Não se discute mais o fracasso do arranjo econômico empreendido pelo governo Dilma, caracterizado pela ênfase excessiva no consumo, derrubada voluntarista dos juros, desvalorização do real e fartos gastos públicos. O resultado desse coquetel é inflação puxada, que se mantém à altura dos 6% ao ano apesar da compressão de tarifas públicas, baixo avanço econômico e colapso de confiança (veja o gráfico). Até no miolo do governo, sempre avesso a reconhecimento de "falhas nossas", admite-se que há desarranjo na economia.
Mas o governo Dilma não produziu sozinho essas políticas. Foi amplamente respaldado pelos empresários e suas entidades de classe empenhados em reivindicar pacotes compensatórios para sua falta de competitividade e atraso tecnológico, sem que suas causas fossem atacadas.
Mesmo antes do governo Dilma, a Fiesp, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e os organismos que as assessoram vinham martelando por políticas protecionistas, por juros artificialmente baixos e câmbio fortemente desvalorizado, sem considerar que são medidas que tendem a produzir resultados contrários, especialmente a valorização da moeda (baixa do dólar), como lembrou o professor Affonso Celso Pastore em seu artigo no Estadão de domingo.
A discussão entre os empresários raramente foi pela adoção de políticas consistentes nas áreas fiscal, monetária e cambial, mas pela adoção de expedientes que supostamente contribuiriam para a redução dos custos de produção e pela barragem a produtos concorrentes.
A cada decisão do Copom, por exemplo, a Fiesp tinha prontas três notas oficiais. Se o Banco Central tivesse empurrado os juros para cima, soltava a que denunciava decisão irresponsável; se os reduzia, tinha sido um movimento insuficiente; se deixava onde estavam, a nota falava de falta de coragem. Raramente foi levada em conta a consistência da política de metas e suas exigências.
Os empresários foram os primeiros a aplaudir a desastrada decisão de redução de preços da energia elétrica de 2013. Sempre defenderam as tais políticas industriais que distribuíram créditos favorecidos do BNDES, subsídios, redução temporária de impostos ao consumo, reservas de mercado e exigências de conteúdo local. Há muito o empresariado não toma a iniciativa de propor um projeto amplo de expansão da infraestrutura e de formação de poupança. Apenas recentemente, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) passou a defender políticas de crescimento sustentável da economia e da indústria.
Os governos do PT não podem ser acusados de terem desmantelado sozinhos o mercado externo da indústria. A indústria nunca questionou com firmeza a falta de empenho na negociação de acordos comerciais nem os arranjos bolivarianos com vizinhos. Não há empenho da protegida indústria de veículos de garantir o livre-comércio no Mercosul. E, ainda agora, reivindica acordos esdrúxulos com a Argentina, sem levar em conta que por trás das atuais mazelas estão agudas crises de demanda, tanto lá como cá. Os empresários também têm de ser responsabilizados pelo que chamam de processo de desindustrialização do Brasil.
Mas o governo Dilma não produziu sozinho essas políticas. Foi amplamente respaldado pelos empresários e suas entidades de classe empenhados em reivindicar pacotes compensatórios para sua falta de competitividade e atraso tecnológico, sem que suas causas fossem atacadas.
Mesmo antes do governo Dilma, a Fiesp, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e os organismos que as assessoram vinham martelando por políticas protecionistas, por juros artificialmente baixos e câmbio fortemente desvalorizado, sem considerar que são medidas que tendem a produzir resultados contrários, especialmente a valorização da moeda (baixa do dólar), como lembrou o professor Affonso Celso Pastore em seu artigo no Estadão de domingo.
A discussão entre os empresários raramente foi pela adoção de políticas consistentes nas áreas fiscal, monetária e cambial, mas pela adoção de expedientes que supostamente contribuiriam para a redução dos custos de produção e pela barragem a produtos concorrentes.
A cada decisão do Copom, por exemplo, a Fiesp tinha prontas três notas oficiais. Se o Banco Central tivesse empurrado os juros para cima, soltava a que denunciava decisão irresponsável; se os reduzia, tinha sido um movimento insuficiente; se deixava onde estavam, a nota falava de falta de coragem. Raramente foi levada em conta a consistência da política de metas e suas exigências.
Os empresários foram os primeiros a aplaudir a desastrada decisão de redução de preços da energia elétrica de 2013. Sempre defenderam as tais políticas industriais que distribuíram créditos favorecidos do BNDES, subsídios, redução temporária de impostos ao consumo, reservas de mercado e exigências de conteúdo local. Há muito o empresariado não toma a iniciativa de propor um projeto amplo de expansão da infraestrutura e de formação de poupança. Apenas recentemente, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) passou a defender políticas de crescimento sustentável da economia e da indústria.
Os governos do PT não podem ser acusados de terem desmantelado sozinhos o mercado externo da indústria. A indústria nunca questionou com firmeza a falta de empenho na negociação de acordos comerciais nem os arranjos bolivarianos com vizinhos. Não há empenho da protegida indústria de veículos de garantir o livre-comércio no Mercosul. E, ainda agora, reivindica acordos esdrúxulos com a Argentina, sem levar em conta que por trás das atuais mazelas estão agudas crises de demanda, tanto lá como cá. Os empresários também têm de ser responsabilizados pelo que chamam de processo de desindustrialização do Brasil.
21 de maio de 2014
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
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