"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A COPA DO MUNDO E A LACUNA DEMOCRÁTICA - 2

-Dando sequência ao artigo da semana anterior, neste texto, exemplifico duas formas de manipulação da “paixão nacional” ocorridas na montagem da Copa do Mundo. Uma trata da distribuição por todo o território das cidades-sede e outra do apelo publicitário revivido a cada quatro anos.

O Brasil sedia neste ano uma competição espalhada pelo país. Temos a representação de cinco regiões do Brasil e doze cidades-sede da Copa de 2014. São elas: Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Cuiabá (MT), Brasília (DF), Fortaleza (CE), Natal (RN), Salvador (BA), Recife (PE) e Manaus (AM).

A manipulação que me referi semana passada diz respeito não ao fato não de termos sedes em todas as grandes regiões do país; a crítica recai nas escolhas de capitais com inferior tradição futebolística. Um exemplo é o Centro-Oeste, onde o poderoso futebol goiano não estará representado, sendo substituído por centros menores no esporte, como o Distrito Federal e Cuiabá. O mesmo ocorre na Região Amazônica. Belém tem duas potências dentro das quatro linhas, e ainda assim não entra como sede, dando lugar a Manaus.

Em ambos os casos, após o torneio, os novos estádios não serão utilizados com a mesma intensidade do que seriam tanto o Mangueirão (Belém) como o Serra Dourada (Goiânia), caso reformados para o evento. O argumento de nacionalizar a competição mundial da FIFA não corresponde à dimensão nacional do futebol e sim a interesses oligárquicos que compõem a sempre fluida base “aliada”. O efeito direto é a sobrevalorização do solo urbano, atendendo aos consórcios locais de grandes obras, eternas clientes das verbas públicas.


Já o apelo publicitário gerou benefícios para o povo brasileiro. Este veio através do lema: “Vem pra rua, porque a rua é a maior arquibancada do Brasil”. O jingle foi interpretado pelo respeitável grupo O Rappa, sendo de autoria do compositor e cantor Wilson Simoninha e fora encomendado pela campanha da FIAT de 2013.

Seu efeito indireto foi interessante. Ultrapassou a forma mercadoria e operou como catalisador da indignação nacional com os desmandos da FIFA e a inversão de prioridades. Ao promover a participação popular, chamou a atenção para a hegemonia mercantil e transnacional do esporte, e ajudou na crítica da associação de símbolos e cores com a “paixão nacional”. Ironia da história contemporânea, nós fomos convocados a aderir ao evento como “brasileiros”; mas, por sorte, estamos protestando como argentinos.

21 de maio de 2014
Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais

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