A condenação do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional de Porto Alegre fortalece ainda mais a Operação Lava-Jato e consolida as decisões do Poder Judiciário. Além da repercussão enorme da decisão de quarta-feira, o principal reflexo do fato foi a perspectiva de muitos outros acusados serem condenados e terem de cumprir as sentenças de que estão sendo alvos. Todos os acontecimentos possuem reflexos inevitáveis. Na política, na administração, na vida é eternamente assim.
No fundo das questões, estamos sempre, com nossas atitudes, respondendo a alguém ou a alguma coisa. Às vezes estamos respondendo a nós mesmos, procurando resgatar nossas falhas ou omissões. O Poder Judiciário representa, no caso Lula, no caso Geddel, no caso Rocha Loures e em tantos outros processos, a sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, indo ao encontro da verdade e do sentimento coletivo.
FAZER JUSTIÇA – Não se trata de vingança, trata-se de justiça. Imparcial pode não existir ninguém, mas todos nós temos a obrigação de sermos justos. É impossível agradar a todos, mas isso não quer dizer que se possa desagradar a todos, na tentativa de escapar de conceitos e desfechos que nos incomodam.
O povo brasileiro, principalmente a partir do mensalão de 2005 e do petrolão de 2014, foi atingido duramente por decepções que se seguiram daí em diante. A corrupção, antes episódica, transformou-se em sistemática e até hierarquizada, com a divisão de diretorias da Petrobrás em capitanias políticas operando na sombra da economia nacional. O resultado foi um desastre absoluto produzindo uma mancha enorme no Brasil e na consciência brasileira, mancha que começou a ser limpa a partir da Operação Lava-Jato.
LONGE DO DESFECHO – O processo continua nas escalas judiciais e pelo visto encontra-se distante de seu desfecho final. Há etapas pela frente, consequências da condenação de Lula da Silva, consequências também da definição quanto as acusações que pairam em torno do governo Michel Temer e de sua equipe do Palácio do Planalto.
Um dos reflexos do episódio de quarta-feira certamente ocorrerá no Supremo Tribunal Federal quanto à concessão de habeas corpus que tanto sensibilizam a opinião pública, em determinadas situações até causando revolta. Com a decisão do TRF4 parece superado o capítulo dos processos criminais caminharem para a prescrição, com os réus usando a seu favor o sopro do esquecimento. O Tribunal Regional Federal de Porto Alegre proporcionou um exemplo ao país, exemplo de que ninguém pode se sentir acima da lei e que pessoa alguma pode se julgar imune às ações judiciais.
FIGURAS CORRUPTAS – Citei no título Gedel Vieira Lima e Rocha Loures, figuras emblemáticas e marcadas por serem elos de uma engrenagem corrupta. Essa engrenagem apresenta grande número de atores no palco iluminado pela conquista da riqueza ilegal. Riqueza que sai do bolso da própria população, porque ninguém se iluda: as gigantescas comissões pagas por empresas e empresários a políticos e administradores públicos não saíram de seus bolsos e sim tiveram origem no superfaturamento de contratos entre o sistema empresarial e a economia brasileira. Os valores dos esquemas de suborno incentivado e mutuamente consentido foram transferidos à conta sempre deficitária da população do país. Reembolsos podem estar ocorrendo e ocorrer.
Mas haverá sempre uma diferença enorme entre o lado dos ladrões e o lado dos que trabalham por salário neste país.
Para finalizar uma pergunta se impõe: como ficará a viagem de Lula à Etiópia anunciada por ele para hoje?
26 de janeiro de 2018
Pedro do Coutto
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