Viktor Yanukovich, presidente deposto da Ucrânia
(Gleb Garanich/Reuters)
O governo interino da Ucrânia emitiu na madrugada desta segunda-feira um mandado de prisão para o presidente Viktor Yanukovich, alvo de protestos nos últimos três meses que acabou destituído pelo Parlamento no sábado depois de ter abandonado o cargo. Segundo o Ministério do Interior ucraniano, foi iniciado um processo penal contra Yanukovich por "assassinato em massa" e emitida contra ele uma ordem de busca e captura. Desde que partiu da capital Kiev no sábado, ele foi visto na região da Crimeia, mas desde então seu paradeiro é desconhecido.
Em sua conta no Facebook, o ministro do Interior interino, Asden Avakov, afirmou que "foi aberto um processo penal por assassinato em massa de cidadãos pacíficos". Ele escreveu ainda que o mandado de busca se estende a outros funcionários de alto escalão do antigo governo, cuja responsabilidade pelas mortes de dezenas de manifestantes e policiais nos conflitos da semana passada será apurada. Ao menos 82 pessoas, na contagem oficial do governo, morreram nos confrontos.
Yanukovich enfrentou três meses de protestos depois de rejeitar, em novembro, um acordo de aproximação com a União Europeia e preferir estreitar os laços e receber ajuda financeira da Rússia. Após o dramático fim de seu governo, o Parlamento nomeou Oleksander Turchinov, braço-direito e confidente da oposicionista e ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, presidente interino do país.
Timoshenko, presa desde 2012, foi libertada no sábado. Rival de Yanukovich, a ex-magnata do gás de 53 anos foi sentenciada em 2011 a sete anos de prisão por um acordo de gás que assinou com a Rússia quando era premiê – seus partidários afirmam, porém, que a verdadeira razão do processo contra ela tinha natureza política. A sua libertação define uma possível candidatura à Presidência.
O presidente destituído abandonou o cargo um dia depois de ter feito concessões e assinado um acordo com a oposição negociado por diplomatas europeus. Mas o pacto, que convocava eleições antecipadas até o fim do ano e retirava poderes do presidente, não foi o suficiente para apaziguar os manifestantes, que invadiram prédios públicos e exigiram sua renúncia. Yanukovich então partiu da capital Kiev. Ele dirigiu-se para o leste, onde denunciou o que chamou de "golpe de Estado". Visto pela última vez na região da Crimeia, seu paradeiro é desconhecido.
Preocupações – O fim do governo de Viktor Yanukovich não diminuiu as preocupações de países ocidentais, que temem uma divisão da Ucrânia, um período perigoso de instabilidade política e uma reação imprevisível da Rússia. A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, anunciou uma viagem nesta segunda-feira a Kiev para discutir medidas a serem adotadas para encontrar uma solução política, no momento em que a Ucrânia está dividida entre o oeste pró-ocidental e o leste pró-russo. A Rússia, por sua vez, chamou seu embaixador na Ucrânia para consultas sobre a “deterioração da situação" na capital.
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Manifestante anti-governo durante um comício em Kiev - Reuters
O chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, um dos ministros europeus que mediaram o acordo concluído entre Yanukovich e a oposição, pediu que "a filosofia daqueles que estarão no poder no futuro (em Kiev) não seja ditada, em primeiro lugar, pela vingança, mas pela garantia da unidade ucraniana".
A preocupação dos europeus é compartilhada pelos americanos. A divisão da Ucrânia e a "volta da violência" não interessam aos Estados Unidos, à Rússia e a própria Ucrânia, afirmou neste domingo Susan Rice, assessora de segurança nacional do presidente Barack Obama. Consultada sobre o temor de uma intervenção militar russa na Ucrânia, Susan Rice simplesmente afirmou que "isto seria um grave erro".
Ameaça de calote – A União Europeia propôs a retomada do acordo de associação recusado por Yanukovich, que desencadeou a crise política. O Fundo Monetário Internacional indicou que está preparado para ajudar o país, assim como Washington, sem dar detalhes sobre valores ou condições.
No pronunciamento deste domingo, o presidente interino também afirmou que um dos desafios do próximo governo é estabilizar a economia, que ele disse correr risco de descumprir suas obrigações. A Ucrânia precisa de dezenas de bilhões de dólares este ano. O FMI estava prestes a conceder uma ajuda em troca de reformas drásticas que Viktor Yanukovich recusava, enquanto Moscou propunha uma ajuda de pelo menos 15 bilhões de dólares.
25 de fevereiro de 2014
Veja
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