"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 3 de março de 2015

OS CENÁRIOS QUE PODEM ACONTECER



Qualquer que seja a situação os Estados Maiores de todos os  Exércitos iniciam por levantar os cenários possíveis. Quando há uma força inimiga em frente, os cenários iniciam pelo que o inimigo pode fazer: atacar, defender, retrair, reforçar... e os sub cenários – onde ,como, quando, com que valor, para que...  

Os cenários políticos não seriam obrigações dos Exércitos, mas eles não tem como deixar de levantá-los, ao menos para saber o que podem esperar. O resumo de levantamento destas linhas, traçadas sumariamente é apenas para conhecimento geral do que certamente está sendo estudado no Estado Maior do Exército, com muito, muito maior profundidade.

Vamos partir da situação geral: A economia está em dificuldades, o descontentamento aumenta, o Judiciário perde a pouca confiabilidade que tinha,o Legislativo se afunda entre mordomias exageradas sem mostrar serviço algum. A população despertou no horror à corrupção existente com a fúria até então reprimida e tende a não mais aceitar contemporizações. Em todas as camadas da sociedade é manifesto o desejo de mudança. As paixões políticas antes limitadas aos comunistas fanáticos se acendem também em outros setores.

A insegurança pública atinge a níveis alarmantes e é notória a insensibilidade em todos os níveis de governo, a iniciar pelos legisladores que tentam acovardar a população, apesar de ligeira melhoria nos equipamentos bélicos, a sensação de debilidade militar angustia as Forças Armadas e a todos que pensam no assunto.

Há crença geral que alguma mudança seja necessária e esteja para acontecer. Em cada cenário espera-se uma determinada atitude das Forças Armadas, as principais guardiãs da nacionalidade.

Cenário nº 1-   O Impeachment

Interessados: O PMDB (presumivelmente o principal beneficiário), a oligarquia financeira internacional (usando o PSDB) e os comunistas partidários do quanto pior, melhor.

O impeachment interessa ao PMDB, mas só depois da metade do mandato para que o vice presidente assuma legalmente. Do contrário haveria nova eleição e o provável beneficiário seria o PSDB, considerando que o Congresso é dominado pelo PMDB, é provável que o citado partido impeça o impeachment até lá. Entretanto, caso a sucessão de escândalos eleve a rejeição ao Governo a mais de 85% a pressão popular forçará o Congresso a levar adiante um processo de impeachment antes do prazo desejado pelo PMDB.

Em qualquer desses sub-cenários as Forças Armadas tendem a se manter apenas observando, apesar dos insistentes pedidos que receberá para intervir, prosseguirá apagando “incêndios” por ordem do Governo, sem aceitar, a não ser em casos extremos, o pedido de intervenção feito por algum dos Poderes, como permite a Constituição. Pode acontecer que, indignadas por alguma atitude governamental que as humilhe ou que seja considerada de lesa-pátria as Forças Armadas façam algumas exigências que, naturalmente, serão atendidas imediatamente não só por serem necessárias mas principalmente para evitar uma reação maior.

Cenário 2 – A estrutura Governamental conseguir se manter.

Interessados: O PT e aliados próximos, pessoas em cargos governamentais, os acomodados que temem mudanças (a grande maioria) e os que desejam evitar um tipo de mudança que pareça provável.

Com algumas medidas corretas que corrijam ou atenuem os motivos do descontentamento popular, com o possível entusiasmo despertado pelas olimpíadas, com a desmoralização dos demais poderes da República, pela inépcia dos postulantes ao cargo máximo e quem sabe em função de algum desafio internacional o Governo, mesmo claudicando pode chegar até o final, espera-se, sem ceder as pressões estrangeiras, para a desnacionalização da Petrobrás ou para a secessão de terras indígenas, o que poderia ser motivo para uma intervenção militar.

Cenário 3 – Convulsão social-popular

Interessados: Oligarquia internacional, elementos radicais de diversos matizes, pessoas e grupos indignados, injustiçados ou espoliados e os que detestam tanto o governo que preferem qualquer coisa a ele.

O descontentamento geral é um barril de pólvora e uma reação inadequada a uma passeata ou a uma greve pode servir de espoleta. Neste momento está em curso uma greve de caminhoneiros com bloqueio de estradas. Claro que isto prejudica a economia, mas a determinação do uso da força pode servir de “acionador”, conforme o descontentamento popular.

Se esse movimento for bem resolvido, sabemos que haverão outros e mais fortes. Na Traição do Lula na Raposa-Serra do Sol o Exército se recusou a cumprir as ordens e esteve a um passo de se opor em força à imbecil decisão governamental. Outra traição destas certamente não permitirá.

Entretanto, só haverá uma intervenção militar autônoma em caso de grave convulsão, causada por forças antagônicas reativas ou contra alguma medida que ameace a segurança da Pátria ou ao menos ameace fortemente o interesse nacional e que a intervenção seja desejada por parte significativa da população. Fora desses casos, é improvável que as Forças Armadas decidam consertar a confusão que os civis resolveram fazer, embora as soluções para todas as mazelas sejam de fácil execução e certamente já estão estudadas e esquematizadas para implementação em caso de necessidade.

Dois pesos e duas medidas

O MST, inspirado no movimento comunista internacional, bloqueia estradas e promove invasões de propriedades privadas – A Força Nacional é enviada para protegê-los.

Índios, orientados por ONGs estrangeiras, expulsam os não índios, bloqueiam estradas, cobram pedágios ilegais, torturam e matam – A Polícia Federal é acionada para protegê-los.

Se algum setor produtivo fizer algum movimento reivindicatório, mesmo dentro da legalidade, todas as forças policiais serão acionadas CONTRA o movimento.

Quando descumprir ordens

Talvez muitos militares ainda pensem que a disciplina é um fim em si mesma, mas não é. A Disciplina é um excelente meio de conjugar esforços, mas passa a ser prejudicial quando é usada pelo chefe para tolher as iniciativas ou quando  usada pelos subordinados apenas para evitar responsabilidades, ou seja, para encobrir a covardia.

Consta da literatura militar que Frederico II da Prússia, recriminando a falta de iniciativa de certo comandante de batalhão, ao ouvir a justificativa de que apenas cumpria ordens teria declarado: “O Rei não faria do senhor um oficial se imaginasse que não saberia quando descumprir ordens”.

Diz-se que existe uma referência a esta frase numa parede da Academia Militar alemã. Até Clausewitz afirmava que, sob certas circunstâncias, a consciência de um oficial  falava mais alto do que a obediência cega.

Agora temos um Ministro da Defesa decididamente inadequado, que já demonstrou sua aversão aos que consideramos heróis e seu apreço aos que combatemos com armas nas mãos.

Não sabemos que tipo de ordens pensa em nos dar. Sabemos que não podemos ter confiança nele. Supomos que ele, como sindicalista que é, saberá distinguir o que não pode fazer. Veremos.

Que o Senhor dos Exércitos ilumine as nossas decisões.

03 de março de 2015
Gelio Fregapani é Escritor e Coronel da Reserva do EB, atuou na área do serviço de inteligência na região Amazônica, elaborou relatórios como o do GTAM, Grupo de Trabalho da Amazônia.

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