Economia deve marcar fala de Obama em evento sobre Martin Luther King
Primeiro presidente negro dos EUA vai discursar no mesmo local em que pastor fez o histórico pronunciamento "Eu tenho um sonho...", há cinquenta anos
O pastor Martin Luther King, durante o célebre discurso em Washington (AFP PHOTO/FILES)
Em meio a questões delicadas, como a crise na Síria e o vazamento de informações secretas sobre operações de espionagem, Barack Obama reservará uma parte de sua agenda nesta quarta-feira para discursar em frente ao Memorial de Lincoln, em Washington, no evento dos 50 anos do célebre discurso “Eu tenho um sonho...”, do pastor Martin Luther King Jr. Na condição de primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos, Obama deverá fazer um discurso calcado na economia. Na homenagem a Luther King, o democrata estará acompanhado dos ex-presidentes Jimmy Carter e Bill Clinton.
Obama já abordou a questão nos últimos dias. Na Universidade Binghamton, em Vestal Nova York, o presidente disse que o legado de discriminação nos EUA é uma desigualdade persistente entre negros e brancos. Acrescentou que a busca por igualdade hoje atinge também hispânicos, imigrantes, gays e outras minorias que cada vez mais têm peso no eleitorado americano. Em uma entrevista a um programa americano no início desta semana, lembrou que o discurso do pacifista, em 28 de agosto de 1963, também foi sobre empregos e justiça e que, quando se fala em economia, os Estados Unidos “não conseguiram mesmo progresso visto nas áreas civil e social”.
“King e Obama, nascidos com 32 anos de diferença, aprenderam que um líder afro-americano precisa ligar à questão da igualdade racial a causa mais ampla da justiça econômica, que inclui brancos, classe média e trabalhadores para evitar o fracasso, a revolta e a marginalização”, analisou o site americano Politico. “Para Obama, a economia é uma forma segura de falar sobre raça”, disse ao site o historiador Taylor Branch, autor de uma série sobre o movimento de direitos civis no período Martin Luther King.
O texto afirma ainda que Obama tem se mostrado mais à vontade para falar de questões raciais de um ponto de vista pessoal agora que não terá mais uma corrida eleitoral pela frente. Pode até ser, mas os objetivos políticos estão presentes, como no pronunciamento feito no mês passado sobre a morte do jovem negro Trayvon Martin. Em sua fala, Obama fez referência a experiências pessoais de discriminação e falou em um “histórico de disparidades raciais na aplicação das leis” nos EUA. Ele falou dias depois da absolvição do vigia comunitário George Zimmerman, em um julgamento legítimo realizado na Flórida.
Obama já havia citado Martin Luther King em seu discurso de posse, no dia 21 de janeiro, feriado nacional em homenagem ao líder negro. Desta vez, ele deverá ligar as esperanças do pacifista com conquistas de seu governo e com objetivos de seu segundo mandato, que inclui questões complicadas, como a reforma imigratória, a taxação maior para os mais ricos, a redução dos custos do ensino superior para os estudantes.
Será uma oportunidade para o democrata apresentar uma agenda positiva, diante dos escândalos que marcam esse início de segundo mandato, um leque que vai da manipulação de informações sobre a ameaça terrorista na Líbia – onde um ataque ao consulado em Bengasi deixou quatro funcionários americanos mortos – à perseguição do Fisco a opositores do governo, passando pela perseguição a jornalistas e a divulgação de informações sobre o abrangente esquema de vigilância de cidadãos pelos Estados Unidos.
Evento – Há cinquenta anos, 250 000 pessoas foram a Washington acompanharam as palavras de King e de outros oradores que falaram sobre a situação racial e social do país. Milhões de outras pessoas acompanharam o evento pela televisão. King, então com 34 anos, foi o último a faltar naquele dia. Seu discurso, distante da visão revanchista de outros ativistas da época e carregado com um forte tom cristão – que havia sido aperfeiçoado em púlpitos de igrejas batistas do sul dos EUA – pedia conciliação, esperança e, sobretudo, justiça.
Incluía algumas das frases que ficaram gravadas na história: "Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se levantará e tornará real o verdadeiro significado de seus princípios: 'acreditamos que estas verdades são evidentes: que todos os homens são criados iguais'". E ainda: “tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter”.
No ano seguinte ao discurso, 1964, a segregação oficial em escolas e locais públicos nos EUA foi finalmente banida com a aprovação do Ato dos Direitos Civis, que havia sido enviado pelo presidente John Kennedy ao Congresso ainda em 1963, a culminação de mais de uma década de luta por igualdade.
A contribuição de King foi reconhecida no mesmo ano, quando ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz – aos 35 anos, King tornou-se o mais jovem a receber o prêmio. Quatro anos depois, ele seria assassinado.
Os negros representam 14,2% da população dos Estados Unidos. Entre eles, o desemprego chegou a 12,6%, em julho, o dobro da média nacional. Já a renda média de uma família negra equivale a dois terços da renda geral. O nível de pobreza dos negros, apesar de ter caído nos últimos 50 anos, passando de 41,8% para 27,6%, continua sendo muito maior do que a média geral, que é de aproximadamente 15%.
28 de agosto de 2013
Veja
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