"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

RESERVATÓRIOS DE MENOS

Nesta terça-feira, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, reconheceu que o problema não está na simples falta de chuvas, desculpa a que vem se aferrando o restante do governo Dilma. Está na falta estrutural de capacidade de geração e de transmissão de energia.

Esta não é uma encrenca que começou nesta terça, é verdade, mas sua solução não obteve nenhum encaminhamento decisivo neste governo.

“Está ficando cada vez mais difícil e estressante operar o sistema”, disse o operador. “Não há reservatórios e, com isso, há mais geração térmica. E (isso não acontece) apenas neste ano, mas também em anos com uma hidrologia próxima da média.” Não há reservatórios porque o consumo está crescendo acima da reposição dos estoques dos reservatórios. Em apenas oito anos, de 2004 a 2012, caiu em 17% a capacidade de armazenamento de água nas represas hidrelétricas do Brasil.

Chipp não disse nenhuma novidade. Os especialistas no tema têm advertido há anos para as vulnerabilidades do setor. Mas o governo as vem ignorando, seja porque confiou demais na geração hidrelétrica, seja porque fez opções erradas. Uma dessas opções foi ter enveredado por políticas de redução de preços que desembocaram na forte dependência de geração térmica, a custos quatro vezes mais altos do que os da geração hidrelétrica. No momento, nada menos que 30% da energia elétrica produzida no Brasil exige queima ou de gás natural, ou de óleo diesel, ou de óleo combustível, insumos que oneram a balança comercial. Só nesta atual temporada de acionamento das térmicas, o custo dos combustíveis equivale aos investimentos nas hidrelétricas do Rio Madeira, calculou Roberto Pereira D’Araujo, diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico, em artigo recente no jornal Valor.

Embora pudessem atenuar as atuais agruras, a solução não está na improvisação de medidas de racionamento de energia elétrica que, no momento, talvez nem se torne necessário, nem equacionaria um problema estrutural. Está em repensar a matriz energética, excessivamente dependente de um bom regime de chuvas ou de importação de combustíveis. Esta é uma prioridade que vinha se impondo e sendo sistematicamente ignorada desde a crise de 2001.

As crescentes dificuldades técnicas e ambientais impostas na construção de novos reservatórios na Amazônia, onde ainda há potencial hidrelétrico a explorar, impõem o aproveitamento de potenciais renováveis (energia eólica, solar e biomassa), que poderiam reduzir o problema, mas não resolvê-lo definitivamente.

Tudo indica que não sobrará saída senão desenvolver a produção de gás natural de xisto. É por esse caminho que os Estados Unidos vêm chegando rapidamente à atual revolução energética, que está produzindo cada quilowatt/hora a custos que são apenas uma fração dos custos do gás convencional.

O primeiro leilão de concessão destinado à produção desse tipo de gás no Brasil aconteceu em novembro de 2013, mas a atividade continua sujeita a incertezas regulatórias e à falta de sentido de urgência das autoridades do setor.

Contradição

O depoimento do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli na CPI do Senado não baniu a maior contradição entre ele e a presidente Dilma. Gabrielli insiste em que não houve nada de errado no processo da compra da Refinaria de Pasadena pela Petrobrás em 2006. Dilma afirmou em nota oficial que a Petrobrás foi prejudicada.

 
21 de maio de 2014
Celso Ming, O Estadão

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