A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por 3 a 0 no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) nesta quarta-feira, dia 24, deve trazer mais percalços para os planos eleitorais do PT em 2018. O partido terá que lidar com o afastamento de aliados históricos, como o PCdoB, que tendem a optar por candidaturas próprias em vez de esperar como a situação jurídica de Lula vai se resolver.
Além disso, a legenda terá que enfrentar o risco de Lula ter a prisão decretada mais cedo do que o esperado, já que a decisão unânime dos desembargadores reduz o número de recursos a que a defesa terá direito na segunda instância.
CANDIDATURA – Enquanto a sigla mantém, oficialmente, o discurso de que Lula será o candidato petista à Presidência da República, dirigentes que antes nem aceitavam falar sobre o risco de o ex-presidente ir parar a cadeia, já reconheciam, no fim da tarde da última quarta-feira, que essa hipótese passou a ser real. Mesmo diante do cenário mais adverso, o PT reafirmará nesta quinta-feira, dia 25, numa reunião em São Paulo com a presença de suas principais lideranças, a candidatura de Lula.
Também será anunciado um calendário de debates sobre o programa de governo a ser adotado pelo petista na disputa. O objetivo é tentar dar ares de normalidade para o processo, apesar do resultado adverso do julgamento de Porto Alegre. Dentro dessa linha, o ex-presidente quer manter as caravanas e pretende iniciar um novo giro pelo próprio Rio Grande do Sul, no final de fevereiro. A cidade escolhida para a abrir a nova caravana é São Borja, terra de Getúlio Vargas no interior do estado.
ALIANÇAS – Lula terá que enfrentar, porém, o desafio da costura de alianças. A se confirmar o cenário de fuga dos aliados, pela primeira vez ele tem risco real de entrar numa disputa presidencial sem nenhum outro partido ao lado. Com a manutenção da condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro e o aumento da pena para 12 anos e um mês de prisão, devem ser consolidadas candidaturas próprias de antigos aliados do PT. O PCdoB já lançou o nome da deputada Manuela d’Ávila, enquanto Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), estuda convite do PSOL para também disputar a eleição presidencial.
“É claro que com os 3 a 0 muita gente pode decidir seguir outro rumo. Mas nós no PT não podemos pensar assim “, afirma um cacique petista. Mesmo com a condenação, o plano de levar a candidatura de Lula até as últimas consequências, por enquanto, ainda não sofreu abalos dentro da legenda. Integrantes de diferentes correntes internas têm defendido essa estratégia.
Crítico do grupo que comanda a legenda, o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro defende que o PT “esgote todas as possibilidades políticas e jurídicas”. “Na impossibilidade absoluta da participação de Lula, o PT e as demais forças politicas de esquerda vão ter que se reunir e escolher outro candidato”, afirmou.
ENFRENTAMENTO – O partido também deve apostar no enfrentamento político da Lava-Jato. Em nota intitulada “Não nos rendemos diante da injustiça. Lula é candidato”, o PT afirma que o julgamento de Lula foi uma “farsa judicial”, com “votos claramente combinados dos três desembargadores”. O partido afirma que a condenação do ex-presidente confirma o “engajamento político-partidário de setores do sistema judicial, orquestrado pela Rede Globo, com o objetivo de tirar Lula do processo eleitoral”. Em nota, o Grupo Globo afirmou que “a menção à Rede Globo na nota do Partido dos Trabalhadores merece só uma resposta: é desrespeitosa, despropositada e fora da realidade.”
Na noite de quarta-feira, dia 24, Lula discursou para manifestantes na Praça da República, em São Paulo. Ele se comparou a Tiradentes e ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela para atribuir a confirmação de sua condenação por corrupção na Lava-Jato ao descontentamento de parcela da sociedade com conquistas sociais de seu governo. “O ser humano pode ser preso. Mandela ficou preso 27 anos. E nem por isso a luta que ele fazia diminuiu. Ele voltou e virou presidente da África do Sul”, lembrou Lula.
COESÃO – Dizendo que não esperava outro posicionamento dos desembargadores do TRF-4 e que sua sentença era resultado de “mentiras”, ele defendeu a união das esquerdas nas eleições de outubro e voltou a afirmar que quer ser candidato a um terceiro mandato. “Eu me disporia a ficar com os três juízes um dia inteiro. Quero que eles peçam desculpas pela quantidade de mentiras que eles estão contando contra mim já faz quatro anos”, disse o ex-presidente.
26 de janeiro de 2018
Sergio Roxo
Thiago Herdy
O Globo
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