Donadon e os execráveis
“Com o episódio de ontem (quarta-feira), o povo tem o direito de execrar esta Casa”, disse o ex-senador Amir Lando (PMDB-RO), ao tomar posse ontem como suplente de Natan Donadon (ex-PMDB-RO), referindo-se à votação secreta que livrou o deputado presidiário da cassação do mandato.
O verbo usado por Lando é forte, mas preciso. Sendo culto e de circulação restrita, porém, merece alguns esclarecimentos.
Execrar é uma palavra que o português foi buscar ainda no século XVI no latim exsecrare. Seu sentido é eloquente: “amaldiçoar, detestar, ter horror de”, registra o dicionário latino Saraiva; “ter ódio, aversão ou abominação a; amaldiçoar, detestar; desejar sofrimento, infelicidade ou mal a”, diz o Houaiss; “detestar, abominar, amaldiçoar”, confirma o Aurélio.
A origem de exsecrare ajuda a compreender sua força. A palavra surgiu da união do prefixo ex- – que indica movimento para fora, retirada, saída – com o verbo sacrare, isto é, “sagrar, consagrar”.
Em sua pureza etimológica, execrar era retirar do território do sagrado.
O execrado era aquele que, traindo os votos sagrados, caía em desgraça e estava além de qualquer possibilidade de salvação. E não é por acaso que a palavra voto veio parar aqui.
Execrar, como se vê, é mais do que simplesmente sentir aversão ou desprezo por alguma coisa: é odiá-la ativamente, desejar seu mal, o ponto mais extremo da curva do malquerer.
Segundo o homem que entrou na vaga de Donadon, isso é algo que os cidadãos de bem, que já desconfiavam dos políticos há tempos, estão justificados em sentir depois do despautério de quarta-feira.
Parece que acertou na escolha vocabular.
30 de agosto de 2013
Veja
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