Mais que quaisquer dos muitos problemas enfrentados pelo Brasil, a maturidade das inovações tecnológicas que já afrontam mundo afora empresas de todo tamanho e impactam a ordem política e o cotidiano das pessoas não é apenas mais um, mas um dos nossos maiores desafios.
A ruptura de velhos paradigmas fervilha nos EUA, na China, na Índia, em parte da Europa e nos pegou de calças curtas, agarrados a um sistema produtivo sem dinamismo para enfrentar a concorrência externa e com a educação, celeiro das inovações, despreparada para formar o que se requer.
É impossível ficar indiferente às inovações disruptivas no mundo, que levam a modelos de negócios ágeis e flexíveis. Elas chegam aos poucos, como chegaram a internet e as redes sociais. Quando nos demos conta, já estávamos todos conectados.
Tal fenômeno se repete dos transportes aos serviços bancários, da medicina à geração de energia; do agronegócio ao ensino à distância. Até moedas convencionais enfrentam rivais. São as criptomoedas, em que o bitcoin é a mais conhecida.
Essa questão se impõe ao Brasil, que continua travado por debates econômicos e políticos que já deveriam estar superados, sobretudo diante de movimentos a passos céleres das duas potências tecnológicas (EUA e China) e de vários países emergentes.
O "America First" do governo Trump concorre com o "Made in China 2025", programa do líder Xi Jinping para as empresas chinesas alcançarem liderança mundial em manufatura inteligente, robótica e semicondutores. A capacidade de criar artefatos providos de inteligência artificial é o que está em disputa.
Onde estamos nessa corrida? Não há nada sistemático em formulação, à exceção de esforços isolados. No geral, paira a incômoda sensação de que os governantes nem sabem do que se trata. É temerário. Nesse novo mundo não há "direito adquirido". Tudo é virado do avesso.
Não se fala mais se, mas sim quando, por exemplo, o carro elétrico substituirá o motor a combustão, enquanto ainda discutimos um plano de incentivo ao setor automotivo baseado em combustíveis convencionais.
Petroleiras, como a Shell, parecem antecipar-se ao fim do reinado do petróleo, atacado pela energia eólica e solar e pelo anúncio em série de veículos elétricos por Volkswagen, BMW, Renault. A Shell vem instalando pontos de recarga de baterias em postos na Europa.
Os bancos centrais também estão perplexos com a popularização das moedas digitais emitidas por softwares e distribuídas por uma rede difusa de computadores, que atestam e validam as operações. Chamada blockchain, a inovação é um repto às bases de dados centralizados.
Mais: milhares de fintechs despontam no mundo disputando o mercado de crédito e de capitais com os bancos, que se veem forçados a se reinventar para evitar o que a Apple fez com a indústria do disco. E as câmeras digitais, com as máquinas fotográficas analógicas.
Tudo é recente e avança com rapidez e mesmo à revelia de governos, desafiando fronteiras geográficas e o mercado de trabalho.
Estudo da McKinsey estima em 40% os empregos ameaçados pela automação. A consultoria International Data Corporation, IDC, prevê que em 2020 mais de 75% do valor das empresas nos EUA virá de ativos intangíveis como plataformas digitais.
É a economia dos algoritmos emergindo. Incerto é apenas o alcance das transformações. Não há tempo a perder.
A nova onda do progresso passa por inteligência artificial, modelos de negócios inovadores e tecnologias conexas —e nós, no Brasil, nem começamos a discutir por onde começar.
26 de janeiro dee 2018
Pedro Luiz Passos, Folha de SP
A ruptura de velhos paradigmas fervilha nos EUA, na China, na Índia, em parte da Europa e nos pegou de calças curtas, agarrados a um sistema produtivo sem dinamismo para enfrentar a concorrência externa e com a educação, celeiro das inovações, despreparada para formar o que se requer.
É impossível ficar indiferente às inovações disruptivas no mundo, que levam a modelos de negócios ágeis e flexíveis. Elas chegam aos poucos, como chegaram a internet e as redes sociais. Quando nos demos conta, já estávamos todos conectados.
Tal fenômeno se repete dos transportes aos serviços bancários, da medicina à geração de energia; do agronegócio ao ensino à distância. Até moedas convencionais enfrentam rivais. São as criptomoedas, em que o bitcoin é a mais conhecida.
Essa questão se impõe ao Brasil, que continua travado por debates econômicos e políticos que já deveriam estar superados, sobretudo diante de movimentos a passos céleres das duas potências tecnológicas (EUA e China) e de vários países emergentes.
O "America First" do governo Trump concorre com o "Made in China 2025", programa do líder Xi Jinping para as empresas chinesas alcançarem liderança mundial em manufatura inteligente, robótica e semicondutores. A capacidade de criar artefatos providos de inteligência artificial é o que está em disputa.
Onde estamos nessa corrida? Não há nada sistemático em formulação, à exceção de esforços isolados. No geral, paira a incômoda sensação de que os governantes nem sabem do que se trata. É temerário. Nesse novo mundo não há "direito adquirido". Tudo é virado do avesso.
Não se fala mais se, mas sim quando, por exemplo, o carro elétrico substituirá o motor a combustão, enquanto ainda discutimos um plano de incentivo ao setor automotivo baseado em combustíveis convencionais.
Petroleiras, como a Shell, parecem antecipar-se ao fim do reinado do petróleo, atacado pela energia eólica e solar e pelo anúncio em série de veículos elétricos por Volkswagen, BMW, Renault. A Shell vem instalando pontos de recarga de baterias em postos na Europa.
Os bancos centrais também estão perplexos com a popularização das moedas digitais emitidas por softwares e distribuídas por uma rede difusa de computadores, que atestam e validam as operações. Chamada blockchain, a inovação é um repto às bases de dados centralizados.
Mais: milhares de fintechs despontam no mundo disputando o mercado de crédito e de capitais com os bancos, que se veem forçados a se reinventar para evitar o que a Apple fez com a indústria do disco. E as câmeras digitais, com as máquinas fotográficas analógicas.
Tudo é recente e avança com rapidez e mesmo à revelia de governos, desafiando fronteiras geográficas e o mercado de trabalho.
Estudo da McKinsey estima em 40% os empregos ameaçados pela automação. A consultoria International Data Corporation, IDC, prevê que em 2020 mais de 75% do valor das empresas nos EUA virá de ativos intangíveis como plataformas digitais.
É a economia dos algoritmos emergindo. Incerto é apenas o alcance das transformações. Não há tempo a perder.
A nova onda do progresso passa por inteligência artificial, modelos de negócios inovadores e tecnologias conexas —e nós, no Brasil, nem começamos a discutir por onde começar.
26 de janeiro dee 2018
Pedro Luiz Passos, Folha de SP
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