No meio de uma sessão de perguntas e respostas no Twitter, sobre o romance que estou lançando, um dos participantes me fez uma pergunta nada a ver com o livro e tudo a ver com a economia: está chegando ao fim o ciclo das commodities? Elas ainda estão com preços muito mais altos do que quando começaram a subir, em 2002, mas já não têm a mesma força.
A notícia de segunda-feira foi a queda do minério de ferro para abaixo de US$ 100. Foi a primeira vez que isso aconteceu em dois anos. As ações da Vale caíram e derrubaram o Ibovespa. O minério de ferro e as commodities metálicas têm caído, mas ainda têm cotações muito mais altas do que as do ponto inicial. Algumas ainda estão em patamar quatro vezes maior. O problema é que elas também estão distantes do recorde, observou a rede de notícias australiana ABC News. Para Brasil e Austrália, países que têm o minério de ferro como principal produto de exportação, essa pergunta deve estar na cabeça das autoridades: o que fazer quando a China reduzir suas compras?
A cada número ruim da China, cai a ação da Vale e aumenta a dúvida sobre o Brasil. Chegou-se a esse ponto pela dependência excessiva de um produto só. A exportação de minério de ferro foi de US$ 32 bilhões no ano passado. O segundo item é a soja triturada, também com exportação expressiva, mas 32% menor, de US$ 22 bi. Quem olha os processos de desenvolvimento dos países sabe que eles consomem minério de ferro e aço intensamente durante um período, depois, o consumo cai. A China tem milhões de chineses para integrar ao mercado de consumo, mas, recentemente, houve sinais de que o excesso de construção imobiliária, financiada pelo sistema bancário que é mal regulado e fiscalizado, pode produzir turbulências. Além do mais, o país, mesmo mantendo por três décadas o ritmo acelerado de crescimento, começa a ter uma redução gradual de patamar. Portanto, os chineses não serão eternamente grandes compradores de minério de ferro como foram na última década.
O que muitos analistas consideram é que os chineses e outros países vão continuar comprando commodities agrícolas, como a soja, e, assim, a demanda seguirá forte nos próximos anos. Elas tiveram altas de preços, num ritmo um pouco menor, mas devem manter espaço no mercado internacional.
Então a resposta para a pergunta é sim e não. Há commodities que podem ter mais dificuldades; outras continuarão com preços altos. Um clima mais instável pressionará os preços dos alimentos. Isso significa que as commodities agrícolas podem oscilar, mas não estão altas apenas por um ciclo passageiro. Essa continuará sendo a tendência. Uma boa safra reduzirá preços, mas ao longo do tempo eles devem ter mais períodos de alta do que de baixa.
A questão do fim do ciclo das commodities deve assombrar os responsáveis pela balança comercial. Ela vem dando sinais de fraqueza. Aliás, a queda foi vertiginosa, saindo em poucos anos de US$ 40 bilhões para o que pode ser déficit em 2014. Se dependermos de apenas alguns poucos produtos, e poucos países, o país enfrentará dificuldades nos próximos anos.
O Brasil hoje é outro e não precisa fazer megasuperávits para garantir divisas para a dívida externa. Mas sua estratégia de comércio exterior deveria ser a de integrar-se à cadeia global de suprimento, aumentar o número de produtos exportados e de países parceiros. A concentração, como a que se acentuou nos últimos anos, não faz bem.
O déficit na balança neste começo de ano - e no começo do ano passado - tem menos a ver com a queda das commodities e mais com o custo cada vez mais pesado do petróleo nas importações. Os derivados pesam nas contas da Petrobras e do país, por isso esse assunto tem que ser olhado de forma global. O que temos que perguntar é se queremos ou não manter o déficit por incentivar o consumo de combustível fóssil.
A notícia de segunda-feira foi a queda do minério de ferro para abaixo de US$ 100. Foi a primeira vez que isso aconteceu em dois anos. As ações da Vale caíram e derrubaram o Ibovespa. O minério de ferro e as commodities metálicas têm caído, mas ainda têm cotações muito mais altas do que as do ponto inicial. Algumas ainda estão em patamar quatro vezes maior. O problema é que elas também estão distantes do recorde, observou a rede de notícias australiana ABC News. Para Brasil e Austrália, países que têm o minério de ferro como principal produto de exportação, essa pergunta deve estar na cabeça das autoridades: o que fazer quando a China reduzir suas compras?
A cada número ruim da China, cai a ação da Vale e aumenta a dúvida sobre o Brasil. Chegou-se a esse ponto pela dependência excessiva de um produto só. A exportação de minério de ferro foi de US$ 32 bilhões no ano passado. O segundo item é a soja triturada, também com exportação expressiva, mas 32% menor, de US$ 22 bi. Quem olha os processos de desenvolvimento dos países sabe que eles consomem minério de ferro e aço intensamente durante um período, depois, o consumo cai. A China tem milhões de chineses para integrar ao mercado de consumo, mas, recentemente, houve sinais de que o excesso de construção imobiliária, financiada pelo sistema bancário que é mal regulado e fiscalizado, pode produzir turbulências. Além do mais, o país, mesmo mantendo por três décadas o ritmo acelerado de crescimento, começa a ter uma redução gradual de patamar. Portanto, os chineses não serão eternamente grandes compradores de minério de ferro como foram na última década.
O que muitos analistas consideram é que os chineses e outros países vão continuar comprando commodities agrícolas, como a soja, e, assim, a demanda seguirá forte nos próximos anos. Elas tiveram altas de preços, num ritmo um pouco menor, mas devem manter espaço no mercado internacional.
Então a resposta para a pergunta é sim e não. Há commodities que podem ter mais dificuldades; outras continuarão com preços altos. Um clima mais instável pressionará os preços dos alimentos. Isso significa que as commodities agrícolas podem oscilar, mas não estão altas apenas por um ciclo passageiro. Essa continuará sendo a tendência. Uma boa safra reduzirá preços, mas ao longo do tempo eles devem ter mais períodos de alta do que de baixa.
A questão do fim do ciclo das commodities deve assombrar os responsáveis pela balança comercial. Ela vem dando sinais de fraqueza. Aliás, a queda foi vertiginosa, saindo em poucos anos de US$ 40 bilhões para o que pode ser déficit em 2014. Se dependermos de apenas alguns poucos produtos, e poucos países, o país enfrentará dificuldades nos próximos anos.
O Brasil hoje é outro e não precisa fazer megasuperávits para garantir divisas para a dívida externa. Mas sua estratégia de comércio exterior deveria ser a de integrar-se à cadeia global de suprimento, aumentar o número de produtos exportados e de países parceiros. A concentração, como a que se acentuou nos últimos anos, não faz bem.
O déficit na balança neste começo de ano - e no começo do ano passado - tem menos a ver com a queda das commodities e mais com o custo cada vez mais pesado do petróleo nas importações. Os derivados pesam nas contas da Petrobras e do país, por isso esse assunto tem que ser olhado de forma global. O que temos que perguntar é se queremos ou não manter o déficit por incentivar o consumo de combustível fóssil.
21 de maio de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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