«(…) Vocês podem tentar criar qualquer conflito ou qualquer barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, que vocês não vão conseguir.»
Dilma Rousseff, por ocasião da entrevista coletiva concedida em Bruxelas dia 24 fev° 2014.
Entre mim e ele? Concordo que soa muito estranho, mas assim é.
Quanto ao mais, com sua habitual falta de tacto, Dona Dilma misturou estações. Confundiu Cúpula UE-Brasil ― reunião de elevado nível ― com debate na OMC, onde não costumam discursar chefes de Estado. Soltou os cachorros no lugar inadequado e na hora indevida. Chorou pitangas para auditório que esperava outra coisa.
Chegado o momento da coletiva, a plateia de repórteres já temia o pior. Todos já se perguntavam se a presidente usaria martelo, marreta ou britadeira para acariciar a língua portuguesa.
Para surpresa geral, ela encaçapou a bola sete. Ninguém esperava, sejamos honestos. É raríssimo ouvir seja quem for dizer «entre mim e ele». Pois está corretíssimo, acreditem. É uma questão de coerência gramatical.
As preposições pedem pronome na forma oblíqua. Vejam só:
Dirigiu-se a mim.
Chegou antes de mim.
Veio até mim.
Testemunhou contra mim,
Não espere nada de mim.
Causou forte impressão em mim.
Para mim, não vale nada.
Manteve o respeito perante mim.
Por mim, está tudo bem.
Vá sem mim, que fico por aqui.
Discutiam sobre mim.
Chegou antes de mim.
Veio até mim.
Testemunhou contra mim,
Não espere nada de mim.
Causou forte impressão em mim.
Para mim, não vale nada.
Manteve o respeito perante mim.
Por mim, está tudo bem.
Vá sem mim, que fico por aqui.
Discutiam sobre mim.
Por que, diabos, somente a preposição «entre» escaparia à regra geral? Pois não escapa, ensina a norma culta. Entre mim e ele, sim, senhor. Quer mais inusitado ainda? Veja só: entre ele e mim. Gramaticalmente correto, sim, senhora.
Voltando à fala da presidente, há um ditado francês que diz que une fois n’est pas coutume ― um raro acerto aqui ou ali não significa que ela acerte sempre.
Desta vez, acertou. Pela singularidade do ato, sugiro uma salva de palmas pra ela. Clap, clap.
Razão dá-se a quem tem. Mas… que ninguém se engane. O malho não se aposentou. Está apenas de férias e pode voltar a qualquer momento.
Se você ainda duvidar da redenção presidencial, comprove aqui:
O Globo
Jornal do Brasil
Valor Econômico
Folha de São Paulo
O Globo
Jornal do Brasil
Valor Econômico
Folha de São Paulo
25 de fevereiro de 2014
José Horta Manzano
Nenhum comentário:
Postar um comentário