Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito. (Cardeal Retz)
O racha que o protestantismo representou para a Igreja Católica foi, em grande parte, causado pelos próprios papas durante um período de sessenta anos entre meados do século XV e começo do XVI. Ao menos esta é a tese da historiadora Barbara Tuchman, que dedica alguns capítulos do seu livro A Marcha da Insensatez ao assunto.
O comportamento de seis papas, que praticaram a insensatez da contumácia e da obstinação, abalaram a Santa Sé, conseguindo espatifar a unidade da Igreja, que perdeu quase a metade de seu rebanho para a cisão protestante.
Tuchman resume bem o que poderia estar por trás dessa insensatez: “Perseguindo os despojos do cargo como cães a farejar a caça, cada um dos seis papas, entre os quais um Bórgia e dois Médici, revelou-se totalmente dominado pela ambição de estabelecer a fortuna da família”. Os fiéis sentiam-se traídos com o abismo entre o que os agentes de Cristo deveriam parecer e o que realmente demonstravam ser.
O papa Sisto IV, eleito em 1471, “inaugurou uma fase de caça ao ganho pessoal e ao poder político de forma notória, despudorada, incansável”. O mais escandaloso de seus atos foi o envolvimento e possível instigação dos Pazzi no tocante à conspiração homicida contra os irmãos Médici. Aliado aos Pazzi, ele teria aprovado ou até tomado parte no obscuro negócio. Um papa assassino! Segundo Tuchman, ninguém lamentou sua morte, e Sisto IV deixou apenas descrédito no seu legado.
Barbara Tuchman conclui: “A insensatez dos papas não foi apenas a busca de políticas contraproducentes; foi, muito mais, a rejeição de uma tônica aceitável e coerente, quer política quer religiosa, que melhorasse o panorama geral do papado, evitando o crescente descontentamento”. Para ela, “grotesca extravagância e obsessiva busca de lucro pessoal se constituíram em segundo fator, de igual importância”.
Por fim, “ilusão de permanência, da inviolabilidade do poder e do status, eis a terceira insensatez”. Resumindo, “essas três atitudes incompatíveis – indiferença ao crescente descontentamento dos fiéis, preocupação de auto-engrandecimento, ilusão de status invulnerável – caracterizam aspectos persistentes da insensatez”.
Impossível não associar essa lição ao que vimos nesta quinta-feira no Congresso, que se recusou a cassar um deputado condenado pelo STF e preso. Natan Donadon vai algemado, no camburão, direto para a cadeia, mas com seu cargo de deputado intacto. Um deputado encarcerado!
Até onde vai o descaso com a opinião pública? Até onde vai o corporativismo daqueles que deveriam nos representar? Até onde vai o escárnio com a decência? Julgam-se inatingíveis, acima de todos, do bem e do mal?
Até o dia em que essa marcha da insensatez acabar com a farra deles. Poucas coisas são tão perigosas para a democracia como um Congresso totalmente desmoralizado e sem credibilidade alguma. Os nossos políticos, eleitos pelo próprio povo, estão abusando da sorte e da paciência dos “súditos”. Resta saber até quando isso pode durar.
30 de agosto de 2013
Rodrigo Constantino
O racha que o protestantismo representou para a Igreja Católica foi, em grande parte, causado pelos próprios papas durante um período de sessenta anos entre meados do século XV e começo do XVI. Ao menos esta é a tese da historiadora Barbara Tuchman, que dedica alguns capítulos do seu livro A Marcha da Insensatez ao assunto.
O comportamento de seis papas, que praticaram a insensatez da contumácia e da obstinação, abalaram a Santa Sé, conseguindo espatifar a unidade da Igreja, que perdeu quase a metade de seu rebanho para a cisão protestante.
Tuchman resume bem o que poderia estar por trás dessa insensatez: “Perseguindo os despojos do cargo como cães a farejar a caça, cada um dos seis papas, entre os quais um Bórgia e dois Médici, revelou-se totalmente dominado pela ambição de estabelecer a fortuna da família”. Os fiéis sentiam-se traídos com o abismo entre o que os agentes de Cristo deveriam parecer e o que realmente demonstravam ser.
O papa Sisto IV, eleito em 1471, “inaugurou uma fase de caça ao ganho pessoal e ao poder político de forma notória, despudorada, incansável”. O mais escandaloso de seus atos foi o envolvimento e possível instigação dos Pazzi no tocante à conspiração homicida contra os irmãos Médici. Aliado aos Pazzi, ele teria aprovado ou até tomado parte no obscuro negócio. Um papa assassino! Segundo Tuchman, ninguém lamentou sua morte, e Sisto IV deixou apenas descrédito no seu legado.
Barbara Tuchman conclui: “A insensatez dos papas não foi apenas a busca de políticas contraproducentes; foi, muito mais, a rejeição de uma tônica aceitável e coerente, quer política quer religiosa, que melhorasse o panorama geral do papado, evitando o crescente descontentamento”. Para ela, “grotesca extravagância e obsessiva busca de lucro pessoal se constituíram em segundo fator, de igual importância”.
Por fim, “ilusão de permanência, da inviolabilidade do poder e do status, eis a terceira insensatez”. Resumindo, “essas três atitudes incompatíveis – indiferença ao crescente descontentamento dos fiéis, preocupação de auto-engrandecimento, ilusão de status invulnerável – caracterizam aspectos persistentes da insensatez”.
Impossível não associar essa lição ao que vimos nesta quinta-feira no Congresso, que se recusou a cassar um deputado condenado pelo STF e preso. Natan Donadon vai algemado, no camburão, direto para a cadeia, mas com seu cargo de deputado intacto. Um deputado encarcerado!
Até onde vai o descaso com a opinião pública? Até onde vai o corporativismo daqueles que deveriam nos representar? Até onde vai o escárnio com a decência? Julgam-se inatingíveis, acima de todos, do bem e do mal?
Até o dia em que essa marcha da insensatez acabar com a farra deles. Poucas coisas são tão perigosas para a democracia como um Congresso totalmente desmoralizado e sem credibilidade alguma. Os nossos políticos, eleitos pelo próprio povo, estão abusando da sorte e da paciência dos “súditos”. Resta saber até quando isso pode durar.
30 de agosto de 2013
Rodrigo Constantino
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