Grosso, esse juiz [ministro do Supremo] não se decide com essa história de doleiros, esta cidade está uma baderna, cadê o prefeito? Não diz aqui se vai ter essa greve da polícia", recita um empresário, uns 60 anos. "Quem se anima com esse país? Vai ser difícil vender e fazer negócio com essa bagunça e esses feriados da Copa. O clima tá' ruim", diz o empresário.
Depois de quase uma semana e meia de conversa com empresários e executivos de setores variados, não aparece nenhum denominador comum novo nas explicações sobre o desânimo crescente na categoria e sobre o esfriamento dos negócios desde o começo do ano.
Há queixas genéricas e habituais contra o governo federal, "custo Brasil", "burocracia para fazer qualquer coisa, licença que atrasa" na agência reguladora "x" ou "y". Nenhum relato de situação crítica ou colapso. Ao contrário, aliás. Apesar da "macroeconomia ruim" (crítica à política econômica), não é raro ouvir que no médio prazo o país "tem tudo para melhorar", devido ao mercado "grande e crescente".
No mais, de mais recorrente, uma insatisfação "difusa", como se dizia da "pauta" das manifestações maiores de junho do ano passado.
Uma queixa meio vaga e pantanosa de que o "ambiente não está bom".
Se a conversa é com a indústria, muita gente volta a reclamar sem muita ênfase do "câmbio". A situação "tinha melhorado", com o dólar mais caro, "mas voltou a ficar barato e varia demais, a gente não sabe a que preço vai fechar negócio". Mais dinheiro do BNDES, a taxa de juros abaixo de zero, "também estava ajudando".
Na verdade, não houve grande mudança em relação a câmbio ou dinheiro farto e barato do BNDES. Mas o "ambiente não está bom" e teria piorado desde março.
Empresários de setores diversos citam as ameaças de desemprego na indústria automobilística, setores que apanham das importações, dos "esqueletos dos shoppings", como um deles se refere aos centros comerciais novos que não conseguem alugar suas lojas.
"A construção [empreendimentos imobiliários comerciais] deve tomar um tombo este ano. Está sobrando espaço [escritórios, lojas, galpões]. O pessoal se animou demais coisa de dois anos atrás", diz alguém do ramo, mas residencial.
Mas é raro ouvir de alguém que a empresa ou o setor deles vai demitir em breve: "Estamos nos mantendo. Nem sobe nem desce. A dúvida é saber o quanto dura essa situação. O salário está alto, apareceu estoque de novo [produção que não foi vendida]", diz outro.
Os indicadores econômicos do ano confirmam o esfriamento do clima, em ritmo no entanto lento e gradual, na média dos setores: alguma estagnação do emprego (queda na indústria), setor de serviços esfriando, vendas de material de construção também.
Mas o desemprego é baixo e o consumo de varejo cresce a 4,5%. O ambiente, porém, não está bom.
21 de maio de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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