O problema é que, por enquanto, Brasília não se mexe para promover um choque de confiança no setor privado
Dezessete anos depois de a Tailândia iniciar a chamada crise dos Tigres Asiáticos, os países emergentes voltam a ficar na berlinda. Deixaram o posto de locomotiva do mundo, conquistado recentemente, para novamente tornarem-se um ponto de interrogação. A desconfiança do investidor internacional dessas nações já está provocando uma mudança no fluxo de investimentos diretos e de capitais especulativos que vêm ganhar com os juros altos ou com ações baratas na Bolsa de Valores de São Paulo. Esse dinheiro começou a migrar para as economias maduras, como Estados Unidos e países da zona do euro, que começam a se recuperar da crise de 2008.
Para amargura do governo federal, o Brasil foi citado entre os emergentes como o segundo país mais vulnerável nesta crise. Só perde para a Turquia. Bancos de investimento criaram um ranking chamado de “os cinco frágeis”. Além do Brasil e da Turquia, estão nessa lista a Índia, a Indonésia e a África do Sul. A nova presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Janet Yellen, ratificou a lista e citou nominalmente o Brasil. Ela disse que a mudança de política monetária nos EUA, com redução dos estímulos à economia, que deve levar a uma alta de juros no futuro, não é a única razão para a debandada dos investidores dos países emergentes.
Yellen tem razão. É difícil para Brasília admitir que algumas correções de rota são necessárias na economia para tirar o Brasil desse grupo. O Brasil tem reservas internacionais da ordem de US$ 370 bilhões, um colchão mais que suficiente para amortecer qualquer disparada do dólar caso a crise se aprofunde. Mas, assim como seus pares emergentes, tem uma situação fiscal muito ruim, só pior que a da Turquia. Sua economia cresce pouco, a inflação está em alta, os juros sobem para conter a alta dos preços, mas travam ainda mais o crescimento econômico.
O fluxo de dólares, incluindo o investimento direto, para o país não cobre mais o déficit de transações correntes. O BC informou que o fluxo cambial está positivo em apenas US$ 46 milhões no mês até o dia 7 de fevereiro. Os investidores estrangeiros não param de vender ações na Bolsa de Valores. O saldo de investimento estrangeiro na Bovespa está negativo em R$ 1,452 bilhão em fevereiro até o dia 10. A safra agrícola corre o risco de quebrar por causa do verão seco, o que poderia comprometer uma parte importante das exportações. Serão ainda menos dólares entrando no país. Além disso, o Brasil está na mira das agências de classificação de risco e corre o risco de ser rebaixado.
O problema é que, por enquanto, Brasília não se mexe para promover um choque de confiança no setor privado. O corte de R$ 30 bilhões em despesas, número ventilado pela imprensa, não foi anunciado. Os gastos públicos aumentam. Um exemplo é o setor de energia que terá que ser compensado para evitar um aumento da conta de luz para os consumidores. Serão quase R$ 18 bilhões saindo do Tesouro.
Nesse cenário de incertezas internas e externas, o dólar continua subindo e já se fala em algo como R$ 2,60 ou R$ 2,70 no fim deste ano. É mais lenha na fogueira da inflação. Ou Brasília se mexe ou corremos o risco de 2014 se tornar um ano perdido do ponto de vista econômico. Num período de eleições, este é um capital político que nenhum candidato quer. Melhoria substancial na gestão pública é um dos caminhos.
Dezessete anos depois de a Tailândia iniciar a chamada crise dos Tigres Asiáticos, os países emergentes voltam a ficar na berlinda. Deixaram o posto de locomotiva do mundo, conquistado recentemente, para novamente tornarem-se um ponto de interrogação. A desconfiança do investidor internacional dessas nações já está provocando uma mudança no fluxo de investimentos diretos e de capitais especulativos que vêm ganhar com os juros altos ou com ações baratas na Bolsa de Valores de São Paulo. Esse dinheiro começou a migrar para as economias maduras, como Estados Unidos e países da zona do euro, que começam a se recuperar da crise de 2008.
Para amargura do governo federal, o Brasil foi citado entre os emergentes como o segundo país mais vulnerável nesta crise. Só perde para a Turquia. Bancos de investimento criaram um ranking chamado de “os cinco frágeis”. Além do Brasil e da Turquia, estão nessa lista a Índia, a Indonésia e a África do Sul. A nova presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Janet Yellen, ratificou a lista e citou nominalmente o Brasil. Ela disse que a mudança de política monetária nos EUA, com redução dos estímulos à economia, que deve levar a uma alta de juros no futuro, não é a única razão para a debandada dos investidores dos países emergentes.
Yellen tem razão. É difícil para Brasília admitir que algumas correções de rota são necessárias na economia para tirar o Brasil desse grupo. O Brasil tem reservas internacionais da ordem de US$ 370 bilhões, um colchão mais que suficiente para amortecer qualquer disparada do dólar caso a crise se aprofunde. Mas, assim como seus pares emergentes, tem uma situação fiscal muito ruim, só pior que a da Turquia. Sua economia cresce pouco, a inflação está em alta, os juros sobem para conter a alta dos preços, mas travam ainda mais o crescimento econômico.
O fluxo de dólares, incluindo o investimento direto, para o país não cobre mais o déficit de transações correntes. O BC informou que o fluxo cambial está positivo em apenas US$ 46 milhões no mês até o dia 7 de fevereiro. Os investidores estrangeiros não param de vender ações na Bolsa de Valores. O saldo de investimento estrangeiro na Bovespa está negativo em R$ 1,452 bilhão em fevereiro até o dia 10. A safra agrícola corre o risco de quebrar por causa do verão seco, o que poderia comprometer uma parte importante das exportações. Serão ainda menos dólares entrando no país. Além disso, o Brasil está na mira das agências de classificação de risco e corre o risco de ser rebaixado.
O problema é que, por enquanto, Brasília não se mexe para promover um choque de confiança no setor privado. O corte de R$ 30 bilhões em despesas, número ventilado pela imprensa, não foi anunciado. Os gastos públicos aumentam. Um exemplo é o setor de energia que terá que ser compensado para evitar um aumento da conta de luz para os consumidores. Serão quase R$ 18 bilhões saindo do Tesouro.
Nesse cenário de incertezas internas e externas, o dólar continua subindo e já se fala em algo como R$ 2,60 ou R$ 2,70 no fim deste ano. É mais lenha na fogueira da inflação. Ou Brasília se mexe ou corremos o risco de 2014 se tornar um ano perdido do ponto de vista econômico. Num período de eleições, este é um capital político que nenhum candidato quer. Melhoria substancial na gestão pública é um dos caminhos.
25 de fevereiro de 2014
José Milton Dallari, O Globo
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