Sem truculência, polícia precisa encontrar maneiras de conter atos de vandalismo, o que ajudaria a preservar apoio às manifestações
A pesquisa Datafolha publicada ontem registra de forma eloquente o desgaste que as manifestações sofrem desde junho, quando chegaram a atrair cerca de 1 milhão de pessoas em 25 capitais do país.
Naquela época, nada menos que 81% dos brasileiros diziam apoiar os protestos, e apenas 15% se declaravam contrários a eles. Não parecia haver dúvidas, para uma parcela maciça da população, quanto ao caráter auspicioso das marchas.
Passados oito meses, contudo, parte significativa daquela esperança se esvaiu, decerto abalada pela violência que passou a acompanhar os atos. A rejeição às passeatas saltou para 42%, enquanto a aprovação despencou para 52%.
Trata-se de mais uma faceta deletéria do vandalismo. Além dos danos diretos que provoca ao setor público e privado, a arruaça contamina o espírito das ruas, prejudicando uma saudável demonstração de inconformismo.
Ao demandar maior zelo com os recursos públicos e melhoria nos serviços oferecidos pelo Estado, os protestos já obtiveram vitórias notáveis, em acréscimo ao próprio despertar do sistema político.
É sintoma desse novo ânimo crítico que o chamado país do futebol veja diminuir de modo expressivo o apoio à realização da Copa do Mundo no Brasil --para o que as manifestações, somadas ao acompanhamento sistemático sobre custos e legados feito pela imprensa, certamente contribuíram.
Diante desses dados, aqueles que defendem o quebra-quebra deveriam se perguntar a quem tal comportamento condenável aproveita. Por retirar respaldo das marchas, a resposta soa evidente: aos que nunca quiseram dar ouvidos às justas reclamações populares.
Assegurar o transcurso pacífico das passeatas, portanto, é um desiderato democrático --e não o seu contrário, como alguns têm procurado sustentar. Deveria ser igualmente óbvio que medidas adotadas com esse propósito não podem violar o direito de manifestação; antes, devem garanti-lo.
Enquanto se discutem iniciativas legislativas nesse sentido, a Polícia Militar de São Paulo mostrou, no sábado, que há muito a avançar no campo tático. Agentes desarmados e treinados em artes marciais isolaram participantes de um ato contra a Copa e lideraram a detenção de mais de 200 pessoas.
Para o comando da PM, a operação foi um sucesso. De fato, na comparação com eventos anteriores, foi menor o número de confrontos, feridos e depredações.
Houve, por outro lado, inegáveis arbitrariedades. Inúmeras pessoas sem conexão com o vandalismo foram cercadas, e entre elas estavam diversos jornalistas --o que indica o tamanho da inépcia policial.
O caminho que separa um plano bem-intencionado de sua execução muitas vezes é tortuoso. À população não interessa nem a truculência nem a omissão durante os protestos, mas nenhuma estratégia de contenção será adequada se fizer da intimidação uma regra.
A pesquisa Datafolha publicada ontem registra de forma eloquente o desgaste que as manifestações sofrem desde junho, quando chegaram a atrair cerca de 1 milhão de pessoas em 25 capitais do país.
Naquela época, nada menos que 81% dos brasileiros diziam apoiar os protestos, e apenas 15% se declaravam contrários a eles. Não parecia haver dúvidas, para uma parcela maciça da população, quanto ao caráter auspicioso das marchas.
Passados oito meses, contudo, parte significativa daquela esperança se esvaiu, decerto abalada pela violência que passou a acompanhar os atos. A rejeição às passeatas saltou para 42%, enquanto a aprovação despencou para 52%.
Trata-se de mais uma faceta deletéria do vandalismo. Além dos danos diretos que provoca ao setor público e privado, a arruaça contamina o espírito das ruas, prejudicando uma saudável demonstração de inconformismo.
Ao demandar maior zelo com os recursos públicos e melhoria nos serviços oferecidos pelo Estado, os protestos já obtiveram vitórias notáveis, em acréscimo ao próprio despertar do sistema político.
É sintoma desse novo ânimo crítico que o chamado país do futebol veja diminuir de modo expressivo o apoio à realização da Copa do Mundo no Brasil --para o que as manifestações, somadas ao acompanhamento sistemático sobre custos e legados feito pela imprensa, certamente contribuíram.
Diante desses dados, aqueles que defendem o quebra-quebra deveriam se perguntar a quem tal comportamento condenável aproveita. Por retirar respaldo das marchas, a resposta soa evidente: aos que nunca quiseram dar ouvidos às justas reclamações populares.
Assegurar o transcurso pacífico das passeatas, portanto, é um desiderato democrático --e não o seu contrário, como alguns têm procurado sustentar. Deveria ser igualmente óbvio que medidas adotadas com esse propósito não podem violar o direito de manifestação; antes, devem garanti-lo.
Enquanto se discutem iniciativas legislativas nesse sentido, a Polícia Militar de São Paulo mostrou, no sábado, que há muito a avançar no campo tático. Agentes desarmados e treinados em artes marciais isolaram participantes de um ato contra a Copa e lideraram a detenção de mais de 200 pessoas.
Para o comando da PM, a operação foi um sucesso. De fato, na comparação com eventos anteriores, foi menor o número de confrontos, feridos e depredações.
Houve, por outro lado, inegáveis arbitrariedades. Inúmeras pessoas sem conexão com o vandalismo foram cercadas, e entre elas estavam diversos jornalistas --o que indica o tamanho da inépcia policial.
O caminho que separa um plano bem-intencionado de sua execução muitas vezes é tortuoso. À população não interessa nem a truculência nem a omissão durante os protestos, mas nenhuma estratégia de contenção será adequada se fizer da intimidação uma regra.
25 de fevereiro de 2014
Editorial Folha de SP
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