‘O que aconteceu?’ — talvez seja a melhor pergunta que a candidata Dilma possa fazer para a presidente. Resposta sincera seria confissão, sem absolvição
Começa amanhã uma nova rodada de pesquisas de intenção de voto em todo o país. PT, PSDB e PSB informam não apostar em surpresas na tendência do eleitorado quanto à disputa presidencial. Concentram atenção na expectativa de mudanças a partir de 2015.
Por isso, pesquisadores do Ibope, por exemplo, voltam às ruas de mais de 700 cidades com uma pergunta objetiva: “Gostaria que mudasse totalmente o governo do país?”
Mês passado, mais de dois terços (68%) dos entrevistados do Ibope disseram esperar alguma mudança na forma de governar o país. Quando questionados se desejavam mudar “com Dilma no governo ou com outro presidente’’, 64% indicaram “outro presidente’’, 25% citaram “Dilma” e 11% não souberam dizer ou não responderam.
Esse retrato, confirmado em outras pesquisas, mostra um ambiente político diferente — e contrário — ao dos meses anteriores à eleição de Dilma Rousseff, em 2010, quando a simples continuidade de governo era percebida como um valor. Na prática, reafirma-se hoje algo perceptível nas ruas desde o ano passado.
Avançou a percepção de perda de horizonte de progresso pessoal e coletivo. Em campanha, isso dá realce à crítica sobre a gerência rudimentar do governo em serviços básicos como saúde, educação, transporte e segurança, pelos quais se paga 36% do Produto Interno Bruto em tributos — carga equivalente à média da Europa.
As pesquisas, em geral, espelham uma ansiedade por crescimento econômico com serviços públicos de melhor qualidade.
Nos últimos três anos o país cresceu à média de 1,9% (aumento do PIB, descontada a inflação). Esse ritmo de avanço é dos menores da história da República, demonstra Reinaldo Gonçalves no livro “Desenvolvimento às avessas’’.
Ao comparar o desempenho de Dilma com o de outros 29 presidentes, no período entre 1890 e 2014, ele conclui que o atual governo estacionou em 28º lugar, com o terceiro pior desempenho da história republicana: “Só não perde para os de Fernando Collor (queda de 1,3% no PIB) e Floriano Peixoto (declínio de 7,5%).”
Sob Collor, ressalva, o país enfrentou crise institucional (com impeachment), e com Floriano atravessou autêntica guerra civil — “a capital (o Rio) foi bombardeada durante seis meses’’.
O quadro não melhora quando o Brasil de Dilma é observado no mapa-múndi. Entre 2011 e 2013, a economia brasileira cresceu 2,5%; e a mundial, 3,5%.
O país (com 1,9%) ficou abaixo da metade da média de crescimento (4,3%) de 152 países em desenvolvimento — entre os 188 acompanhados pelo Fundo Monetário Internacional, esclarece Gonçalves. A situação permanece ruim quando se compara à vizinhança: os 32 países da América Latina e do Caribe cresceram muito mais (3,2%).
Em 2010, Dilma Rousseff se apresentou, com êxito, como melhor alternativa para “gerenciar” o progresso dos brasileiros. Hoje, informam as pesquisas, apenas um em cada quatro eleitores a reconhecem como opção para realizar as mudanças desejadas. “O que aconteceu?” — talvez seja a melhor pergunta que a candidata Dilma possa fazer para a presidente na intimidade do espelho. Resposta sincera seria confissão, sem absolvição.
Começa amanhã uma nova rodada de pesquisas de intenção de voto em todo o país. PT, PSDB e PSB informam não apostar em surpresas na tendência do eleitorado quanto à disputa presidencial. Concentram atenção na expectativa de mudanças a partir de 2015.
Por isso, pesquisadores do Ibope, por exemplo, voltam às ruas de mais de 700 cidades com uma pergunta objetiva: “Gostaria que mudasse totalmente o governo do país?”
Mês passado, mais de dois terços (68%) dos entrevistados do Ibope disseram esperar alguma mudança na forma de governar o país. Quando questionados se desejavam mudar “com Dilma no governo ou com outro presidente’’, 64% indicaram “outro presidente’’, 25% citaram “Dilma” e 11% não souberam dizer ou não responderam.
Esse retrato, confirmado em outras pesquisas, mostra um ambiente político diferente — e contrário — ao dos meses anteriores à eleição de Dilma Rousseff, em 2010, quando a simples continuidade de governo era percebida como um valor. Na prática, reafirma-se hoje algo perceptível nas ruas desde o ano passado.
Avançou a percepção de perda de horizonte de progresso pessoal e coletivo. Em campanha, isso dá realce à crítica sobre a gerência rudimentar do governo em serviços básicos como saúde, educação, transporte e segurança, pelos quais se paga 36% do Produto Interno Bruto em tributos — carga equivalente à média da Europa.
As pesquisas, em geral, espelham uma ansiedade por crescimento econômico com serviços públicos de melhor qualidade.
Nos últimos três anos o país cresceu à média de 1,9% (aumento do PIB, descontada a inflação). Esse ritmo de avanço é dos menores da história da República, demonstra Reinaldo Gonçalves no livro “Desenvolvimento às avessas’’.
Ao comparar o desempenho de Dilma com o de outros 29 presidentes, no período entre 1890 e 2014, ele conclui que o atual governo estacionou em 28º lugar, com o terceiro pior desempenho da história republicana: “Só não perde para os de Fernando Collor (queda de 1,3% no PIB) e Floriano Peixoto (declínio de 7,5%).”
Sob Collor, ressalva, o país enfrentou crise institucional (com impeachment), e com Floriano atravessou autêntica guerra civil — “a capital (o Rio) foi bombardeada durante seis meses’’.
O quadro não melhora quando o Brasil de Dilma é observado no mapa-múndi. Entre 2011 e 2013, a economia brasileira cresceu 2,5%; e a mundial, 3,5%.
O país (com 1,9%) ficou abaixo da metade da média de crescimento (4,3%) de 152 países em desenvolvimento — entre os 188 acompanhados pelo Fundo Monetário Internacional, esclarece Gonçalves. A situação permanece ruim quando se compara à vizinhança: os 32 países da América Latina e do Caribe cresceram muito mais (3,2%).
Em 2010, Dilma Rousseff se apresentou, com êxito, como melhor alternativa para “gerenciar” o progresso dos brasileiros. Hoje, informam as pesquisas, apenas um em cada quatro eleitores a reconhecem como opção para realizar as mudanças desejadas. “O que aconteceu?” — talvez seja a melhor pergunta que a candidata Dilma possa fazer para a presidente na intimidade do espelho. Resposta sincera seria confissão, sem absolvição.
21 de maio de 2014
José Casado, O Globo
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