A maratona do ex-presidente Lula nos últimos dias, ao tempo em que indica claramente sua intenção de candidatar-se em 2018, expõe a indigência da coordenação política do governo, incapaz de atuar com eficiência mínima para o reequilíbrio das relações com o Congresso Nacional.
Lula em campo significa a extrema-unção da articulação do PT no Planalto. Ele cumpre roteiro claro de aprovar o ajuste fiscal para evitar o pior para Dilma. Mas o PMDB não aceita assumir o ônus das medidas, enquanto o PT as contesta publicamente.
A manifestação do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), confirma a acusação do PMDB. Diz ele que as críticas do partido ao ajuste fiscal são apenas para "marcar posição com o eleitor".
Quando for a hora de votar para valer, acrescenta, ninguém faltará ao governo. É o mesmo princípio que orientou a campanha da reeleição de Dilma: dizer uma coisa para a plateia e, conquistado o objetivo eleitoral, agir em sentido contrário. Só que agora o âmbito é o Congresso, onde no jargão político, "o mais bobo ali voa".
Lula é o que resta de confiabilidade no PT - não para efeito público, mas no contexto das negociações com os demais partidos da base aliada. O que o torna uma espécie de primeiro-ministro no cenário político. Opera para si próprio, mas precisa reconstruir as pontes com os partidos aliados, principalmente o PMDB, para uma candidatura do partido à sucessão de Dilma.
De preferência com ele, Lula. Nas conversas em Brasília com as reais lideranças influentes no Congresso, condicionou sua candidatura - e o sucesso de qualquer outra governista - ao êxito do plano de ajuste do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Mas o próprio Lula foi atingido pelo desgaste do PT e sua ação em favor de Dilma Rousseff reconhece que é dele a responsabilidade pela sua eleição e também pelos resultados de seu governo. Não só para o público interno, mas para os eleitores que apostaram na sua afilhada pela segunda vez e já mostram arrependimento.
Sua incursão ostensiva em terreno da coordenação política, com críticas ao trabalho do ministro Aloizio Mercadante, - em quem vê não só insuficiência para o posto, mas também um aspirante à presidência da República -, faz parte da cruzada a que se dispôs, que tem como efeito colateral a exposição dos erros da equipe palaciana até aqui.
Nesse contexto, o coordenador político Mercadante perde espaço para aquele de quem Dilma precisa mais - e que entrou em cena com o pé na porta.
03 de março de 2015
João Bosco Rabello, O Estado de S. Paulo
Lula em campo significa a extrema-unção da articulação do PT no Planalto. Ele cumpre roteiro claro de aprovar o ajuste fiscal para evitar o pior para Dilma. Mas o PMDB não aceita assumir o ônus das medidas, enquanto o PT as contesta publicamente.
A manifestação do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), confirma a acusação do PMDB. Diz ele que as críticas do partido ao ajuste fiscal são apenas para "marcar posição com o eleitor".
Quando for a hora de votar para valer, acrescenta, ninguém faltará ao governo. É o mesmo princípio que orientou a campanha da reeleição de Dilma: dizer uma coisa para a plateia e, conquistado o objetivo eleitoral, agir em sentido contrário. Só que agora o âmbito é o Congresso, onde no jargão político, "o mais bobo ali voa".
Lula é o que resta de confiabilidade no PT - não para efeito público, mas no contexto das negociações com os demais partidos da base aliada. O que o torna uma espécie de primeiro-ministro no cenário político. Opera para si próprio, mas precisa reconstruir as pontes com os partidos aliados, principalmente o PMDB, para uma candidatura do partido à sucessão de Dilma.
De preferência com ele, Lula. Nas conversas em Brasília com as reais lideranças influentes no Congresso, condicionou sua candidatura - e o sucesso de qualquer outra governista - ao êxito do plano de ajuste do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Mas o próprio Lula foi atingido pelo desgaste do PT e sua ação em favor de Dilma Rousseff reconhece que é dele a responsabilidade pela sua eleição e também pelos resultados de seu governo. Não só para o público interno, mas para os eleitores que apostaram na sua afilhada pela segunda vez e já mostram arrependimento.
Sua incursão ostensiva em terreno da coordenação política, com críticas ao trabalho do ministro Aloizio Mercadante, - em quem vê não só insuficiência para o posto, mas também um aspirante à presidência da República -, faz parte da cruzada a que se dispôs, que tem como efeito colateral a exposição dos erros da equipe palaciana até aqui.
Nesse contexto, o coordenador político Mercadante perde espaço para aquele de quem Dilma precisa mais - e que entrou em cena com o pé na porta.
03 de março de 2015
João Bosco Rabello, O Estado de S. Paulo
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